Capítulo 24

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Todo o trabalho que eu tinha para esconder meus seios durante toda a minha vida tinha caído por terra nessa mesma tarde, eu não conseguia acreditar na ousadia que tiveram de me deixar um maldito vestido que talvez nem mesmo minha mãe que era delicada usaria.

Catrina não fez nada enquanto me indicou o banheiro para e eu tomasse banho, mas depois que coloquei o vestido preto que estava esticado num cabide ao lado da cama, ela se prontificou para fechar o zíper e arrumar meus cabelos com a desculpa de que pareciam apenas um emaranhado de fios.

— Eu não posso descer com esse vestido. — Resmunguei com a esperança de que tivesse algum outro a disposição para que eu pudesse usar no lugar dele.

Catrina deu de ombros, claro que na casa de Yakato ninguém teria a última palavra, fui avisada disso desde sempre pela minha mãe, o problema era acreditar que isso era realmente verdade.

O vestido era tão justo que se me apertasse um pouco mais, eu perderia a habilidade de respirar. Ele brilhava com tanto afinco e determinação que meus olhos reclamaram. O corte em coração fez meus seios parecerem maiores do que já eram e as alças finas davam a impressão de que estourariam a qualquer momento.

Nada na vida me irritava tanto quanto não poder ser quem eu realmente era e eu vinha fingindo para todos desde que comecei a lutar, agora, teria que fazer isso com toda a familia da minha mãe presente.

Fechei os olhos enquanto Catrina arrumava meu cabelo com cachos soltos e os dividia de lado, o quão fútil e superficial eu deveria estar parecendo nesse momento? Ela não me responderia isso e duvido que falaria qualquer coisa que Yakato não tivesse deixado pré-estabelecido antes que eu chegasse, meu pai provavelmente deveria ter contado o quão difícil e temperamental sua neta era.

Ignorei a minha raiva e deixei a curiosidade me tomar, não era comum e desde que nasci nunca tinha sido invocada a vir até a casa dele, talvez por principalmente ser a sua neta bastarda. Também precisei ignorar a fenda que subia até o tipo da minha coxa direita, o que não estava sendo nada fácil.

Catrina me levou até a sala central, onde parte da familia estava reunida fingindo se gostarem como nunca fizeram antes, haviam também pessoas que eu nunca tinha visto, bom, pelo menos minha mãe ainda não tinha me contado sobre elas.

— Ella, querida! Você está linda! — Não demorou para que minha mãe saísse do meio da multidão para me encontrar, vestida elegantemente junto com meu pai ao lado, me fez perceber que eu e ele éramos os únicos que não fazíamos parte realmente da cultura.
Sorri agradecida para ela e tentei não demonstrar meu desprezo por parte de todos os outros ao nosso redor.

— Seu avô está fazendo um jantar de conciliação, pelo que ele me disse, está tentando reaver o contato com seu irmão, Claudia.

Minha mãe riu para o que meu pai disse antes de respondê-lo:

— Então meu pai tem enganado você também querido. Yakato jamais faria algo que ferisse seu próprio ego e sabe disso melhor do que eu.
Meu pai deu um sorriso torto para ela e terminou de beber o líquido âmbar em seu copo.

Mas não era apenas as pessoas em volta bebendo e conversando antes do jantar ser servido que estavam me incomodando, ficou ainda pior quando senti minhas costas queimarem outra vez.

Busquei pelo foco da sensação e encontrei um par de olhos verdes no fundo da sala, bebendo como todos os convidados e ignorando a maioria deles. Com os cabelos soltos e a cara de poucos amigos me mostrava que ele também tinha sido obrigado a vestir o terno, mas sua rebeldia fez se destacar dos outros, com o primeiro botão da camisa aberta e a falta de gravata.

Daniel poderia ter a mulher que quisesse sem precisar piscar.

Ele me encarava de volta, com a mesma intensidade que costumava fazer quando brigamos assim que cheguei na cidade. O verde poderia me incendiar a qualquer momento, e eu não me negaria a ser incendiada por ele.

— Espero que todos já tenham chegado, queria agradecer a presença de cada um nessa noite e dizer que podem me seguir, o jantar está pronto para ser servido.

Minha mãe se prendeu ao meu braço e fomos juntas para a outra sala, uma grande mesa começava a acomodar os convidados e junto com ela, fui levada para perto de Yakato.

Com a sua mulher ao lado, colocou Daniel ao lado dela e minha mãe de frente para ele. Meu nome estava na segunda cadeira depois dela e um outro convidado a minha frente, ao meu lado meu pai e em seguida vinham todos os outros convidados.

Fiquei confusa com a disposição, mas depois de ver Daniel sendo paparicado pela mãe dele, quase não consegui esconder a vontade de rir.

— Ella... — Minha mãe resmungou também tentando não rir. — Irá nos colocar em apuros se continuar.

Daniel não mudou a expressão fechada, mas por ela, demonstrou um carinho e respeito que eu jamais tinha visto.

— Parem vocês duas. — Meu pai me empurrou levemente tentando fazer com que nós duas parassemos de rir.

Um pouco antes da senhora Sora parar de adular o filho que provavelmente não via há anos, a mesa que antes falava compulsivamente se calou. A porta principal abriu e uma esbelta mulher ruiva caminhou suavemente para o lado oposto da mesa onde eu estava.

Não só Catrina que aguardava na parede junto com os outros empregados, mas todos se moveram e trouxeram rapidamente uma cadeira para a mulher. O sorriso da senhora Sora se alastrou e Catrina empurrou Daniel para o lado para que a ruiva se sentasse, o colocando de frente para mim.

— Estão de brincadeira? — Daniel quase gritou e Yakato respirou fundo olhando com fúria de volta para ele. — Não me olhe assim, o que ela está fazendo aqui, melhor, o que à família Okame tem a ver com isso?

— Filho, fale mais baixo... — A senhora Sora pediu e Yakato a silenciou levantando a mão.

Eu não conseguia pensar, primeiro por causa do ódio que eu via incendiar os olhos de Daniel e segundo, por causa do sorriso doce que a mulher lançava para todos da mesa.

— Pensei que sentisse minha falta, Dan... Porque eu senti a sua.

— Yakato! — Daniel insistiu.

Meu avô suspirou em sua cadeira e se levantou, pegou a taça que borbulhava a sua frente e sorriu para a mulher.

— Obrigado por vir, Hana. Fico triste em saber que sua familia não pode comparecer a este momento.

A mulher sorriu e endireitou as costas no acento.

— A reunião na Europa demorou mais do que previam, mas estão felizes pela proposta e o acordo, senhor Sora.

Yakato sorriu para ela novamente e depois fuzilou Daniel antes de continuar a falar.

— Obrigado a todos que puderam nos presentear com sua presença, hoje vamos celebrar não só a união da familia Okame e Sora, mas também Nazume e Sora, que nossas famílias cresçam e que os nossos filhos sejam abençoados com a nossa linhagem.

Olhei confusa para Daniel que parecia assustado com tudo o que estavam falando e minha mãe tossiu virando o rosto direto para o meu pai.

— O que está acontecendo? — Ela perguntou baixinho tentando entender o que acontecia, ela estava tão perdida quanto eu.

Meu pai hesitou em responder indicando que sabia mais do que realmente estava falando, então eu juntei forças dentro de mim e olhei para ele refazendo a pergunta.

— O que está havendo, pai? — O olhar frio dele me calou e depois de se inclinar na nossa direção ele respondeu a nós duas.

— Daniel foi prometido a Hana, hoje é a festa de noivado dos dois e o seu também querida, com Ren.

Senti minha pele gelar e a ânsia tomar conta do meu estômago, olhei para a minha mãe que parecia tão confusa e assustada quanto eu e depois para Daniel. O olhar dele dizia o mesmo que o meu deveria gritar, nossa própria família armou para nós, meu próprio pai escondeu suas intenções de mim.

— É dia de celebrar, então comam e bebam. Assinaremos o contrato no fim da noite e selaremos a união das três famílias!

ESTRANHOWhere stories live. Discover now