Capitulo 12

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Minha cabeça latejava intensamente quando acordei, o mundo girava e rodopiava ao meu redor. Eu estava com uma maldita ressaca, talvez tenha bebido demais ontem a noite.

Suspirei cansada, talvez fosse preciso adiar o treino para mais tarde, já que eu estava tão destruída a ponto de não conseguir abrir nem mesmo os olhos e isso seria um problema se eu não confiasse que conseguiria repor meu treino no dia seguinte.

Se Jay visse o meu estado deplorável, eu provavelmente ouviria um sermão.

Eu sempre precisava dar tudo de mim, nos treinos, nas lutas de rua para ganhar meu dinheiro e na vida. Então, estava acostumada a essa cobrança excessiva feita por mim mesma.

Me levantei sentindo cada mísero pedaço de mim doer e tomei o banho mais demorado que eu consegui, ignorei meu cabelo molhado pingando nas minhas costas e desci as escadas em busca de água para beber.

Eu não sabia que horas eram, ou que eu iria fazer em relação as malditas dores no meu corpo.

Porém, quando desci, a cozinha estava ocupada, três dos homens que eu me lembrava ter visto seguindo a moto de Daniel e o próprio, a conversa parou assim que eu estagnei no arco que dava para a cozinha e me peguei presa no olhar verde fixo em mim.

— Bom dia. — Resmunguei indiferente e abri a geladeira, meus bons modos estavam guardados para usar apenas na casa da minha mãe.

— Voltaremos, depois. — Eu ignorei e bebi a água, também ignorei o olhar presunçoso tentando não pensar nas mil coisas que poderiam estar passando pela cabeça dele.

Coloquei o copo dentro da pia e me afastei, um suspiro quase chateado me fez parar antes de subir as escadas. Olhei de relance para ele e pude jurar que estava segurando nos lábios um sorriso irritante.

— Dormiu bem, cordeirinha? — Uni as sobrancelhas para ele, eu sequer me lembrava de como tinha parado na cama. — Está conseguindo se sentar sem problemas?

Eu engasguei com a saliva enquanto cada uma das lembranças da noite anterior bombardeavam a minha mente sem piedade, eu queria estar longe daqui, como prometi a mim mesma que estaria e talvez me poupasse da porra desse constrangimento.

Meu corpo arrepiou e minha bunda deu sinal de uma leve ardência, pior foi o pulsar solitário que minha boceta deu quando ele lambeu os lábios olhando para mim.

Tentei me recuperar dignamente, mas como eu poderia? O inferno havia tomando conta da minha vida e tudo o que eu fiz foi estagnar no lugar.

— Você é louco... — Gaguejei observando cada pequeno movimento que o corpo dele fazia.
Daniel suspirou, voltando a se mover na cozinha.

— Me chamam disso constantemente, então se tentou me ofender, criança... falhou miseravelmente.

— Não consigo mais ficar aqui... — Suspirei antes de correr para cima, eu precisava sair daqui e faria isso agora.

Estar perto dele, a sensação estranha que isso me causava não era normal e eu precisava evitar isso. Não só pelo que a minha família diria de mim, mas pelo o que eu mesma sentia.

Era tão errado...

Enfiei as roupas dentro da minha bolsa e pendurei as luvas na alça da bolsa, encontraria um hotel mesmo que fosse longe do clube. Precisava apenas de paz, fazer meus treinos e competir no fim do mês e se eu continuar aqui, sei que não será isso o que vai acontecer.

— Ella... você não precisa ir. — Ele invadiu o quarto enquanto eu vestia o tênis, descalço e de moletom, parecia que ele não faria nada além de tirar o dia de folga hoje.

Eu não respondi, puxei meus cabelos para um lado do meu pescoço e dei a volta no corpo dele para passar pela porta, que por um possível reflexo dele, foi impedido.

— Tire o braço da minha frente e cumpra com a promessa de que não irá atrás de mim. — Falei sem olhar para ele, eu não podia correr esse risco.

— Ella. — Ele chamou e eu continuei olhando para o corredor, o calor do corpo dele parecia fazer aumentar o calor da ardência na minha bunda.

— Saía.

— Não. — Ele me envolveu com o outro braço e eu recuei, um sorriso suave curvou os lábios dele e eu engoli o excesso de saliva. — Não importa para onde você vá, você sabe que tenho a cidade nas mãos e posso proibir que a porra dos hotéis neguem sua estadia.

— Então ficarei na rua.

— Maldição! Pirralha mimada e insolente.

Eu o empurrei e meu corpo foi empurrado contra a parede do corredor de volta, minha bolsa foi parar a metros de mim e não consegui usar a única habilidade que deveria ser automática e natural do meu corpo, respirar.

— Pare. — Fui curta e direta ele suspirou dobrando o corpo para alcançar com a ponta do nariz a pele do meu ombro.

— Está sendo tão hipócrita quanto eu. — Ele disse socando a parede ao meu lado, eu pulei com o susto e prendi o ar que consegui trazer para dentro do meu corpo. — Caralho, eu não deveria sentir isso não é?

Eu fingi não entender o que ele dizia, ignorando a tensão que meu corpo sentia pairar no ar. A vontade de sentir mais do que a ponta do nariz dele deixando arrepios na minha pele, por Deus, eu queria sentí-lo dentro de mim.

Mas não podíamos, de maneira alguma. Ter a língua dele trabalhando incansavelmente na minha boceta havia sido um avanço maior do que os limites da decência podiam suportar, a moralidade, o nome da família, a minha consciência.

Eu precisava deixar isso claro não só para mim, mas para ele também.

— Não deveria, você é meu tio e deveria se comportar como tal. — Ele grunhiu e se afastou me dando as costas, Daniel socou a parede outra vez e eu aproveitei o momento para buscar as ruas da cidade.

Cometer esse crime não estava nos meus planos e isso não poderia acontecer outra vez.

*

Encontrei um quarto em um muquifo longe da cidade, parecia ser um bairro residencial e na tentativa de não me decepcionar na busca de um hotel, me rebaixei a pagar um mês desse lugar asqueroso.

Ao menos era simples o suficiente para que ninguém me incomodasse. Havia uma cama, um banheiro e um fogão, era tudo o que eu precisava no momento.

Então deixei a noite cair enquanto eu revia minhas mensagens e e-mails, não adiantaria correr para o Flour, muito menos brigar por um tempo pequeno de treino. Eu tinha perdido parte do meu dia por causa da ressaca e da briga antes de sair da casa dele, o que me deixou com pensamentos vagos até este maldito momento.

Depois de terminar de ler o que eu precisava, me levantei do sofá manchado para fechar as janelas e permitir que o calor começasse a tomar conta do cômodo. Puxei as janelas e passei o trinco para me deparar segundos depois, com alguém escorado confortavelmente no poste de frente ao quarto que eu aluguei.

Calafrios percorreram a minha espinha quando o capacete preto moveu como se acenasse para mim, mostrando que eu era a razão de sua presença. Puxei as cortinas e conferi o trinco, girei a chave na porta até o fim para ter a certeza de que eu estava minimamente segura.

Essa merda estava começando a me assustar.

ESTRANHOWhere stories live. Discover now