Capítulo 47

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Eu estava definitivamente cansada.
Da casa, da minha familia, de Ren, do casamento e principalmente do dono dessa maldita voz.

Lutei contra meus instintos e quase abri a porta e corri para fora, poderia até mesmo ir na direção de Ren nesse momento. Mas tudo o que fiz foi escorar a testa na porta e me arrepender de todas as escolhas que fiz e que me trouxeram exatamente para esse momento.

Então não me forcei a olhar na direção da minha cama, neguei a vontade de ir embora e tentar me perder na mata que Yakato mantinha apenas para si nos fundos da casa.

A voz embargada e desgostosa de Daniel me trouxe arrepios dolorosos, me fez querer desistir de tudo o que eu preparei para me livrar dele nos últimos dias e também me fez querer socar o rosto bonito dele até que não sobrasse ossos e pele.

— Eu amo você, cordeirinha... — Ouvir isso dessa maneira foi como um golpe no meu coração. — E eu vou repetir até que cada uma dessas palavras entrem na sua cabeça, mesmo que esteja sendo um inferno para mim admitir isso.

Eu não movi um músculo sequer, ainda mais enquanto a exaustão dominava meu corpo, minha mente e a minha alma.

— Eu quero que a porra dessa familia se foda, eu não me importo com o que eles vão ou não achar de nós dois.

Eu só queria que ele fosse embora, que parasse de falar tudo o que eu queria ouvir desde que me fez sentir mais do que uma atração insuportável por ele.

— Eu não me importo com oque fez com Ren naquele quarto, não me importo com as coisas que ele fez a você.

A voz dele ficava cada vez mais próxima e eu só queria desabar, ficar sozinha e lamentar minha vida triste e patética enquanto o meu mundo desabava ao meu redor.

— Eu amo você Ella e desde a primeira vez que coloquei meus olhos em você, desde que amaldiçoei sua mãe por me colocar nessa situação. Eu amo você desde que me fez perceber que eu não merecia nada que viesse de você.

Eu chorei dessa vez e dessa vez Daniel não tinha me machucado, Ren não havia me feito desejá-lo mesmo que isso fosse definitivamente errado para mim..

— Cordeirinha... — O som rouco me fez arrepiar, o maldito apelido me acordou e me derrubou ao mesmo tempo e eu não sabia se conseguiria fazer qualquer coisa que não fosse continuar escorada na porta do quarto. — Eu amo você.

— Não... — Eu finalmente consegui murmurar enquanto sentia o calor dele me alcançar sem que ele realmente me tocasse.

Daniel não respondeu, mas talvez não precisasse. Eu sentia raiva dele, sentia que toda essa dor e essa maldita situação era culpa inteiramente dele, mesmo que não tivesse nada a ver com ele.

— Vamos ao menos conversar...

— Eu não quero conversar com você. — Choraminguei sentindo todas as emoções finalmente me inundarem como nunca aconteceu antes.

Mas ele nunca me ouvia, nunca respeitava minhas decisões ou meus pedidos desesperados. Daniel não se importava com o que eu sentia, ou com o que eu pensava sobre tudo isso.

Era sempre sobre ele, como Ren havia me dito. Tudo sempre girou ao redor de Daniel e parecia que nada tinha mudado, ele não tinha mudado.

Daniel me segurou contra a porta, me apertou entre a madeira e seu corpo como se pudesse nos transformar em apenas um. Isso me destruiu um pouco mais e nem mesmo o casamento forçado com Ren tinha me tirado tanto dos eixos.

Meu corpo recebeu o calor como a única fonte que pudesse me entregar essa necessidade e eu ofeguei.

— Eu amo você, cordeirinha.— O sussurro dessa vez foi próximo ao meu ouvido. — E não vou desistir de você como pensou que eu faria.

— Eu não quero saber, me deixe em paz. Não aguento mais toda essa merda!

Mas ele não se moveu, não me tocou do jeito que sempre fazia ou me conduziu a acatar seus desejos momentâneos. Daniel apenas me segurou, me amparou enquanto meu choro escorria pelo meu rosto e molhava o chão próximo aos meus pés.

— Eu amo você Ella. — Daniel suspirou e me virou.

Ele estava tão perto, tão palpável e aquele mesmo perfume que me embriagava me dominou.

Apertei os olhos para não olhar para ele, para não ver o quanto eu o amava e odiava sentir isso cada milésimo de segundo da minha vida.

— Você vai se casar, assim como eu. — Sussurrei, porque isso era realmente o máximo que eu podia fazer. — Você a escolheu, você decidiu por mim antes mesmo que eu pudesse escolher você.

Era isso, talvez fosse realmente isso oque estava me incomodando com tanta força. Daniel não me deu escolha, não me permitiu sentir e decidir por mim mesma que não queria acatar as merdas que Yakato inventou de fazer.

Desde o começo eu havia sido tratada como alguém que não tinha decisões próprias, desde que me mudei para a casa de Daniel e até mesmo agora.

— Porque era o único jeito de fazer com que eles não se concentrassem em nós dois, cordeirinha... — Ele não estava alterado como sempre, não me forçou a olhar em seus olhos ou me segurou de forma que me fizesse perder completamente o meu controle. — Mas eu não posso mais suportar que esteja realmente decidindo que o melhor é ir com aquele filho da puta, Ella. Você pertence a mim tanto quanto eu pertenço a você e não vou admitir mais que negue o que sente por mim.

— Não.

Ele riu, como se eu fosse tola. Como se as minhas decisões não passassem de uma bobagem e talvez não fossem mesmo.

— Olhe para mim.

— Não, já chega Dan...

— Ella... — Ele me cortou e as mãos dele se prenderam a minha cintura. — Olhe para mim e decida se eu realmente estou dizendo a verdade.

Eu me recusei e permaneci com os olhos fechado, encarar aquele verde brilhante agora seria a minha ruína.

Então, ele suspirou e riu outra vez, foi mais do que eu já ouvi em todas as vezes que passei algum tempo ao lado dele.

Sentir a boca dele na minha foi como sentir meu mundo inteiro desabar.

— Ella... — Ele murmurou na minha boca.

Eu não consegui me mover e muito menos deixar que ele seguisse com o beijo.

— Pare, por favor...

— Me deixa te mostrar algo.

Eu ofeguei quando os dedos dele se apertaram ao redor da minha cintura  e foi o momento em que ele conseguiu invadir a minha boca.

Meus pelos eriçaram e minha cabeça nublou, eu sentia falta dele e de cada maldito pedaço do corpo dele.

— Eu odeio...

Daniel me cortou e me aprofundou o beijo fazendo minhas pernas falharem.

— Eu também odeio, mas quem se importa?

— Daniel...

— Sim, cordeirinha...

— Eu também amo você.

ESTRANHOOnde histórias criam vida. Descubra agora