Capítulo 39

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Yakato me encarava com olhos confusos e sua esposa parecia desacreditada, senti uma fagulha de vitória. Passei os olhos pela minha mãe e ela tinha os olhos arregalados, mas nada pagaria a irritação que meu pai sentia nesse momento.

— Que merda você pensa que está fazendo, Ella? — Ele explodiu enquanto todos ali estavam tão surpresos que não conseguiam dizer absolutamente nada.

No entanto, mesmo que essa gritaria tivesse começado, Ren começou a rir. Foi alto e literalmente contagiante.

— Do que você está rindo? Não viu o que sua noiva está tentando fazer? — Eu não consegui segurar o sorriso e ri junto.

— Escute, se minha noiva quer o Monte Fuji... — Ren suspirou e se moveu para cruzar as pernas para o outro lado. — Eu também quero e acho bom correrem atrás dos preparativos se querem que o acordo dê certo.

Eu precisei me esforçar muito para não arregalar os olhos e olhar boquiaberta para Ren, não imaginava que ele entraria no meu jogo dessa forma. Ele estava me ajudando com uma vingança e nada pagava os olhos enfurecidos e concentrados de Yakato.

— Está brincando comigo, Ren?

— Não.

Forcei meu rosto a esconder o sorriso de vitória enquanto Yakato balançava a cabeça negativamente.

— Não há a possibilidade de conseguirmos tudo em apenas uma semana!

Eu suspirei me sentindo mais corajosa e mais poderosa do que eu já estive dentro dessa casa e olhei para Ren.

Ele se levantou e colocou as mãos nos bolsos, com um sorriso sério nos lábios ele curvou levemente o corpo e voltou a se endireitar.

— Foi um ótimo fim de semana, Yakato. Se não se importa, voltarei para a minha casa e procurarei outra empresa para depositar meu dinheiro.

— Yakato... — A esposa dele choramingou e eu aproveitei para sair com Ren, seria uma vitória para contar para Daniel.

— Esperem.

Olhei com preguiça para todos os envolvidos em pé na sala, como se não houvessem mais opções para manter o maldito jogo de poder.

— Já chega, se ela não tiver o que quer é obvio que não terão nada do meu dinheiro. Foi o suficiente não ter avisado ela sobre a união e isso me fez repensar sobre as minhas escolhas como empresa.

— Eu farei algumas ligações durante a tarde e farei com que aceitem o matrimônio de vocês num evento fechado.

O sangue saiu do meu corpo e se Ren não estivesse ao meu lado e me segurasse discretamente, eu teria desmaiado.

— Não é para mim que devem essa promessa, é para a mulher que prometeram para mim e estão tratando como um objeto. Se nada disso for mudado e o lugar que ela deseja o casamento não for arranjado, esqueçam o acordo. — Ren bateu o pé e me tirou da sala.

Eu estava sem ar, sem qualquer tipo de folego e Ren sorria como se tivesse feito a maior travessura da vida dele. Se parecia com um adolescente e se ele realmente tivesse a mesma idade de Daniel, talvez não fosse um cara tão ruim quanto eu pensava.

Então, depois que saímos da sala, Ren continuou me arrastando pelo corredor e saímos da lada de jantar, em seguida, para fora da casa. O jardim estava silencioso, sem os empregados e sem ninguém que pudesse ditar qualquer regra para mim.

Embora eu apreciasse o que Ren tinha feito por mim dentro da reunião com Yakato, ele não tinha o papel e muito menos a obrigação de me proteger, de me ajudar com o que quer que eu pretendesse fazer no momento.

— Por que fez isso? — Perguntei enquanto ele continuava pelo jardim dos fundos, me arrastando para dentro a pequena floresta que a família Sora tinha dentro da propriedade.

— Silêncio.

Mordi as bochechas e travei os punhos, eu simplesmente odiava esse tipo de mudança de comportamento.

— Me solte.

Ele suspirou e continuou me puxando para onde quer que fosse.

— Cale a boca, Ella e olhe a sua volta um pouco. Depois eu respondo essas merdas de perguntas que estão borbulhando na sua mente inquieta.

— Você é um maldito desgraçado... — Resmunguei esperando que ele chegasse logo onde queria.

Alguns minutos numa trilha de pedrinhas e cascalhos nos levaram para uma fonte, Ren soltou finalmente meu pulso e se estirou preguiçosamente em um dos bancos, eu uni as sobrancelhas para a cara de desentendido que ele fez e me sentei do outro lado. Ele riu apoiando as mãos atrás da cabeça e suspirou.

— Sabe, você ainda vai querer desesperadamente se sentar em cima de mim. Acredite, não estou falando isso para te irritar. — Ele sorriu e fechou os olhos. — E isso vai acontecer logo, muito antes de dizer sim para mim no Monte Fuji.

Eu respirei fundo ignorando tudo o que ele disse.

— Por que me ajudou?

— Porque eu gosto do seu temperamento, do jeito atrevido e inconsequente. Me faz lembrar de quando eu tinha a sua idade.

Uni as sobrancelhas, com tudo o que acontecia, era fácil me esquecer que Ren também deveria ter vinte anos a mais do que eu.

— Isso não responde a minha pergunta.

Ren se levantou demonstrando uma preguiça completamente indescritível e se sentou ao meu lado.

— Prometi que te protegeria e que seria seu centro, Ella, desde que usasse o que te dei. Isso prova que cumpro com a minha palavra. — Ele respirou fundo e tocou o pingente pendurado no meu pescoço. — E eu prometo que nunca vou te deixar esquecer disso.

Eu engoli o excesso de saliva, isso foi o suficiente para me estabilizar. Mas não consegui esconder a vermelhidão do meu rosto enquanto ele ainda observava o pingente que tinha me dado, tão perto, até demais.

— Agradeço a ajuda, mas sabe que sou completamente contra esse casamento. Independente da sua promessa, não vejo razões para me ajudar e não preciso que faça isso... — Ele cortou o meu discurso rindo.

Mas não foi qualquer risada, o som melodioso cresceu gradativamente enquanto ele mudava a direção do olhar.

— Eu não descumpro minhas promessas, linda... — Eu prendi o ar e busquei o acento mais longe que pude, no entanto, Ren seguiu meus movimentos e me apertou contra o apoio de mão retorcido em ferro. — E cá entre nós, eu cumpriria mesmo que não tivesse prometido nada.

E pela primeira vez eu não consegui ter reação, não consegui me afastar ou reagir à aproximação não concedida dele. Fiquei presa enquanto ele sustentava o olhar no meu e permaneci assim mesmo quando ele desviou para se concentrar na minha boca.

— Apenas um, Ella... — Ele murmurou. — Me deixe te beijar apenas uma vez e então você poderá decidir se me deixará chegar perto de você outra vez.

— Ren... pare. Eu não posso...

— Merda, esqueça ele por um minuto. Somos só nós dois e estou te pedindo antes que eu não tenha mais forças para me segurar, Ella. Apenas um beijo...

ESTRANHOWhere stories live. Discover now