Capítulo 49

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Daniel não estava brincando, assim que nossos corpos se recuperaram de matar a maldita saudade que sentíamos um do outro, ele me deu um beijo mais longo do que poderíamos nos permitir dentro da casa de Yakato e saiu.

Ele não me disse como conseguiríamos sair de dentro daquele maldito lugar, mas com tudo o que vinha acontecendo, eu não duvidava de suas palavras, pelo menos não dessa vez.

Me preparei com roupas que eu normalmente usava em casa depois de um longo banho, não me importei em pegar nada do que eu havia trazido comigo dentro da mala, eu queria me importar menos possível com tudo o que eu provavelmente deixaria para trás.

Enquanto eu colocava apenas meus documentos dentro do meu bolso um estrondo balançou as paredes da casa, foi tão rápido que quase não tive tempo de me esconder debaixo de algo sólido e resistente.

A gritaria veio logo em seguida como um estouro, algo havia acontecido e senti que eu deveria correr.

As mulheres que trabalhavam na casa e parte da segurança estavam desesperados indo em direção ao barulho que continuava explodindo, um estrondo após o outro chamando todos para os fundos da casa.

Ignorei com muito custo o meu nome sendo chamado no meio do alvoroço, era para casa estar em silêncio a esta hora e como os outros dias, todos estarem dormindo.

Então eu corri, parti pra a entrada da casa como se ninguém ali fosse importante o suficiente para me fazer ficar, como se meus pais também fossem parte da ignorante farsa que estavam criando, o que realmente eram.

O burburinho e gritaria aumentaram e eu me desesperei puxando a porta da frente enquanto ouvia meu nome ecoar de forma desesperada pelos cantos vazios.

E Daniel estava ali, parado na entrada da casa como minha única e particular rota de fuga, como um maldito e sexy cavaleiro negro em cima de uma moto me esperando.

Eu sorri percebendo que cada uma das palavras dele eram realmente verdadeiras e que me salvariam de uma união forçada com quem eu sequer conhecia, de um acordo que
Leu não tinha realmente aceitado.

— Ella! — Meus pelos arrepiaram com um pico de adrenalina quando meu nome ficou realmente compreensível. — Não faça isso!

Era tarde para pensar era tarde para me permitir rever minhas escolhas, principalmente por não conhecer Ren como realmente deveria antes de me entregar em um casamento.

Eu não olhei para trás quando desci as escadas da entrada principal da casa, fingi não ouvir os gritos de Ren tentando me alcançar e subi na garupa da moto.

Daniel respirou aliviado e me entregou o capacete antes de dar a partida e arrancar com a moto se esquecendo que não havia nada lá trás que nos fizesse sequer pensar em ficar.

Eu não tinha mais, meus pais não me protegeram quando eu realmente precisava e se voltaram para o dinheiro que meu avô poderia dar a eles, então eu não me importava mais.

Me apertei contra as costas de dele e vi aos poucos a silhueta de Ren ficando para trás, uma pontada acertou meu peito e me virei para frente assim que os seguranças de Yakato correram para fora a casa.

— Segure-se Ella! — Daniel falou alto em meio ao vento forte e a moto deitou no asfalto e derrapou para entrarmos em uma rua escura.
Haviam carros e homens parados no meio da avenida.

— Como? — Berrei me espremendo contra as costas dele enquanto terminávamos de atravessar o beco.

Daniel militou a moto entre as pessoas na calçada e seguiu na direção do aeroporto.

— Eu explodi a cozinha da casa, aqueles carros provavelmente estavam indo na direção da casa.

Eu engoli o excesso de saliva e tentei permanecer firme em cima daquela maldita moto.

Meu estômago embrulhou e tudo o que eu mais queria fazer era sumir desse maldito país e ir o mais longe possível da familia que eu sequer sentia vontade de chamar de minha.

Buzinas começaram a soar atrás de nós, fiquei tentada a olhar um pouco antes de deitarmos novamente para virarmos na próxima esquina. Estávamos correndo e agora, fugindo de diversos carros e motoristas furiosos atrás de nós.

— Daniel! — Ele xingou quando voltamos a correr em linha reta desviando vez ou outra de carros a nossa frente.

— Eu deveria ter previsto essa merda, mas que porra! — Ele quem gritou dessa vez e meu corpo entrou em pânico.

Poderíamos morrer se nossa atual situação fosse contra nós, se sequer cometêssemos alguma imprudência enquanto tentávamos fugir.

Daniel tentou despistar mais algumas vezes os carros atrás de nós e finalmente a perseguição diminuiu, atravessamos a cidade para conseguirmos escapar e a adrenalina que corria dentro das minhas veias agora, já não existiam mais.

Ele não diminuiu a velocidade e não deveria mesmo, poderíamos ser surpreendidos a qualquer momento e não queríamos isso. A liberdade era a única coisa que eu conseguia pensar nesse momento e ser frustrada pelos guardas de Yakato, arruinaria as nossas vidas.

Meu corpo começou a tremer quando percebi que não havia mais ninguém atrás de nós, minha pele queimava pelo desespero que senti a pouco tempo.

Foi então que me desequilibrei e o mundo pareceu girar ao meu redor, gritos e buzinas voltaram a tomar conta dos meus ouvidos incessantemente.

Não senti dor, ou qualquer outro tipo de sensação e quando me sentia girar por todo o caminho.

— Ella! — Daniel berrava e murmúrios agora ecoavam até mim. — Porra!

Ele continuou gritando mais algumas coisas, mas havia algo me puxando para baixo, um abraço morno, era como se eu não precisasse mais me importar com o que viria acontecer a partir de agora.

— Chame uma ambulância!

— Não!

— Senhor, ela precisa de um hospital!

Houve uma pausa intensamente demorada enquanto murmuravam ao meu redor.

— Não! Porra, ela só precisa de mim.

Foi aí que tudo realmente escureceu.

ESTRANHOWhere stories live. Discover now