Capítulo 10

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"Olha só, menina

O que você me fez

Você pode e tem o que quiser

De mim eu vou deixar de me esconder

E até esquecer que sou da geração da solidão"

Toni Ferreira –Olha Só



[Vicente]

Dei alguns passos e parei ao seu lado. Sem saber exatamente o que fazer  naquela situação, toquei em seu ombro e me agachei.

Droga, droga.... Droga. O que eu deveria fazer agora? Eu não sei como agir nessas horas quando as mulheres choram, ainda mais sem saber o porquê esta está chorando.

Eu deveria dar tapinhas em seu ombro? Deveria afagar seus cabelos? Ou abraça-la seria o mais correto nesse momento?

Fernanda levantou seus olhos cor de oceano, agora vermelhos, e me encarou com a boca ligeiramente aberta.

-É... hum -pigarreei tentando pensar rapidamente​ em algo para dizer.  -Você está bem? -perguntei.

Assim que as palavras acabaram de sair da minha boca, me arrependi. Uma vontade muito grande de socar meu próprio rosto me acometeu no mesmo instante. Que pergunta mais estúpida! É claro que ela não estava bem ou não estaria chorando sem motivos, a não ser que ela fosse louca, coisa que suponho eu, que Fernanda não seja.

-Ah, não é nada de mais. -ela deu sorriso amarelo.

Arqueei as sobrancelhas em uma mistura de incredulidade e ironia.

-Eu só... estou​ preocupada, sabe? Com a saúde da minha vó. Ela sempre foi forte durante uma vida inteira, e isso é bom, em parte, mas também é ruim, porque isso a faz subestimar o perigo. Vê se pode uma coisa dessas! Ela escondeu tudo isso da própria família. -exclamou chorosa.  -Desculpa, eu não... devia ficar te enchendo com meus problemas. -ela desviou os olhos constrangida para o armário a sua frente.

Ri silenciosamente, não pela situação e sim devido a reação de Fernanda. Quem diria que um dia essa mulher sentiria vergonha de alguma coisa, ainda mais.... deixa para lá. -sacudi a cabeça.

-Vem, levanta daí. O que você está precisando é de comer uma boa comida. Mas como nós dois sabemos, isso não vai ser possível de se encontrar nesse hospital. Contudo, nada impede que encontremos um lanche mais ou menos, lá na cantina. -estendi a mão em sua direção.

Com um meio sorriso nos lábios, Fernanda aceitou minha ajuda e se levantou do chão.

*

-Você não acha isso esquisito? -ela perguntou depois de mastigar um pedaço de seu cachorro quente.

-O que, você comendo esses tipos de coisas? Devo dizer que fiquei surpreso quando vi que você realmente compraria isso aí. Sofia não pode nem sonhar em chegar perto de algo assim. -fingi horror.

Ela riu parecendo estar mais relaxada do que minutos atrás.

-Sua irmã não parece ser má pessoa. Um pouco fresca, talvez. Mas ela parece ser uma pessoa legal. -comentou dando de ombros.

-Isso porque você não conviveu com a mesma, por mais de duas décadas. -comentei sarcástico.

-Ah, para, não deve ser tão ruim assim. -comentou divertindo-se e distraidamente pousou sua mão em meu antebraço.

 Meu olhar recaiu rapidamente para o gesto despretensioso por parte dela, mas que de alguma maneira, mexeu comigo. Ao perceber o que estava fazendo, retirou seus dedos rapidamente do local, fazendo com que eu sentisse falta de seu toque. E mais uma vez ela desviou o olhar para um ponto qualquer da lanchonete.   

-Você sabe que eu não estava me referindo a isso. -ela disse depois de permanecer alguns segundos em silêncio.

-Você estava se referindo ao que, então? -me fiz de desentendido.

Seus grandes olhos azuis voltaram a me fitar. 

-Você sabe... a gente, quer dizer, nós dois, não, espera, eu não quis dizer nós dois como nós dois, eu... eu estou falando... -ela se embolou na explicação. -O que eu quero dizer, é que isso não é normal. -exasperou-se perdida entre as palavras.

Eu nada respondi, queria ver até aonde ela chegaria com aquela conversa. Era divertido vê-la sem jeito, chegava a ser hilário a situação em que nos encontrávamos naquele momento, em que ela tentava soar séria e eu é que me divertia com sua falta de sagacidade.

-Por que está me olhando desse jeito? -ela indagou com os olhos arregalados.

-De que jeito? -perguntei sorrindo.

-Desse jeito aí. Como se... como se.... -ela não completou a frase e olhava para os lados para ver se mais alguém estava notando ou ouvindo o tipo de conversa que estávamos tendo. 

-Você diz como se eu tivesse te beijado? Quer dizer, como se nós tivéssemos nos beijado? -inclinei minha cabeça para o lado com um sorriso sacana.

-Shiu, tá maluco? -ela sussurrou.

-O que que foi, Fernanda? -perguntei dissimulado. 

-Fica quieto, tá legal? Você fica dizendo esse monte de besteiras por aí, mas não se preocupa se alguma pessoa pode ouvi-lo. -disse com um ar de recriminação.

-Ora, não finja que não escutou o que eu disse. Aconteceu, Fernanda, não negue. -contestei.

-Você sabe que isso é errado, não sabe? -disse em um sussurro com os olhos estreitos em minha direção.

-E daí? -retruquei sem me importar.

-E daí, que você é meu superior, e eu sou só uma residente do último ano. Não pode ficar dando em cima de mim. -cruzou os braços na defensiva.

-Você não parecia se importar com isso na hora. -rebati irônico.

-Você... só fique longe de mim, por favor, ok? Não quero arranjar problemas no meu local de trabalho. -ela se levantou rapidamente de seu lugar. 

-Ei! -segurei seu pulso.   -Não vai embora, fica mais um pouco. -pedi. 


...

Hi, people! Saudações terráqueos, tudo bem por aí? O que estão achando? Não esqueça de deixar sua estrelinha e seu comentário, tá bem? Então é isso. Que a força esteja com você ;)

Beijos borrocados de batom 😘😘

Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz