Daniel parecia incrédulo, não só pelo fato de que eu e Ren estávamos nus, nem mesmo por ter nos flagrado em meio a carícias que sequer deveriam existir.
Ele não parecia querer entender o que eu tinha acabado de dizer e isso seria um problema.
Eu entendia o peso do que eu disse e também entendia o peso das palavras que ele usou para dizer que se importava comigo.
Não era amor o que vinha dele e eu sabia disso, cada maldito sentimento e desejo que ele tinha não passavam de emoções geradas por sensações. Agora era fácil ver tudo isso e pesar o que realmente me faria bem.
Ren se levantou de cima dele e foi rápido ao me alcançar, prendeu meu corpo entre ele e a parede enquanto Daniel se levantava do chão.
Eu estava sendo protegida por Ren da única pessoa que me fez sentir viva em toda a minha vida, o que nem mesmo o boxe tinha me feito sentir.
Mas eu precisava de algo real e que não me faria ter que percorrer caminhos e passar por dores que realmente não eram necessárias.
Eu o amava, isso era mais do que um fato e agora eu sentia transbordar pela minha pele. Eu amava cada maldito pedaço de dele e jamais sentiria algo nessa proporção por outra pessoa, eu sabia disso, mas eu não teria outro momento para acabar com isso e me desiludir desse amor platônico por um homem que eu sequer deveria sentir algo.
— Ella... — Eu fechei os olhos quando a voz suplicante dele me golpeou, minhas pernas tremeram e se Ren não estivesse me pressionando contra a parede eu teria caído. — Eu preciso...
— Saia Daniel, ela não quer. Não ouviu o que ela mesma disse?
— Não se intrometa nisso. — Daniel apontou o dedo para o rosto de Ren.
Os cabelos dele estavam bagunçados e quase se soltando do elástico preto, me dando sempre a melhor visão do mundo e me mostrando que eu provavelmente cederia se eu estivesse sozinha.
— Vá embora Daniel. — Eu disse apertando os olhos, sentindo meu mundo desmoronar e cair em pedaços na minha frente. — Não podemos continuar com isso e você mais do que ninguém deveria saber disso.
Por um breve momento, vi um fiasco de dor passar pelos olhos verdes e um vislumbre de decepção tomar o rosto bonito e ligeiramente quadrado.
Daniel sentia a mesma dor que eu e por mais que eu quisesse nesse momento voltar no tempo e ter me impedido de dizer cada uma dessas malditas palavras, era o melhor a ser feito.
Eu não poderia suportar viver num mundo onde não éramos aceitos e saber que nossa familia provavelmente nos atacaria e nos retalharia constantemente, me dava forças para acabar com esse breve e complicado relacionamento com ele.
— Isso não pode acabar desse jeito. Ella, você precisa me escutar... — Daniel deu um passo em nossa direção e Ren me apertou ainda mais contra a parede para que Daniel não pudesse me alcançar.
O quarto agora estava abafado, o calor e a dor me consumiam incessantemente. Eu queria gritar e me livrar de Ren, mas Daniel não podia ser meu.
Não tínhamos essa opção.
— Não podemos ficar juntos e sabe disso. Agora saia, por favor.
Eu fechei os olhos tentando não ver o homem que eu finalmente aceitei que amava depois de tudo o que prometi a mim mesma ser destruído dentro de mim como pilares fracos.
— Isso nunca vai mudar o que sentimos, cordeirinha.
Poucos segundos depois ouvi a porta bater e Ren soltar meu corpo apenas para me segurar enquanto eu desabava nua no chão do quarto dele.
— Ella...
Eu neguei por dias, por semanas que não sentia nada e que não passaríamos de nenhum ponto critico. Eu fugi de Daniel e ele correu atrás de mim todas as vezes, me perseguiu como um animal e me capturou todas as vezes.
Agora ele tinha finalmente acatado as minhas palavras e eu não estava suportando isso.
— Ella, foi melhor assim. Sabe que não poderia ter nada com ele principalmente por causa da sua familia. Você só acabou com o que teria um fim ainda mais doloroso no futuro.
Eu queria quebrar cada maldito osso de Ren, cada dobra e encaixe que o fazia se manter firme na minha frente.
— Cale a maldita boca, ou eu farei com que não tenha casamento nenhum. — Grunhi enquanto ele me arrastava para a cama.
Me arrumei nos lençóis assim que meu corpo tocou o tecido frio, eu precisava de um tempo em silencio mesmo sabendo que Ren não calaria a boca de maneira alguma.
Daniel havia finalmente me deixado em paz e eu não estava pronta para essa maldita dor que rasgava meu peito sem pausa.
— Não importa o que diga ou o que faça agora Ella, eu estou aqui agora e não vou te deixar sozinha. Você agora é minha.
