Capitulo 26

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Fiquei sozinha no quarto por um tempo considerável, ninguém voltou para falar comigo, nem mesmo a minha mãe. Mas as vozes e a música suave voltaram a tocar e eu soube, nada faria com que Yakato mudasse de ideia em relação ao que dizia.

Eu não podia aceitar e não iria, minhas lutas oficiais aconteceriam no próximo fim de semana e se as coisas continuassem como estavam, eu duvidava que conseguiria sair do Japão antes que elas acontecessem.

Yakato estava tentando acabar com a minha vida, e ainda que Daniel não lutasse por sua liberdade como eu estava prestes a fazer, eu não poderia arrastá-lo para esse buraco comigo. Mesmo que ele escolhesse o mesmo que eu não poderíamos ficar juntos, não como casais normais. Seríamos excluídos por toda a família.

Suspirei arrasada, Daniel havia entrado mais na minha vida do que eu imaginava. Não era fácil me fazer pensar em um futuro com alguém, nem mesmo na possibilidade, mas ele estava fazendo isso comigo.

Eu precisava ser firme da mesma forma que fazia em casa, como quando decidi por vontade própria que a faculdade não era nada do que eu realmente queria para a minha vida, e Yakato precisava entender que não era nada meu para poder me forçar a fazer uma. Coisa que poderia me prender dessa maneira.

Arrumei o que restou da pouca maquiagem que Catrina tinha feito em meu rosto e coloquei novamente a fenda do vestido no lugar, eu era uma boxeadora, uma lutadora, eu não baixaria minha guarda por um Tio que se dizia querer cuidar de mim e por um avô que eu nunca conheci em toda a minha vida.

Precisavam entender que minha aparência não diminuía a minha idade e muito menos a minha liberdade de escolha, eu era adulta muito antes do que qualquer um ali podia imaginar, até mesmo Daniel.

Sai do quarto com o queixo erguido, a sala repleta de pessoas sorrindo e bebendo me fez ter ânsia. Como podiam compactuar com toda essa merda?

— Filha... — Ouvi a voz da minha mãe no fundo da sala, mas quando a vi, também vi meu pai segurando seu braço para que ela não se aproximasse de mim. Ela também não aceitava esse tipo de atitude.

— Ella? — Tensionei as costas ao ouvir a voz rouca atrás de mim, diferente das outras, mas também indiferente. — Este é o seu nome, não é?

Olhei para trás e um sorriso quase cínico me comprimento, Ren, eu presumi. Os olhos caracteristicamente puxados indicavam a sua conexão com a pureza do Japão, mas as roupas ignoravam os padrões que Yakato deveria adotar.

— Sim? — Ergui as sobrancelhas com desdém, não me daria ao trabalho de ser simpática com nenhum dos filhos da puta que compactuavam com essa festa ridícula.

— Sou...

— Ren, eu sei.

Ele sorriu, parecendo se animar com a minha falta de interesse.

— Bom, prefiro que saiba quem sou antes de darmos continuidade nos contratos da familia. Gostaria de beber comigo?

Eu sorri com escárnio não conseguindo acreditar que ele estava de acordo com o que Yakato estava fazendo.

— Está brincando comigo?

— Não estou, e quanto mais rápido aceitar que nenhum de nós dois tem escolha, mais fácil será aceitar que esse será apenas o primeiro dia que passaremos um olhando para a cara do outro e acredite, por mais que não seja como a senhorita quer, será benéfico para as nossas famílias.

Apertei as mãos em punhos olhando padrão par negro de ônix que Ren tinha atrás dos olhos puxados, esperei que ele bebesse o uísque que estava em seu copo antes de falar o que eu precisava.

— Não vou passar um dia sequer olhando para você, não aceitei esse acordo e não vou aceitar.
Ele sorriu ignorando a minha raiva e deu a resposta que me fez odiar cada mísero milímetro dessa família.

— Sua ingenuidade é adorável, ao menos acertei na minha escolha, Yakato só não tinha me avisado o quão arisca você poderia ser. E vou dizer um pouco mais, sobre o acordo, você não poderia fazer nada mesmo que a escolha fosse sua. Seu pai me deu você sob contrato e nenhuma autoridade do Japão pode interferir nas decisões das famílias antigas, o acordo irá unir cidades e poderes, você é minha agora.

Ele sorriu e se afastou, meus olhos encheram de lágrimas e a primeira pessoa que busquei foi Daniel, mas não havia nenhum sinal dele por perto e muito menos da mulher que tinha invadido a sala de jantar depois que todos já estavam sentados. Então, busquei olhos cínicos do meu pai, olhei para ele mostrando que o que ele tinha feito acabou com qualquer possibilidade de reconhecê-lo novamente com esse título,  eu jamais o perdoaria por isso.

Não tinha a quem recorrer, não nessa casa. Então voltei para o quarto e busquei o meu telefone na boba esperança de ter algo nele que também não deveria existir, uma mensagem de Daniel. E para a minha surpresa, feliz ou não, ele havia enchido a caixa de mensagens.

"Me espere acordada, irei até você nessa noite. Abra a porta apenas se ouvir três batidas lentas, me espere, cordeirinha."

Eu iria esperar, mesmo que essa festa não acabasse nunca, eu ficaria trancada no quarto até que ele viesse até mim e se ele quisesse fugir e me levar, não hesitaria em deixar tudo para trás.

Tranquei a porta e arranquei o vestido ridículo do meu corpo, precisava me abster de tudo e qualquer coisa relacionada a essa casa, esse acordo, essa vida. Em seguida corri para o banheiro e esfreguei a minha pele até que a sensação de ser usada passasse, o que demorou mais do que eu esperava.

Vesti uma das poucas roupas que eu tinha trago dentro da mala e me escondi debaixo das cobertas, havia tanta informação para digerir, que eu talvez não fosse capaz de fazer isso.

Eu tinha mesmo sido vendida? Ou esse jantar não passava de uma piada ruim?

Eu realmente não sabia responder, mas o pior foi passar hora após hora esperando as batidas de Daniel na minha porta e ele não aparecer.

ESTRANHOWhere stories live. Discover now