Capítulo 30

3.2K 310 198
                                    

"Alguém me toque
Eu sou muito jovem para me sentir tão
Adormecido, adormecido, adormecido
Você poderia ser aquele que
Me faça sentir algo, algo
Me faça sentir algo, algo
Mostre-me que você é humano, ohh
Me faça sentir algo, algo"

Feel Something (traduzida) -Jaymes Young

[Algumas semanas mais tarde]

[Vicente]

Às vezes penso em como todas essas dores, esse cansaço e as vozes na minha cabeça poderiam sumir, se eu simplesmente parasse de respirar. Ao invés de respirar e expirar, eu fechasse meus olhos e me concentrasse em mais nada. Chega uma hora na vida em que você se pergunta, para que tudo isso? A correria, os falatórios, as brigas, as intrigas, as ordens... Se um dia todos nós vamos morrer?

Eu queria ter uma resposta para todas as perguntas e questionamentos existenciais que rondam e subjugam a mente humana, porém infelizmente, não tenho outra afirmativa senão: A vida é como a neblina ao amanhecer, que rapidamente evapora com o aparecer do sol e então não importa mais, nada faz sentido se não estivermos aqui.

Às vezes eu tenho vontade de jogar tudo a minha volta para o alto e o resto que se dane. Entretanto, como já dizia um antigo ditado que minha vó não se cansa de repetir, querer não é poder.

-...você tem noção de quanto uma ação dessas na justiça vai nos custar? -alguém gritou batendo as mãos espalmadas sobre a mesa da sala de reuniões do hospital.

O pequeno surto fez com que eu saísse do transe em que me encontrava e me concentrasse na fatídica reunião com a diretoria que coordenava o hospital da Graça.

-O hospital não pode se responsabilizar por um erro cometido por um único médico. Isso mancharia o nome e a boa reputação dessa instituição e dos que trabalham nela. -a mulher idosa cuspiu irritada do lado oposto da mesa.

-Então o que você sugere? Que joguemos o cara aos lobos? Ele... -uma batida na porta interrompeu o momento de exaltação do careca ao lado da mulher.

Quando a porta foi aberta e as demais pessoas perceberam que se tratava apenas de Gabriela, minha assistente, voltaram a gritar e a se digladiarem uns com os outros, cada qual defendendo com unhas e dentes seus argumentos. Gabriela caminhou apressadamente contornando a sala tentando passar desapercebida pelas mulheres e homens engravatados que cuidavam da parte administrativa do hospital, e que também eram muito velhos, ranzinzas e taciturnos para ocuparem tais cargos. Ao se aproximar por trás da minha cadeira ela depositou um pequeno post-it amarelo com os seguintes dizeres:

"Precisam da cardiologia no setor da emergência. AGORA."

Me virei para lhe dar uma bronca e quase colidi nossos rostos ao girar a cadeira, já que ela se encontrava logo atrás de mim.

-Eu estou em reunião, será que não vê? -eu disse ríspido. -Que chamem outra pessoa. -me virei ignorando-a completamente.

-Mas senhor... -ela insistiu baixinho.

-Que é? -eu praticamente rosnei.

-Não tem outro cardiologista no hospital no momento. A doutora... -ela começou a se explicar temerosa quando eu a interrompi levantando do meu lugar e fiz sinal para que me seguisse para fora da sala.

Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]Where stories live. Discover now