Capítulo 34

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Precisei usar todas as minhas táticas de defesa contra ele, fugindo de um golpe atrás do outro. Ren sabia boxe e o que me impressionou a ponto de me fazer esquecer todo o turbilhão de sentimentos que me dominava, foi que ele não hesitou em nenhum golpe, não me deu vantagem alguma por eu ser menor que ele ou apenas por ser uma mulher.

— Merda! — Berrei quando ele conseguiu acertar um gancho em minhas costelas, a dor irradiou por todo o meu abdômen e eu não consegui esconder o sorriso de excitação.

— Vamos, gatinha. Sei que você pode mais do que isso. — Desviei algumas vezes e finalmente consegui acertar o osso superior da bochecha esquerda dele.

— Você fala demais. — Reclamei e o acertei no lado esquerdo do queixo.

Ren sorriu malicioso e cuspiu no chão um pouco de sangue, ele provavelmente não estava preparado quando eu consegui finalmente socar a cara dele.

— É bom saber que você gosta mais de atitudes do que de conversa, assim vou poder saber como vou ligar com você durante os anos.

Mordi o lábio tentando não pensar demais, tentando não imaginar nada que não fosse a minha liberdade de voltar para casa e ter novamente as minhas coisas, de poder lutar sem ter que dar satisfação para ninguém. Sem Daniel...

Ren deu um passo para trás quando joguei meu corpo para cima dele e fui impedida pela merda do vestido que Catrina tinha trago para mim, parei onde estava e passei a unha sobre a fenda logo acima da minha coxa. Puxei o vestido e rasguei toda a área entre meus joelho e as coxas.

Fiquei com metade do vestido jogado no chão e finalmente me sentindo livre para voltar a lugar contra esse maldito oriental.

Me joguei novamente contra ele e enfim consegui chutar a parte superior das costelas dele, Ren grunhiu dando mais alguns passos para trás e acabou precisando se apoiar com as costas no monte de feno preso.

— Merda. — Ele ofegou e eu sorri esquecendo que era apenas uma luta de boxe.

Avancei novamente vendo os olhos escuros dele presos em mim como se pudesse me parar, acertei com a minha esquerda a outra costela dele e se ele não parasse de se proteger para segurar meus braços, eu teria batido ainda mais em cada maldito pedaço de pele dele.

— Me solta! — Não consegui segurar a minha raiva, bater nele estava trazendo para fora tudo o que senti nesses dias e eu estava precisando disso.

— Vai com calma. — Ele pediu, mas meu joelho conseguiu alcançar a boca do estomago dele e ele arfou sem ar.

Ren perdeu o equilíbrio que tinha escorado no feno e nos levou para o chão, foi uma queda horrorosa e dolorosa para os meus joelhos e se ele não permanecesse segurando meus braços, eu teria perdido alguns dentes no chão.

— Maldito miserável! — Me debati em cima dele, sentindo a pele do abdômen dele debaixo de mim e me fazendo ter consciência não só do meu corpo, mas do dele também. — Eu vou acabar com a merda da sua cara, me solte.

Ele não soltou e permaneceu em silencio enquanto eu me debatia com toda a força que ainda restava em meu corpo, na minha mente e na minha alma.

Era tão difícil aceitar tudo o que estava acontecendo, a prisão domiciliar que Yakato tinha me sujeitado, o casamento arranjado por benefícios a sua empresa e a traição de Daniel. Eu só queria destruir alguma coisa e Ren era o que estava mais próximo a mim nesse momento de raiva, eu queria fazer a cara dele escorrer em vermelho vivo até que o arrependimento batesse nas portas da minha mente.

Mas ele não deixou que eu batesse, nem que eu me levantasse ou que eu fizesse qualquer coisa que não fosse me sacudir por causa do puro ódio.

— Me solta!

— Não. — A resposta dele veio como um balde de agua fria, mas ao contrário do que ele disse, soltou meus pulsos para prender as mãos na minha cintura com a mesma força que fazia antes. — Pode me bater o quanto quiser, Ella, isso não vai mudar nenhum dos fatos e não vai fazer com que o que está sentindo desapareça, vai apenas amortecer. — Eu sentia meu peito subir e descer com força por causa dos meus batimentos desregulados e ele nem mesmo parecia ter começado a suar. — Você não pode voltar para casa, não pode ter seu tio e irá se casar comigo no fim dessa semana.

As palavras dele me acertaram com tanta força que bater nele já não era mais uma opção, meu corpo começou a tremer com tanta força que eu já não conseguia controlar. Ren se sentou empurrando meu corpo para as suas pernas e contra a minha luta falha me abraçou, me apertou entre os braços fortes e o peito descoberto.

O calor me atingiu e foi nesse momento que as lagrimas voltaram a cair, as mesmas que me perseguiram no silencio solitário do meu quarto. Deixei sair os sentimentos dolorosos que nunca deixei que ninguém visse, que ninguém tivesse a chance de presenciar sair por meus poros.

— Não... — Suspirei cansada, escondida num abraço que eu não conhecia.

Ele não era Daniel, não tinha o mesmo cheiro e a mesma força sobre mim. Não tinha me encantado com suas tatuagens ou com os piercings que tinha em seus mamilos, Ren era literalmente o oposto, com a pele lisa e os cabelos curtos e alinhados. Egocêntrico e sarcástico. Ele não era o que eu queria e nem tinha me acostumado a precisar.

Mas estava ali, me consolando de uma forma dura e eu não podia exigir mais do que isso. Não nos conhecíamos e não sentíamos nada um pelo outro, era uma aliança para Yakato e nada além de um troféu para Ren.

E a morte para mim.

Ele continuou com os braços presos ao meu redor, quente e firme até que meu corpo enfim estabilizou e o aperto se tornou apenas um abraço.

— Não posso prometer nada a você, Ella. Não pelo menos da mesma forma que Daniel tenha feito antes de virem para cá, mas posso prometer como seu noivo e futuro marido, ser seu centro, estar presente para que consiga expressar novamente toda essa raiva que sente. E mesmo que seja mais forte que qualquer mulher que eu conheça, posso prometer te proteger mesmo que você consiga se virar sozinha e resolver seus próprios problemas.

Eu respirei fundo fechando os olhos tentando conter o restante de lágrimas que tinham ainda para escorrer.

— Está se oferecendo para ser meu saco de pancadas?

Ele riu fazendo o peito tremer e irradiar para os meus ossos.

— Se quer colocar dessa forma.

— Sabe que eu odeio você e tudo o que está me fazendo passar, não é? E que na primeira oportunidade que eu tiver, irei acabar com a sua vida.

Ele deu de ombros sem me soltar.

— É para isso que serve a comunhão, não é?

Forcei meu corpo a se afastar dele e metade do que Catrina havia pintado no meu rosto havia borrado no peito dele, junto com o brilho do meu choro.

Puxei o restante de tecido rasgado que deixei no chão do seleiro e ignorei minhas sensações para limpar a bagunça que eu tinha feito, ele não tinha a obrigação de me amparar e eu não tinha o direito de usá-lo para isso.

— Me desculpe por isso. — Suspirei retirado a maquiagem dali. — Vai ser a primeira e a última vez que isso irá acontecer.

Ren segurou meu pulso um pouco antes que eu parasse de limpar a maquiagem de seu peito.

— Foi uma honra.

ESTRANHOTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang