Capítulo 56

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"Mesmo que eu corra para muito longe você não se importa
Mesmo que eu fique fora por dias, você estará lá
Você sempre está a minha volta, baby
E eu juro
Não há nada que possam fazer para me afastar de você
Afastar-me, Afastar-me de você
Afastar-me, Afastar-me de você"

Keep Me From You (Traduzida) -Morten


[Vicente]

"Um amigo me chamou pra cuidar da dor dele, guardei a minha no bolso e fui. -Clarice Lispector"

Essa era a mensagem em letra corrida que eu havia escrito no bilhete que havia deixado sobre a palma da mão de Fernanda, para que visse e pudesse ler assim que acordasse no dia seguinte a minha expulsão de seu quarto.

"Apesar de tudo, eu ainda sou seu amigo. Cuidarei da sua dor como se fosse a minha própria. E não há nada que possa fazer, para me afastar de você."

E esse era o conteúdo no verso do pequeno papel. Dei um sorriso triste antes de deixar o quarto furtivamente.

Ao fazer o caminho rumo a minha sala, cumprimentei alguns colegas e profissionais pelo caminho com um polido boa noite e me dirigi ao meu destino, meu refúgio nos últimos dias, onde passava o tempo escondido, minha sala.

Como já estava tarde e o local vazio, uma vez que Larissa havia ido embora ao final do expediente, nem me dei ao trabalho de acender a luz da sala, somente me joguei cegamente no sofá que havia em um canto​ próximo a porta, deixando o peso do meu corpo afundar o estofado de couro.

-Você parece péssimo.

Quase, eu disse quase, pulei  de susto ao ouvir a afirmação vinda de algum lugar do cômodo. Ainda bem que me contive a tempo.

-Pensei que estivesse sozinho. -foi a única coisa que disse ao levantar os olhos e encontrar o intruso bem sentado confortavelmente em minha cadeira com os braços cruzados sobre o peito.

-Creio que esteja errado então. -respondeu com ironia.

Abusado.

-O que faz aqui, Maurício? Perdeu alguma coisa ou foi só o bom senso mesmo? Porque até onde me lembro, não o convidei a estar aqui. -rebati mal humorado e desviei meu olhar para o teto.

-Vou ser muito franco, Vicente. Não gosto de você. Nem um pouco.

-Ótimo, estamos de acordo com algo pela primeira vez, porque o sentimento é recíproco, eu não também não gosto de você. -sorri com sarcasmo, mesmo que ele não pudesse enxergar de onde estava.

-Mas o ponto não é esse. -disse acionando o interruptor que automaticamente acendeu as luzes florescentes do local.

O que fez com que um raio de dor atingisse meu cérebro.

-Você é muito abusado, sabia? -resmunguei cobrindo os olhos com a mão para me proteger da claridade repentina.

-Não mais que meu querido amigo, também conhecido como seu irmãozinho. -ele riu.  -Mas voltando ao foco inicial do assunto que me trouxe até aqui, não vim para debater trivialidades. Venho falar com você sobre Fernanda.

Dessa vez ele tinha minha atenção. Girei a cabeça alguns graus em sua direção e vi seus olhos verdes brilharem quase com diversão, mas seus lábios não sorriam.

Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]Where stories live. Discover now