Capítulo 20

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O treinamento foi mais do que satisfatório nessa tarde, estava renovada e foquei como se fosse a própria luta. Não era fácil me concentrar apenas no que fazer do dia, principalmente sabendo que um par de olhos verdes me seguiam em cada um dos meus movimentos.

Daniel me trouxe para o treino e agora, observava de longe o meu desempenho na luta com a minha adversária. Sorria vez ou outra quando eu a derrubava no chão, ou quando a nocauteava.

Não estava sendo nada fácil conseguir pensar nas coisas que disse com ele por perto, era como se cada vez que ele se aproximasse, reforçasse o óbvio para mim.

Mesmo que eu quisesse, não poderia e não conseguiria fugir dele. Era como se ele tivesse penetrado na minha pele e me tinha sob cada um de seus controles.

— Melhor na próxima. — Disse para Lola, ela deu de ombros irritada e pulou para fora do ringue.

Quase não deixei que ela se aproximasse para conseguir me derrubar e talvez por isso ela começou a me odiar tanto.

— Vamos ver no dia da competição.

Eu sabia que tinha sido uma ameaça e pouco me importava com isso, mas de longe, ouvi Daniel resmungar algo para os seguranças e em seguida ela foi indicada até a saída. Isso não fazia parte do acordo.

— Tem que parar de se intrometer na minha vida, Tio. — Gritei pulando em direção às minhas coisas. — Deveria me deixar sozinha para que eu pudesse pensar direito e assim também não se enfiaria o nariz onde não é da sua conta.

Ele cruzou os braços parado na parte mais alta da arquibancada e suspirou audivelmente, sabia que era para me mostrar que o que eu disse não o agradou.

— Não quero que pense demais e qualquer um que ouse fazer algo com você que não for a luta, será levado para fora da cidade sem opção de retorno. Eu mando aqui, mando no clube e em você, cordeirinha, mesmo que pense em correr de mim.

— Você não está sendo justo.

— A justiça que eu conheço está bem guardada no meu quarto e acredite, dependendo da sua resposta, estou prestes a usá-lo.

Meus pelos arrepiaram e meu corpo estremeceu, não era algo que eu deveria me sentir atraída. Daniel não me dava muita opção de escolha e isso dificultava a minha vida em incontáveis níveis.

— Vá embora, irei correndo para a sua casa. Assim talvez eu consiga ter um tempo para pensar no que disse.

— Não.

— Você não está me dando escolha. — Berrei sabendo que o clube já deveria estar vazio a essa hora. — Do que adianta dizer que poderei pensar se não me deixa fazer isso?

Daniel desceu as escadas desistindo de manter distância e eu não tive opção a não ser correr dele, era óbvio que ele não faria nada do que disse e me deixar pensar que eu tinha essa opção era cruel. Mas eu ainda pensava que ele poderia ser razoável, ser um homem de palavra.

Então corri para o vestiário esperando que houvesse algum lugar que eu pudesse me esconder dele até que ele desistisse de me perseguir como um louco.

— Porque eu não consigo, Ella! — Ele gritou correndo enquanto eu buscava desesperadamente qualquer lugar que eu pudesse entrar. — Porque tudo o que passa na minha cabeça a cada maldito segundo do dia é sobre você e eu me odeio por isso! Mas porra, eu não consigo, eu quero você Ella, a cada porra de segundo do meu dia e vou ter porque eu sei que você também quer.

Eu não respondi, não conseguia pensar em fugir dele e em tudo o que ele gritava dentro do clube.

Meu peito parecia que explodiria a qualquer momento por causa da adrenalina e da palpitação do meu coração, era uma sensação dolorosa e me fazia pensar se seria pior ter a minha bunda esfolada ou continuar fugindo dele como uma maldita presa medrosa.

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