Capítulo 38

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Fiquei olhando para Daniel como se o que ele tivesse dito fosse algo de outro mundo e claro que era, na nossa situação era a pior coisa que poderia acontecer.
Então, depois do choque eu ofeguei, completamente perdida sob o olhar esverdeado e brilhante dele.

Daniel sequer pareceu se abalar com o que tinha acabado de dizer, como se não fosse nada. Ele acariciava meu rosto mantendo um sorriso quase escondido no canto dos lábios e me fazendo sentir uma tola.

— Daniel...

Ele impediu que eu terminasse de falar colocando os dedos nos meus lábios, na verdade, eu nem mesmo sabia o que iria dizer para ele.

— Não quero pensar em nada a não ser no que estamos passando e sentindo, eu pouco me importo com as coisas que impeçam isso Ella e aposto que você sofreu tanto quanto eu nesses últimos dias que ficamos longe um do outro. Então, por favor, não finja que está preocupada com a porra do nosso grau de parentesco.

Sempre duro demais, autoritário e sempre querendo mandar em mim. Daniel queria dominar tudo a sua frente e isso me fez lembrar de Yakato tentando controlar a minha vida, eram mais parecidos do que imaginavam.

— Isso não está certo... — Murmurei vendo ele mudar a expressão, a raiva tomou conta e fechou os olhos.

— Diga o que sente, Ella.

— Eu não posso...

— Ella.

— Por favor, não...

Daniel mudou a nossa posição na cama e por cima de mim, ele segurou meus braços acima da minha cabeça.

Como se eu quisesse realmente fugir dele.

— Eu não sei em que merda estamos nos metendo, cordeirinha. Mas você está sendo hipócrita e mentindo para si mesma, eu que jamais senti essa merda por alguém consegui admitir, então diga...

Os cabelos curtos se tornaram uma cortina em cima dos meus olhos, os fios úmidos faziam cócegas em meu rosto e seria idiota se não admitisse que eu estava completamente apaixonada por ele.

— Eu estou... — Murmurei, mas as batidas suaves de Catrina nos fez saltar da cama.

— Merda, essa maldita não tem coisa melhor para fazer? — Eu sorri sabendo que Daniel estava completamente irritado. — Você me deve algumas palavras, cordeirinha e eu vou voltar para continuarmos essa conversa.

Ele se vestiu com as roupas molhadas mesmo e se ajeitou embaixo da minha cama, abri a porta alguns minutos depois que eu também estava vestida e Catrina entrou como um furacão.

— Meu senhor está esperando você e seu noivo para escolherem os preparativos do casamento, se apresse.

Olhei para ela e em seguida para a cama, eu podia sentir a raiva dele emanando diretamente para mim.

— Poderia buscar as joias que ganhei de Ren que deixei no banheiro, assim poupamos tempo enquanto me troco. — Ela suspirou cansada e entrou pela porta.

Daniel se arrastou para fora e mordiscou meu lábio inferior antes de correr pela porta à fora.
Eu suspirei sabendo que tudo o que estava acontecendo acabaria em um grande desastre, mas eu não tinha escolha. Éramos eu e Daniel contra uma frota de seguranças espalhados por dentro e por fora da casa.

Então aceitei o que eu podia fazer no momento e me deixei ser vestida novamente por ela depois que voltou do banheiro com o anel e o colar, Catrina suspirou os colocando em mim e eu simplesmente ignorei os olhares desconfiados dela.

— Meu senhor pode ser muito incompreendido senhorita Ella, tente ver esse casamento por outro angulo, talvez assim consiga se sentir melhor com as coisas quem vem acontecendo na sua vida.

Eu sorri para a mulher.

— Não há como ver por outro angulo ser arrancada do meu país e forçada a casar com alguém que eu nunca vi na minha vida.

Não havia mais o que falar, depois que penteei os cabelos e os prendi molhados no topo da cabeça segui para a sala onde meu "suposto" avô me esperava.

O escritório dele era tão grande quanto as salas inferiores da casa, minha noção de espaço quase se perdeu enquanto tentava me equilibrar nos saltos.

Eu odiava todo esse lugar, as pessoas e até mesmo meu pai. Ser a única opção para serem mantidos em segurança financeira era completamente ridículo.

Mas ele estava na sala também, minha mãe e a mulher traída de Yakato. Eu sorri sínica para ela e mordi o lábio sabendo que desde os últimos dias eu tinha dado para ela mais um motivo para odiar tanto essa família.

— Cuidado, com a pressão Ella. Não quer dar motivos para a esposa de Yakato para rir de você, não é?

Olhei de soslaio e Ren segurava as minhas costas com uma das mãos, mantendo meu corpo reto o suficiente para que eu conseguisse me manter em pé sem passar mais uma vergonha.

— Ótimo, mais uma coisa para me preocupar... Devo só acenar e sorrir como uma maldita marionete, como as mulheres que você deve ser acostumado a sair?

Ele riu enquanto me conduzia para as poltronas que todos os outros estavam sentados bem em volta de uma mesa baixa retangular e de vidro.

— Não que seja da sua conta, mas devido ao seu interesse recente pelas mulheres que passaram pela minha vida, acredito que mulheres fáceis são tão chatas quanto pudim de arroz. — Senti o rosto esquentar me sentando na poltrona dupla enquanto ele dava a volta e se acomodava ao meu lado para cochichar no meu ouvido. — Já mulheres como você, ah... eu gosto de conquistar aos poucos e se Daniel também compartilha dos mesmos gostos que tínhamos no passado, você entende do que eu estou falando. Mas tenho certeza de que ele não aproveitou metade do que poderia fazer com você, já eu não vou perder essa oportunidade.

Eu engoli a saliva diversas vezes para que ela não passasse pelos meus lábios, eu também podia ver a vermelhidão acima do meu nariz e pegando parte das minhas bochechas.

— Estão começando a se dar bem? Isso é ótimo, torna as coisas muito mais fáceis então. — Olhei na direção de Yakato e travei os punhos me segurando para não quebrar aquele nariz desproporcional para o rosto. — Mesmo que seja um matrimônio por conveniência, precisamos acertar algumas coisas para que os empregados consigam tornar o pátio um lugar aceitável para os convidados e para a troca de votos. Deixarei que escolha, Ella, qualquer tema que tenha em mente já que é o seu dia.

Uni as sobrancelhas e a minha mãe mesmo preocupada com a situação, demostrou alguma fagulha de felicidade, eu respirei fundo e tentei soltar os punhos, mas o meu ódio era demais para conseguir controlar meu corpo nesse momento.

— Ella, respire.— Eu queria ignorar Ren com toda a minha força, mas ele tocou minha mão e tentou colocar os dedos dentro dos meus para diminuir a crise e abrir minha mão.

Mas ele também tinha razão, meu destino estava traçado e piorar as coisas seria apenas um show para Yakato e sua esposa insuportável. Peguei uma das revistas e recortes em cima da mesa sentindo uma ânsia cada vez maior uma devido à outra.

Flores e mais flores, véus e sorrisos felizes de noivas em seu dia especial. Para mim não seria isso, era apenas a assinatura de um contrato, a assinatura que me faria ficar presa a esse homem sabe-se-lá quanto tempo.

Mas eu podia melhorar as coisas, pelo menos para mim. Fazer com que Yakato gastasse tanto dinheiro que seu pobre coração velho se encheria de ódio.

— Estou bem, obrigada. — Olhei de soslaio outra vez para Ren e ele riu provavelmente vendo a minha cara estampada de desgosto.

— Tudo bem então... — Ele riu. — Aposto que isso vai ser interessante.

— Muito bem. — Suspirei olhando para uma cartela de cores que eu menos odiei e joguei na direção dele. — Quero essa cor e se deseja uma noiva educada e silenciosa, senhor Yakato, terá que fazer esse casamento no Monte Fuji e sua esposa está proibida de ir. Se não fizer dessa forma, farei desse casamento um inferno.

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