Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]

Capítulo 55

[Vicente]

No dia seguinte, logo pela madrugada, acordei após um sonho um tanto quanto agitado e intenso. Eu estava mais uma vez deitado na poltrona que vinha frequentando nos últimos dias próximo a cama hospitalar de Fernanda, observando seu peito subir e descer ritmicamente e ouvindo a suave melodia de sua respiração tranquila. Agora ela estava bem, graças a Deus. Eu só esperava que minha Bertotti continuasse dessa forma quando acordasse, não queria vê-la desestabilizada daquela forma outra vez, pois não seria bom para sua recuperação física e emocional.

-Ei, você podia acordar logo para podermos conversar olhando nos olhos um do outro. Tenho tanta coisa para lhe contar.

Segurei sua mão entre as minhas.

-Não é nada bom vê-la dessa forma, tão machucada e debilitada. Me parte o coração.

Confessei mirando sua face que ainda mantinha as pálpebras cerradas.

-Eu só queria dizer quando você abrisse os olhos, que... fiz tanta coisa nos últimos tempos das quais me arrependo tanto. Principalmente a você, Bertotti. Eu a magoei quando tudo que eu queria era ama-la. Mas eu tive medo e fui um tremendo bastardo escondido atrás da prepotência estragando tudo entre nós.

Soltando uma lufada de ar pela boca, me desvencilhei do contato de sua mão e me levantei do lugar, me colocando a andar de um lado para o outro no espaço livre do quarto de hospital da UTI.

-Eu fui um idiota. O cargo não tinha importância. Nunca teve. Naquele dia da festa em que brigamos para valer, diante da aterradora possibilidade de que eu tivesse a perdido para sempre, fez com que eu percebesse que você era a coisa mais importante que já tive. E por causa da minha arrogância e da minha falta de disposição para aceitar o que estava em meu coração há tanto tempo eu acabei surtando. Quando cheguei em casa é que a ficha caiu em relação a besteira que havia feito e em como não havia conserto e nem como voltar atrás. Não​ tinha perdão. Então eu resolvi sofrer calado a partir daquele dia. Afinal de contas, eu merecia aquilo, a dor que me comprimia o peito, pois tinha sido eu mesmo o causador de tamanha confusão.

Me virei de costas para a cama afim de racionar com clareza e buscar um pouco de calma nos sentimentos conflitantes que se digladiavam dentro de mim. Entretanto a única coisa que consegui foi puxar os fios da minha cabeça entre meus dedos em tique nervoso.

-A verdade é que eu fiquei apavorado com o que você me fez sentir. Com a vida que você me fez querer. Eu tive medo de não conseguir ser o homem ideal para você, o homem certo, o homem que você merece. Mas eu quero ser esse homem, Bertotti. Eu preciso te amar. Eu preciso que você me ame de novo. Eu necessito que você ensine nossos futuros filhos a amar.

-Eu só faço as pessoas sofrerem. -sua voz soou fraca e distante.

-O que disse? -me virei imediatamente para fita-la de frente.

-Que eu só faço as pessoas sofrerem. Não percebe? -afirmou de maneira sucinta mirando o teto.

Ela estava acordada. Seus olhos não se direcionaram em minha direção como eu imaginava que fariam, eles continuavam pregados ao teto do quarto como se a minha existência ali não fosse percebida, como se eu não passasse de um item decorativo enfeitando um canto qualquer.

-Não é verdade. Por que está dizendo isso? -questionei sem entender sua atitude. -Fernanda, olha para mim. -pedi ao parar ao seu lado na cama.

-Eu não quero que mais ninguém sofra por minha causa, entende? -ela disse com seriedade enquanto lágrimas grossas rolavam pelo canto de seus olhos avermelhados.

Fiz menção de toca-la mas ela me deteve com um gesto antes que eu pudesse faze-lo.

-Então eu peço, por favor, se afaste de mim. O máximo que puder. Você já é um homem quebrado o suficiente para que eu possa destruí-lo por completo. E eu não quero ser a causa da sua ruína. Por favor, vá embora e me deixe em paz. -implorou ao fechar os olhos com força.

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Beijos borrocados de batom 😘😘