Capítulo 5

882 74 2
                                    

Eu mordi as bochechas olhando ele tirar a jaqueta e passar para atrás do balcão, os homens que o acompanhavam se espalharam e passaram para dentro de uma porta no fundo do bar. As tatuagens corriam por toda a pele até a base do queixo, os olhos verdes me evitaram até o copo raso de uísque ser preenchido com os famosos dois dedos de líquido.

— Tio Dan? — A sobrancelha dele se ergueu enquanto o líquido âmbar sumia dentro dos lábios dele.

— Daniel e não te conheço para ter esse tipo de interação, combinei com sua mãe de apenas ficar de olho em você, mas parece que isso não vai ser o suficiente.

Eu o olhei surpresa, nunca na minha vida cheguei a imaginar que ele fosse dessa maneira, um ogro imbecil. Dei de ombros e me virei para sair da espelunca que ele deveria chamar de bar, até que mais homens entraram e jogaram a minha bolsa com alguns dos meus pertences na mesa mais próxima.

— Que porra é essa? — Questionei e nenhum dos homens respondeu.

Todos eles foram para a mesma porta que os outros entraram anteriormente, meu sangue fervia, não mais por medo e sim por ódio.

— Essa porra sou eu tentando não arranjar mais problemas para a minha cabeça, é simples. Agora entre por aquela porta e siga o corredor na parte superior da casa, coloque suas coisas no quarto de hóspedes na porta a direita. Não acho que isso seja difícil de entender, então siga minhas instruções e evite problemas para mim e futuramente para você, não sou paciente e não ligo a mínima para o que você faz. Me poupe dos seus problemas e sonhos. Mexa sua bunda de pirralha para o quarto e ligue para a bastarda da sua mãe antes que eu precise quebar a porra do meu telefone para evitar que ela tente me contatar outra vez.

— Foda-se o que você acha, quem deu liberdade para entrarem no meu quarto de hotel e mexer nas minhas coisas? — Ele não respondeu, encheu novamente o copo e o engoliu de uma vez só.

Fui ignorada, como se não tivesse idade suficiente para estar numa cidade sozinha e isso me fez rir alto, agora eu entendia de onde vinha toda a merda protetiva da minha mãe. Essa porcaria era de família.

Girei nos calcanhares e coloquei meus pertences na bolsa, verifiquei se a minha carteira e todo o resto estava como eu havia deixado, então coloquei o dinheiro que eu apostaria junto.

Dei a volta na mesa e saí do bar, eu não iria passar por isso, não nessa maldita cidade.

Caminhei esperando que eu estivesse indo pelo caminho certo, já que me lembrava vagamente das curvas que a moto fez ao vir para cá.

Nunca precisei de ninguém, nem mesmo da minha mãe quando decidi morar sozinha e viver a minha vida, não seria agora que um parente que eu não conhecia iria ter esse privilégio.

Ele não me seguiu e isso me fez suspirar em alívio, iria simplesmente fingir que isso nunca existiu e ligar para aquela mulher surtada que se dizia ser minha mãe.

O hotel foi fácil de encontrar e ao entrar na recepção e tentar passar para dentro dos quartos eu fui barrada, o check-out havia sido feito e minhas coisas retiradas. A noite foi paga e não havia nada que eu pudesse fazer para reabrir minha reserva, pois como ela havia dito, o quarto já tinha sido alugado.

Meu corpo tremia a cada passo que eu dava na direção de outros hotéis, nenhum deles me aceitava após a entrega do meu documento. Eu perdi a linha e bati o pé novamente em direção ao bar, parecia que todos ao redor das poucas ruas que eu conhecia estavam me rejeitando.

Isso só podia ser uma piada de mal gosto.

O caminho foi fácil de refazer, e as portas continuavam abertas da mesma forma de quando saí. Meus músculos doíam pela raiva acumulada e por toda a noite que não consegui pregar os olhos.

Eu estava exausta e ainda precisava treinar mais tarde.

— Então a cordeirinha achou o caminho de volta para casa... — Ele debochou com um pano branco sobre o ombro.

Eu joguei a bolsa em cima da mesa e cruzei os braços sem me aproximar mais do que eu achava confortável, ele continuou secando os copos e voltou a ignorar a minha presença ali.

— Eu quero a reserva do meu hotel de volta, que diabos pensa que é para retirar algo de mim sem meu consentimento?

Ele continuou me ignorando, isso me fez rir com escárnio agora eu sabia do porque ele se afastou de toda a família, maldito. Não passava de um cara de meia idade imbecil e arrogante.

— Entre por aquela porta e faça o que mandei, não vou repetir. Você não me parece ser tão burra a ponto de esquecer o que eu disse, arrume suas coisas e durma.

Eu não respondi, o bar tinha apenas uma porta e foi na direção dela que eu caminhei. Irritada por ele ter a mesma teimosia que a minha mãe.

Abri a porta e um estacionamento tomou minha visão, na verdade, parecia mais ser uma oficina. O chão sujo de graxa e os homens que o acompanharam no meu sequestro estavam ali, trabalhando em alguns carros e motos juntamente com os que trouxeram minhas coisas sem a minha permissão.

Sinceramente, eu deveria chamar a polícia.

Eu abri os lábios para perguntar onde era a merda da casa daquele ogro imbecil, mas antes que eu pudesse permitir que algum som rompesse a minha garganta, um dos homens passou por mim e apontou a direção com uma chave de roda.

Eu dei de ombros, se não se deram o trabalho de falar comigo como uma pessoa normal, eu não agradeceria e pouco me importava com quem quer que fossem.

Segui na direção indicada, a porta de entrada do que parecia ser a casa dele era uma porta-balcão de madeira, larga e aberta para dentro da sala.

Me surpreendi por não ser um lugar sujo com garrafas de cerveja espalhadas pelos cantos, era tão limpo quanto organizado. Continuei meu caminho em direção às escadas e subi, o corredor largo tinha exatamente quatro portas. Uma que deveria ser o quarto dele à esquerda, mais uma do mesmo lado e duas do lado direito com uma janela no fim do corredor.

Abri a primeira porta do lado direito e o primeiro quarto era na verdade um escritório, então o fechei sem olhar demais e segui para a próxima porta.

Ele não parecia bem um pouco manter esse tipo de casa.

Era a única coisa que eu conseguia pensar enquanto olhava para o quarto coberto pela cor creme e os móveis escuros, aquele bar não deveria conseguir bancar uma casa como essa.

Mordi o lábio e entrei fechando a porta atrás de mim, eu odiava depender das pessoas e isso era fácil de entender. O fato de que teria que ter um mês debaixo dos olhos de um parente estranho era uma merda, pior ainda por ser uma adulta e não conseguir ser tratada como uma.

Coloquei a bolsa em cima da cama de casal e soltei meus cabelos que nesse momento, só estava fazendo minha cabeça doer.

Quando foi que perdi todas as regalias de ter a porra de uma vida adulta?

ESTRANHOOnde histórias criam vida. Descubra agora