Capítulo 52

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"Orando sem esperança
a luz não está apagando
Escondendo o choque e o frio em meus ossos
Eles te levaram em uma mesa
Caminho para e para
enquanto você está imóvel
Eles te pegam para sentir seus batimentos cardíacos
Você pode me ouvir gritando por favor, não me deixe?"

Hold On -Chord Overstreet


[Vicente]

-Hora da morte, 16:45 pm.

-Não... -murmurei cerrando os olhos com força.

-Não havia mais nada que pudéssemos fazer. Eles se foram. -David tentando consolar.

-Os dois. Droga! -arranquei a máscara descartável do rosto e a joguei no lixo com raiva.

-Vicente...

Não esperei para ouvir o que ele ou as outras pessoas tinham para dizer, e antes que viessem com papo furado para o meu lado, deixei o centro cirúrgico as pressas e com as vistas embaçadas por lágrimas não derramadas.

Era uma grande merda perder alguém que conhecemos e que de alguma maneira tínhamos algum tipo de relacionamento, seja ele íntimo ou não.

Subi até minha sala para tomar um tempo, antes de falar com os familiares de Cristina e Jonathan. Sim, eu mesmo me encarregaria de ser a pessoa a trazer a informação de que ambos haviam falecido, a seus ente-queridos. Essa era uma das partes mais difíceis dessa profissão, que nós cirurgiões chamamos de ossos do ofício.

Noticiar a família de alguém que o pai, a mãe, irmão, tia ou filho não iria voltar para casa com eles era sempre a pior parte.

O médico portador de más notícias tem que ter sangue frio, equilibrado e profissional para não desmoronar na frente da família ao encarar seus integrantes nos olhos e lhes dizer a mais dura e irrevogável verdade. Uma frase tão conhecida e usada por nós, mas a qual nunca me acostumarei: "A cirurgia​ era arriscada, fizemos todo o possível, mas infelizmente..."  Não podemos titubear... "Infelizmente..." E jamais vacilar. Temos que ter todas as respostas na ponta da língua... "Infelizmente, o paciente não resistiu aos ferimentos e morreu durante a cirurgia." E também temos que estar preparados para levar toda a culpa, ouvir os prantos, os gritos, a raiva... A acusação.

-Eu não acredito! Não pode ser. Meu filho é um rapaz forte e é médico. Por mais que eu como mãe nunca tenha concordado com sua escolha de profissão, sei que ele é bom no que faz.

-Certamente, senhora. Jonathan era um médico promissor e um ótimo cirurgião. -concordei engolindo em seco.

-Eu não admito que você me diga q-que... que ele​ morreu. É mentira! -a mulher bateu o pé no chão enquanto lágrimas transbordavam por seu rosto.

Um senhor de idade, que deduzi ser seu marido e pai de Jonathan, a puxou para um abraço afastando-a de mim, e chorou em silêncio juntamente com ela. Sentindo a droga do meu coração pesando uma tonelada, deixei que ambos tivessem seu momento de privacidade e me retirei para minha sala mais uma vez, afim de me preparar psicologicamente para falar com a família da outra paciente, a irmã de Cristina.

Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]Where stories live. Discover now