Capítulo 14

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Dessa vez não foi tão difícil acordar, meu corpo estava dolorido pelo excesso de força que fiz para me manter em pé durante a madrugada, mas nada que fosse demais para suportar.

Vesti minha roupa depois de tomar um banho rápido e corri para o treino.

Mesmo que eu tentasse, de todas as formas que eu pudesse encontrar, não era fácil ignorar a presença e o roncar da moto que me acompanhava de longe. A perseguição, a maldita sensação de não estar sozinha nem mesmo no meu próprio quarto, era quase aterrorizante.

Mas então eu me lembrava daquela noite, que mesmo tomada pelo álcool, eu me lembrava de cada uma das sensações que ele depositou no meu corpo. E estava sendo difícil de ignorar.

Sacudi a cabeça na tentativa de dissipar os pensamentos e me concentrei na rua, olhando cada uma das travessas e curvas que eu deveria fazer.

*

O treino foi intenso, difícil, mas pude descontar toda a raiva e a frustração que eu sentia, lutei como se estivesse competindo no último dia, com a arena cheia de pessoas gritando. Dividindo entre o meu nome e o da minha adversária.

— Boa luta, Ella. — O árbitro elogiou e saiu com a minha oponente.

Eu suspirei e tirei as luvas aproveitando que o clube estava fechando, escorei nas cordas e deixei meu corpo descer até que eu estivesse completamente sentada no chão.

Só precisava de alguns segundos para me recuperar e então, eu poderia ir embora sabendo que cumpri com as minhas obrigações.

— Senhorita Ella, precisamos fechar o clube. — Um dos seguranças me cutucou, mostrando toda a sua imponência e o poder que tinha para me tirar dali.

Mas como no outro dia, achei que não haveria problemas de ficar um pouco mais.

— Estou apenas me recuperando, não irei demorar.

— Precisa sair agora. — Ele instruiu e o encarei como se ele estivesse brincando.

O som das portas duplas que davam para a entrada da área da plateia ecoou, eu e o segurança olhamos ao mesmo tempo em direção a saída e eu fechei os olhos tentando não surtar, ou socar aquela cara maldita e prepotente que se sentou no último assento perto da porta.

— Deixe-a fazer o que quiser Otto, a senhorita Ella é minha sobrinha e tem permissão para fazer o que quiser dentro do Flour.

O segurança endireitou as costas, o olhar duro se tornou compreensivo e de certa forma, vazio enquanto recebia a informação de Daniel.

— Sim senhor, Sora. Eu não tinha ideia.

Eu ergui as sobrancelhas vendo o guarda me deixar sozinha escorada nas cordas do ringue para sair calado da arena, olhei dele para o Tio Dan que colocou os pés acima do encosto do banco a frente e se acomodou cruzando os braços.

— Não está cumprindo a sua parte. — Falei alto o suficiente para que ele conseguisse ouvir de onde estava.

Ele demorou para responder e eu ignorei os olhos verdes e intensos na minha direção.

— Estou sim, antes do acordo que fiz com você, existe o que fiz com a insuportável da sua mãe. — Ouvi o suspirar dele ecoar. — Então, estou cumprindo, respeitando ao máximo o acordo que fiz com você.

— Me vigiar de madrugada... — Suspirei segundo para o meio do ringue para ajustar o saco de areia, precisava socar alguma coisa antes que o rosto bonito e oriental dele fosse meu próximo alvo. — Isso foi passar dos limites, Tio Dan.

ESTRANHOWhere stories live. Discover now