Capitulo 10

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Talvez a cidade e até mesmo aquele bar fossem mais interessantes do que eu pensava.

Depois de pensar por minutos consideráveis, decidi descer após o meu banho. A casa estava vazia e não foi difícil de entender que Daniel deveria estar dentro do bar, o que talvez não fosse tão bom assim se eu fosse levar em consideração tudo o que tinha acontecido.

Mas ignorei os avisos mentais de perigo, eu realmente precisava beber e conversar com alguém além da minha mãe e esse cara louco que, por motivos ligados a ela, pensava que eu era uma criança.

A luz amarelada e baixa permitia que o espaço fosse mais tranquilo do que eu me lembrava, tirando o fato de ser completamente ocupados por homens.
Ignorei todos os olhares quando o cara com o sorriso doce de mais cedo me cedeu um lugar na sua mesa, acostumada a deixar meus cabelos presos por causa das lutas, simplesmente os soltei para que eu não sofresse com dores além de uma possível ressaca mais tarde.

— Nossa. — Eu sorri, foi apenas uma palavra, mas os olhos negros quase perdidos em cílios escuros e cabelos enrolados diziam muito mais do que essa pequena palavra. — Espero que Dan não se importe de eu roubar a sua atenção hoje.

— Não se preocupe com isso. — Pisquei para ele, imaginando diversas coisas que eu poderia fazer com o sorriso ladino que ele começou a me dar. — Ele não tem nada a ver com a minha vida.

— Ótimo. — Ele sorriu.

Passamos algumas horas conversando entre copos cheios de cerveja e risadas sinceras, eu estava realmente precisando disso. A descontração e a falta de alguém menos irritante do que homem atrás do balcão, que de minuto em minuto olhava na nossa direção.

Ele era filho  de um dos homens que trabalhava para meu tio, o que me fez questionar internamente se ele era um dos caras que ficava na oficina. Daniel não parecia ter uma empresa suficientemente grande para comportar e pagar diversos homens, mas eu acreditava que pelo excesso de carros que viviam do outro lado do bar, ele conseguia dar conta.

E Joe estava sendo incrivelmente agradavel, me deixando ser eu mesma enquanto o álcool corria em meu sangue a ponto de sorrir demais e me fazia sentir uma onda de calor subir e tomar todos os meus poros.

Eu precisava extravasar e Luca estava a muitos quilômetros de distancia para suprir qualquer uma das minhas necessidades, me deixando levemente irritada e chateada. Dobrar um cara ao ponto de conseguir o que eu queria deles não era fácil, mas esse sorriso doce de Joe me fazia pensar o quanto ficaria lindo embaixo de mim.

— Joe... — O interrompi enquanto ele falava sobre algo como seu curso de arquitetura, o que não parecia sequer fazer sentido para a aparência dele. Eu precisava me satisfazer e ele parecia um ótimo cara para que eu conseguisse isso. — Eu sei que está tentando me deixar confortável para talvez darmos sequência para o restante da noite, mas escute... — Murmurei me aproximando dele, para que nenhum dos caras ao redor pudessem ouvir. — Eu facilitarei para você, podemos pular a parte em que você pede para sair do meio dessa bagunça e que você me leva para um lugar mais tranquilo?

O sorriso dele aumentou e a surpresa no rosto dele fez meu baixo ventre tremer, inferno.

— Você me surpreendeu desde que apareceu. — Ele encurtou a distância que ainda faltava para quase tocarmos nossos narizes. — Deixa eu te levar para a minha casa então? Abrirei um vinho e se continuarmos assim, espero descobrir o que você tem debaixo desse jeans.

Eu sorri, meu corpo precisava intensamente disso e se ele fosse tão animado quanto aparentava ser, eu definitivamente sentaria nele até que minhas coxas reclamassem de dor.

— Talvez eu te mostre durante o vinho. — Joe sorriu e se levantou, não havia mais nada a dizermos a não ser para uma das garçonetes que meu tio tinha trabalhando para ele que queríamos a conta.

Joe esperou para que eu pegasse apenas a minha bolsa e antes que eu colocasse a perna para fora do bar ouvi meu nome sendo chamado como se o mundo estivesse prestes a ruir, eu simplesmente ignorei e segui a minha futura diversão até meu braço ser puxado para dentro do bar outra vez.

— Todos para fora. — Daniel disse apenas uma vez, e todos simplesmente saíram de seus lugares deixando tudo como estava. — Estava indo aonde?

Eu não respondi, a raiva estava tomando proporções estratosféricas no meu corpo e se eu abrisse a boca, sairia muito mais do que palavras.

— Eu te fiz uma pergunta.

— Primeiramente, não é da sua conta. Mas como eu estava de bom humor até segundos atrás, estava indo fazer o que eu deveria ter feito a mundo tempo.

— Ella...

— Me poupe, você nunca foi me ver quando eu era criança. Xinga a minha mãe que não tem culpa nenhuma por seu pai ser um maldito pulador de cerca e agora, depois que sou adulta o suficiente para decidir onde vou passar a noite, você acha que pode cuidar de mim?

Dessa vez foi ele quem não respondeu e eu sorri com escarnio puxando o meu braço.

— Sua vida não é da minha conta, mas não posso te deixar se meter em problemas.

— Vá se foder. — Ele uniu as sobrancelhas me olhando incrédulo. — Isso mesmo, já ouviu isso na sua vida? Vá se foder. Está estragando a porra da minha noite e caralho, parecia que seria muito melhor do que ficar aqui olhando para a sua cara.

— Não sabe do que está falando pirralha mimada.

— Ah, eu sei e como eu sei. — Grunhi devolvendo o olhar que ele lançava em mim. — Aquele cara me prometeu muito mais do que uma noite de gritaria e eu juro por Deus que eu acredito em cada uma das palavras dele, estou cansada de ser tratada como a porra de uma criança. E por mais que seja inacreditável de ouvir, ele foi o único que me tratou como uma mulher desde que cheguei aqui. Então sim, eu vou sair agora com aquele cara e espero, do fundo do meu coração, Daniel, que ele me foda a noite inteira simplesmente para me fazer esquecer dessa sua maldita cara de controlador compulsivo.

Eu vi com toda a certeza do mundo os olhos dele mudarem de cor e virarem um verde tão escuro que nada parecia poder fugir daquela imensidão, eu havia deixado ele coberto de raiva e pouco me importava. Sairia dessa merda de lugar pela manhã, já bastava ter a minha mãe controlando a minha vida pelas beiradas.

Girei em meus calcanhares e empurrei as portas principais, mas a única coisa que saiu dali foram meus gritos de pânico.

Daniel havia enfiado as mãos por entre os meus cabelos para encontrar a minha nuca e puxou os fios que cresciam ali, o ar deixou meus pulmões e enquanto ele me arrastava para a porta de entrada da casa, eu via minha noite acabar.

ESTRANHOOnde histórias criam vida. Descubra agora