Capitulo 25

405 42 4
                                    

A conversa que rodeava a sala de jantar parecia estar debaixo da agua para mim, o som foi sumindo aos poucos e se eu pudesse, voltaria para o meu país e a minha cidade sem nunca olhar para trás.

Mas eu não costumava aceitar as coisas de bom grado, principalmente quando me sentia usada como agora e ferida.

Me levantei da mesa bruscamente escondendo o horror que devorava a minha alma e me afastei ouvindo meu nome sendo chamado repetidas vezes, consegui caminhar decentemente até a porta de saída para a sala de estar e dali, desabei correndo para o quarto designado para mim.

Bati a porta com força suficiente para que pudessem ouvir da sala de jantar e ignorei o alvoroço que surgiu do lado de fora pouco tempo depois.

Minha mãe gritava e meu pai parecia entender o que Yakato queria fazer, entretanto, eu não me importava com nenhum dos dois nesse momento.

Minha luta seria semana que vem e se as coisas fossem andar como eu estava imaginando que seria, meus sonhos escorreriam ralo abaixo.

— Abra essa porta, Ella. Ou sua mãe terá uma crise antes mesmo que chegue a hora dela.

— Como você pode ser tão insensível, Marcos? Você... — Minha mãe não conseguiu terminar de responder e um grito estridente ecoou para dentro do quarto. — Olhe o que você fez! — Ela gritou e minha porta foi aberta com violência.

Daniel havia chutado a porta e da cama, eu consegui ver meu pai segurando o nariz sentado no chão enquanto minha mãe o amparava.

Mas ainda assim, não me movi, nessa noite, eu não fingiria estar bem como eu normalmente fazia nos tempos em que eu morava com eles, agora eu deixaria minhas emoções explodirem como eles sempre diziam que eu fazia.

— Mas que porra, Daniel! — Meu pai gritou do chão enquanto eu via Daniel entrar no meu quarto e bater a porta atrás de si ignorando completamente presença dos dois do lado de fora.

Eu não conseguia respirar, meu peito havia coletado ar demais e parecia que meus pulmões explodiriam a qualquer momento. Daniel se sentou ao meu lado e pareceu não ligar para a porta sendo aberta outra vez quando me puxou para perto, senti os braços dele me segurarem e a gritaria dentro do quarto voltou a ecoar.

— Que porra você estava pesando quando cedeu a sua filha para o desgraçado do Yakato? — Senti o peito coberto pela camisa branca de Daniel tremer ao gritar. — Você enlouqueceu? Esqueceu que ela sequer mora mais com vocês?

Não ousei olhar para meu pai, também ignorei o fato de que estava sendo acolhida pelo homem que havia desertado da familia por causa das escolhas de Yakato. Ele estava sendo melhor para mim, do que essa familia jamais foi.

— Quem você pensa que é para falar comigo assim, Daniel? A conheceu faz menos de um mês e acha que pode dizer qualquer coisa que pensa? Agora largue-a, temos muito o que conversar e você está nos atrapalhando.

Dessa vez, eu lancei os braços ao redor da cintura de Daniel tentando evitar que ele me deixasse sozinha nessa hora, eu sabia que não conseguiria lidar com isso sem ele, ainda mais agora que nós dois estávamos sendo traídos pelo nosso próprio sangue.

— Acho que Ella já decidiu quem ela quer que fique aqui, Marcos. — Daniel desdenhou e ouvi um grunhido irritado vindo do meu pai. — Tire essa maldita bunda interesseira daqui e deixe ela digerir o que aconteceu, já que quem deveria dar conforto a ela, a vendeu como a porra de uma moeda para ter um lugar na cadeira ao lado do desgraçado do meu pai.

— Vamos, Marcos... — Minha mãe pediu e senti a resistencia dele mesmo que não tivesse saído nada dos seus lábios. — Ela está segura com Daniel, eu confiei ela nas mão dele e ele cumpriu com a palavra cuidando dela quando precisou viajar e ficar na cidade dele.

Seria engraçada essa situação se minha vida não estivesse sendo usada como uma garantia, eu conhecia meu pai e agora conhecia pessoalmente Yakato, os dois eram mais parecidos do que Daniel e ele, eu havia errado ao falar aquelas coisas e agora, me arrependia completamente.

— Eu sinto muito... — Suspirei sentindo o perfume dele preencher meus pulmões suavemente, o mesmo que ele usava e sua casa, era o mesmo cheiro que eu detentos em sua pele quando estava ao meu lado na cama.

— Ella... — Balancei a cabeça negando o que ele provavelmente iria dizer e continuei:

— Você não é nada parecido com ele, Dan... Yakato jamais vai ser tão bom quanto você.

Ele riu fazendo peito tremer indo completamente contra a situação e o seu humor comum, então me afastei para encontrar um suave divertimento no olhar esverdeado dele.

— Precisou noivar a força com um desconhecido para admitir isso cordeirinha? — Meu peito aqueceu por um momento e me esqueci do que acontecia fora das paredes desse quarto. — Não vai haver casamento algum, meu bem, você já tem dono e disso eu não abro mão.

Eu solucei e não dei importância para o barulho da porta sendo aberta novamente.

— Eu tinha a convicção de que os dois fossem adultos, tivessem modos e respeito pelos mais velhos.

— Poupe sua saliva, nenhum de nós dois disse nada para constranger a sua casa pura. — Daniel grunhiu me apertando um pouco mais contra seu corpo. — Mas sobre você, não posso dizer o mesmo. Usar sua familia para manter a linhagem e o dinheiro não tem nada a ver com respeito, não é.

— Menos Daniel. Trouxe Hana na intenção de ser um arranjo mais fácil, sei que mesmo depois que você deixou essa casa, sua amiga de infância ainda se encontrava com você até pouco tempo, além do mais, porque se importa tanto com sua sobrinha bastarda? Faça o mesmo que faz com a mãe dela espiga em frente, você não é mais uma criança. — Yakato suspirou dando a entender que não tinha mais o que falar.

No entanto, Daniel retrucou em seguida.

— Isso não dá a você o direito de acabar com a vida filha dos outros.

O riso sarcástico ecoou pelo quarto e dessa vez encarei os olhos do dono desse pequeno castelo.

— Não se esqueça que na nossa cultura, eu não só posso, como é a minha obrigação garantir que a familia continue com pessoa que agregarão. Você não está mais na sua cidade, Daniel e eu vou garantir que se lembre disso.

Yakato ajustou o terno e partiu pra fora do quarto, pouco tempo depois os seguranças que foram nos buscar no aeroporto arrancaram o corpo quente e confiável de Daniel de mim.

— Não! — Gritei, talvez dando mais lenha para que Yakato jogasse na fogueira, mas eu não me importava, tudo o que eu queria era que Daniel me levasse para casa outra vez.

Para a certeza de que eu não teria nada além de seus cuidados meticulosos referente a mim, eu o queria de volta.

ESTRANHOWo Geschichten leben. Entdecke jetzt