Capitulo 23

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Yakato Sora morava no sul do Japão. Ele era um velho tradicional que não costumava sair demais do costume de sua familia — tirando o fato de que ele pulou a cerca e acabou concebendo a minha mãe.

Eu não sabia muito dele, além do que minha mãe me contou. Meu pai era diretor de uma das empresas dele e por isso fazia de tudo para que os desejos de seu querido sogro fossem atendidos, era uma malfira hierarquia e parecia que a familia Sora adorava essa disputa e desejo de poder.

Daniel não conversou comigo enquanto éramos obrigados a arrumar nossas malas para essa viagem, depois que ele desligou o telefone, Yakato obrigou minha mãe a aparecer em nossa porta com os seguranças dele e com um motorista para nos levar até o aeroporto.

Foi um caminho longo e mais doloroso do que eu achei que seria não ter ele conversando comigo ou com a minha mãe, fomos ignoradas completamente por ele. Eu só não sabia se era por causa do que eu tinha dito ou por causa do que minha mãe havia feito: dar o endereço dele para Yakato.

Daniel tinha um ressentimento doloroso pelo próprio pai e era nítido isso, ele não precisava fazer nenhum esforço para que todos vissem. Era natural.

— Talvez não tenha sido uma boa ideia. — Ela murmurou vendo o irmão jogar a mala para que os seguranças pegassem antes de subir para dentro do avião. — Demorei anos para conseguir conversar com ele e mudou pai conseguiu destruir isso em dois dias.

Eu consegui acabar com tudo apenas com uma frase, não imagino o que forçá-lo a ver o pai que ele tanto odiava poderia causar numa relação já conturbada.

— Ele é adulto, mãe. Vai superar. — Suspirei olhando para as costas coberta pela jaqueta de couro preta que eu tinha começado a adorar. — Algum dia...

Entramos em seguida no pequeno avião que Yakato nos obrigou a embarcar, não era como se tivesse uma arma apontada em nossas cabeças, mas sabíamos que seria muito pior se não fossemos com a primeira chamada dele para esse jantar esquisito e sem explicações.

Passamos a viagem em silêncio enquanto eu sofria internamente por ter sido uma idiota sem realmente perceber, ele sequer olhava para mim quando seus olhos verdes passavam por todo o começo de dentro do avião.

Por todo esse momento, eu senti falta do homem que me perseguiu como um predador e que me protegeu sem que eu precisasse de proteção. Esse maldito havia me feito precisar tanto dele que vê-lo distante, estava sendo doloroso demais para suportar e eu não podia dizer nada.

Choramingar para a minha mãe que ele estava distante de mim estava fora de cogitação, como eu explicaria nossa aproximação repentina sem dizer que eu provavelmente estava apaixonada por ele.

Era irmão dela e mds podia justificar esse pecado que tínhamos cometido aceitando a atração que surgiu em nós dois, ou que ele havia me feito desistir da minha luta interna quando espancou a minha bunda até que não houvesse mais nada na minha mente que não fosse ele e seus malditos olhos verdes.

Ela não precisava sofrer por causa do nosso erro, ela não merecia sofrer por causa da minha irresponsabilidade. Minha mãe já tinha sofrimentos demais para suportar apenas por ter nascido.

Foram horas dolorosas que nós três passamos presos dentro do avião, pelo menos para mim, por que por mais que não pudéssemos nos aproximar na frente dela, era tudo o que eu queria fazer.

Eu estava sendo uma idiota, uma mulher que eu jurei para mim mesma que eu jamais seria. Estava deixando que um homem tomasse conta da minha mente como se e fosse mais importante do que toda a vida longe dele, Daniel estava acabando comigo.

Meus choramingos e devaneios internos passaram quando o avião pousou e fomos levado para dentro de um SUV preta, Yakato havia feito de tudo para que não tivéssemos escolha além de aceitarmos seus termos e "cuidados".

Na verdade, não estávamos tendo outra escolha, ele era um velho egocêntrico e egoísta, um homem com mais recursos do que eu podia imaginar e pude ver isso quando a SUV entrou pelos portões de madeira de seu pequeno castelo oriental. Ele era tão diferente de nós, que me senti deslocada apenas olhando seu patrimônio de fora.

Fomos recebidos com uma calorosa recepção de seus empregados, ele não havia sequer se disposto a nos receber na entrada de sua casa. Claro que eu entendia, para que se dar o trabalho quando seu primeiro filho o abandonou por seu próprio erro e por uma filha que veio de uma traição?

Toda a familia foi obrigada a estar presente e meu pai não poderia faltar, que já estava nos esperando em uma das poltronas da grande e clara sala de estar.

A estrutura, as cores e a sensação da casa era completamente diferente da casa de Daniel, da casa da minha mãe. Eu sentia que qualquer movimento busco meu seria um insulto para a graciosidade do espaço, principalmente por eu estar vestida com roupas largas que escondia toda a minha feminilidade e por não me sentir a vontade com elegância esbanjadora.

— Boa tarde, me chamo Catrina e sou a governanta do senhor Sora. O jantar será servido as oito e meia e meu senhor pediu para que se arrumassem nos quartos designados a vocês. — Demorei para encontrar a dona da voz, uma senhora de cabelos pretos e lisos com o mesmo olhar de desdém que eu via pelas fotos do meu avô. — E você é Ella, estou certa? meu senhor pediu que eu te ajudasse com suas roupas.

Olhei de soslaio para Daniel que me encarava de volta, minha mãe simplesmente tomou o caminho que Catrina tinha indicado para encontrar o tal quarto. Ele também sentia que algo estava errado e que esse jantar não podia significar uma boa coisa, mas vendo meu pai ignorando a nossa presença bebendo no fundo da sala, tentei não pensar na atrocidade que Yakato tinha reservado para essa noite.

Mas não demorou para que ele pegasse a própria mala e subisse para os quartos me deixando com a governanta suspeita de seu pai.

— Por favor, Ella. Me siga, seu quarto é nesse mesmo andar para que não nos atrasemos para o jantar.

Dei de ombro tentando não parecer rude, mas ao decidir seguir ela para o quarto destinado a mim, pude sentir um par de olhos queimando as minhas costas e ao me forçar a olhar para trás, vi Daniel no topo das escadas nos encarando como se mesmo depois de sua explosão, não pudéssemos ficar tão longe um do outro e pela primeira vez depois de horas me sentindo ignorada, o alivio tocou levemente meu coração.

Ele ainda se importava comigo.

ESTRANHOOnde histórias criam vida. Descubra agora