Capítulo 6

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Acordei assustada, meu coração batia de uma forma quase dolorosa quando abri os olhos.

Eu havia me esquecido onde estava e a sensação de que havia algo errado deveria ter me acordado, era como quando eu precisava viajar de ônibus e acordava com algum outro passageiro, me olhando, me encarando como se houvesse algo de errado comigo.

Tentei repassar meus passos para chegar até ali, a discussão com a minha mãe, a viagem de ônibus, a discussão com o estranho do meu tio e o Flour.

— Merda... — Resmunguei passando as mãos no rosto, eu provavelmente havia perdido o primeiro dia de treinamento e isso acarretaria no meu desempenho futuramente.

E eu não poderia perder, era a chance da minha vida.

Dava para fazer um rápido treinamento no espaço do quarto, talvez usar algumas almofadas e travesseiros me dessem um pouco de ânimo.

Ao menos eu pude descansar, num quarto enorme e cheio de uma simplicidade que eu não encontrava na casa da minha mãe, talvez nem mesmo a do meu avô fosse assim. Na verdade, eu nunca tive o interesse de conhecê-lo e talvez isso me fizesse ser mais parecida com esse cara ignorante que havia me obrigado a dormir em sua casa, tirando a possibilidade de me cadastrar em algum hotel.

Respirei fundo tentando manter a raiva sob controle, por isso que a luta era também tão importante para mim. Neutralizava as minhas emoções e controlava os sentimentos ruins. Talvez por isso tenha se tornado parte da minha vida e por ter nascido de uma família mesclada, era importante que eu soubesse me regular para não levar todos a loucura comigo.

Minha vida toda ouvi meu avô dizer para a minha mãe por telefone que seu primeiro filho era um desgraçado que havia abandonado a família, que hoje em dia não deveria passar de um marginal. De um excluído pela sociedade e minha mãe, para manter a paz e o emprego que meu pai tanto amava debaixo das asas do meu avô, apenas concordava. Já era ruim demais ser a filha bastarda de uma família como a do meu avô e ainda ir contra seus argumentos preconceituosos, era ainda pior.

Olhei ao redor esperando que houvesse mais, eu não sabia o que eu realmente estava procurando. Mas contudo o que era falado sobre o cara que me raptou no início de uma possível luta já ganha, era difícil não esperar que ele fosse a escória da família Sora.

Me levantei e troquei rápido de roupa, por mais que eu lutasse e me vestisse como homem na maioria das vezes, não deixava de ser uma mulher e dormir com algo confortável para mim era indispensável, principalmente por ter que usar a faixa para proteger meus seios.

Então para dormir, eu não usava nada além de camisolas e pijamas que me deixassem livre, assim como eu também soltava o cabelo quando me sentia confortável.

Calcei os tênis com velocidade e mesmo sabendo que eu já não tinha mais tempo para fazer o treinamento no Flour eu precisava manter o ritmo então correria pelo quarteirão apenas para acelerar a circulação de sangue antes de socar os travesseiros até que não passassem de papéis, Daniel  que lute, eu não pedi para ficar em sua casa.

Contudo, algo me incomodou ao abrir a porta que eu jurava ter trancado antes de me deitar. Era um costume por passar tempo demais sozinha e mesmo na minha própria casa eu fazia esse tipo de ritual.

Respirei fundo e tentei ignorar, com a noite conturbada que eu tive, não duvidaria que todo o processo estivesse apenas na minha mente. Então puxei a maçaneta que estava apenas encostada na porta e saí, com a pouca coragem que eu ainda tinha.

Passei pela oficina que ficava de frente para a sala de estar e sai por ela mesmo, não me daria o trabalho de ficar dizendo onde e quando eu iria e mesmo que ele fosse meu pai, não lhe devia explicações.
Não era meu parente, sequer tinha visto seu rosto em fotos.

ESTRANHOWhere stories live. Discover now