Capítulo 31

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Ren me levou para fora, para o quintal que havia entre a casa e uma floresta que seguia pelas montanhas, eu me deixei ser levada com ele simplesmente porque eu não sabia se daria conta do que eus ouvidos teriam que suportar.

Minha vontade de colocar tudo para fora voltou, mas não daria o braço a torcer, não na frente dele. Eu precisava de tempo, espaço para saber quais as minhas opções. Mas algo dentro de mim tinha se quebrado e talvez nada, pelo menos agora, poderia fazer com que esse buraco que eu sentia dentro de mim fosse preenchido novamente.

— Ella? — Ren tinha a voz calma, não era nem um pouco procurada, mas bastava para que eu pudesse me contentar em despejar o meu ódio em cima de alguém.

Então ignorei o rosto torcido em questionamento e me joguei em cima dele, eu não poda bater em Yakato e Daniel estava ocupado demais para poder me dar qualquer tipo de atenção no momento, então, Ren recebeu o primeiro golpe certeiro na bochecha alta de seu rosto.

— Caralho! — Ele grunhiu e eu juntei força na minha esquerda e o acertei novamente. — Ella! Que merda pensa que está fazendo? Porra!

Continuei jogando meus corpo para cima dele tentando simplesmente acertar o rosto oriental e delicado dele, pouco me importando com a importância que ele tinha ou com o que Yakato queria dele.

— Estou fazendo oque eu queria fazer desde que cheguei na merda desse lugar e ouvi a porra da sua voz. — Respondi conseguindo finalmente derrubar ele no chão de pedregulhos e montei no corpo dele para ter mais controle em cada um dos socos que dava nele.

— Caralho, pare com isso! — Ren segurou meus punhos e eu joguei meu corpo para frente sabendo que não teria mais controle algum das minhas mãos, bati a minha cabeça com o lábio inferior dele e pude ver o sangue brotar do corte interno e externo. — Porra, maldita putinha.

Eu ri com escárnio para o rosto raivoso dele, meus olhos estavam cheios de lagrimas e nenhuma das punições que essa maldita família podia me dar doeria mais do que ver Daniel com outra.

— Pois é, senhor Ren. — Murmurei com deboche quando ele conseguiu virar nossos corpos e me prender contra o chão. — Foi essa maldita putinha que você escolheu para se casar, da próxima vez, escolha melhor a coitada que terá que viver o resto da vida patética olhando para a sua cara.

Ele começou a rir e ajustou as mãos para conseguir prender os meus pulsos com apenas uma, a outra ele limpou o sangue que começou a escorrer para o queixo sujando a pele branca dele de um vermelho vivo e brilhante.

— Não se preocupe com as minhas escolhas, Ella, eu adoro um desafio e por isso quis você. Agora, será que pode se comportar como uma pessoa decente e se levantar? Acho que já conseguiu expressar sua raiva, sua crise de ciúmes foi bem explicativa.

Eu arregalei os olhos e me debati para conseguir acertar ele novamente, queria destruir cada pedaço de sorriso debochado que ele tinha nos lábios.

— Vá se foder imbecil, não sei da merda que está falando! Me solte!

Ren aumentou o sorriso e abaixou o rosto para conseguir alcançar meus ouvidos.

— Essa sua paixonite por ele começou quando? Ele sabe que você deseja ele? Já chegaram a transar na casa dele, ou é apenas um sonho que você nutre todos os dias?

Eu parei, a vontade de me soltar havia partido junto com o ódio. Ren debochava de mim enquanto eu não conseguia defender a minha própria honra, era tão vergonhoso e doloroso ver o que essa relação que tive com Daniel poderia ser...

Desisti de lutar e desabei, as lágrimas brotaram em abundância e meus olhos não conseguiram segurar a infundada que os transpassou. Eu era uma mulher adulta, lutadora e cheia de uma vontade de construir a minha própria vida, mas do que adiantava? Eu seria um objeto em pouco tempo, presa em uma casa onde eu provavelmente seria somente uma decoração, um titulo que rendeu muito dinheiro para Yakato.

— Ella... eu... — A voz era de Ren, mas eu não me importava.

Minha visão estava embaçada e não conseguia ver nada além das lágrimas que inundavam meus olhos, Ren saiu de cima de mim e me sentou.

— Me deixe sozinha... — Respirei fundo deixando de ligar para o que quer que ele pensasse sobre mim.

— Ella, espere... Eu não imaginava que havia algo real, eu sinto muito. — Eu ignorei tudo e qualquer coisa que ele tentou comigo, minha alma estava quebrada e não me importava mais com o que minha vida seria a partir dali. — Merda.

O som de algo se quebrando fez minha espinha gelar, depois o corpo que estava na minha frente foi lançado para o lado. Gritarias explodiram ao meu redor e eu ignorei, simplesmente ignorei cada som e cada voz chamando meu nome e o de Ren.

— Daniel! — Minha mãe parecia ter nos encontrado nos fundos da casa e eu coloquei a cabeça entre as pernas na tentativa de sumir daquele lugar. — Solte ele!

Mais gritarias e então eu ouvi:

— Que merda você fez com ela, seu imbecil? — Berros e o som que eu conhecia muito bem ecoou, socos e mais socos. — Se você a machucou, desgraçado, eu juro que vou te matar!

Eu não precisava mais dele, não é? Daniel me fez depender fisicamente dele e agora que eu percebi, emocionalmente também.

— Chega. — Eu disse alto secando as minhas lágrimas teimosas para conseguir ver os dois lutando como cães no chão. — Solte ele Tio Daniel, você não tem mais que me defender, não é? Agora sou noiva do cara que você está tentando espancar e sua noiva está choramingando do outro lado da porta, acho que ela precisa de algo.

Eu respirei fundo e dei meia volta, não dava para continuar lutando e acreditando que um dia eu poderá ser alguma relação aceitável com ele. Era patético e eu nuca fui de acreditar em contos de fadas, ele era meu parente e não poderíamos nunca passar do que já fizemos, principalmente agora.

— Ella, não faça isso... Será que podemos conversar?

— Poupe ela, Daniel...

— Cale a porra da boca, Ren! — Daniel grunhiu.

— Não temos nada para conversar, certo? Acredito que o pedido que minha mãe fez a você para ficar de olho em mim não se aplique mais na minha vida, você tem coisas mais importantes a fazer agora. E eu também... — Respondi antes de girar em meus calcanhares e voltar para dentro, se esse seria o meu destino, então me prepararia para ele.

— Ella! — Ouvi antes de fechar as portas e me perder dentro da casa.

ESTRANHOOnde histórias criam vida. Descubra agora