Capítulo 20

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"É sobretudo na solidão que se sente a vantagem de viver com alguém que saiba pensar." -Rousseau, Jean Jacques.

[Vicente]

Eu me sentia péssimo, tanto fisicamente quanto mentalmente. Uma sensação de perda e vazio tomou conta de mim depois que me vi sozinho no fim da noite.

Agora eu estou sentado no meu carro com a cabeça no volante revivendo o momento de desequilíbrio em que perdi a cabeça.

Sempre fui conhecido por ser um cara centrado e direito, que nunca saía da linha, um homem sensato. Raramente perdia a cabeça e foi por isso que eu havia chegado aonde estava atualmente com tão pouca idade.

Eu estava tenso durante todo o jantar com receio de que as coisas saíssem de controle, isso porque eu conhecia muito bem as pessoas em volta daquela mesa.

Me esforcei genuinamente para relaxar e curtir a noite, mas Itan acabou me tirando do sério com suas provocações, enquanto Sofia e Fernanda tinham ido ao banheiro. Nós discutimos e para não acabar cometendo alguma besteira, resolvi me afastar dali.

Fui dar uma volta para dar um tempo e espairecer a cabeça. E com os pensamentos mais claros percebi que eu havia exagerado e que tinha me deixado levar pela infantilidade de meu irmão, me igualando a ele em suas ações.

Dando meia volta no calçadão, já bem distante do restaurante, volto em passos decididos e rápidos para o mesmo. Quando chego, vejo que somente meus pais e Sofia continuam na mesa.

Saio em busca de Fernanda me sentindo bem mais calmo, ela não merecia aturar esse meu estado de espírito perturbado e exausto, fruto de uma longa semana cheia de problemas que tive que enfrentar no hospital. 

Mas quando vi aquela cena na praia, de Itan beijando minha namorada, tá eu sei que foi na cabeça e tal, mas... eu não gostei de presenciar aquilo. E lá se foi a minha calma passageira. 

Eu avancei com tudo para cima dele e toda confusão que se deu após isso resultou em nós dois machucados, e pior ainda, minha namorada também. Se é que ainda posso chama-la assim, provavelmente Fernanda deve estar com tanta raiva de mim que está planejando um modo de chutar minha bunda de uma maneira muito dolorosa.

*

Agora aqui sozinho raciocinando com clareza, percebo a merda que fiz. Doeu mais o olhar magoado e irritadiço que Fernanda dirigiu a mim do que o soco que recebi no rosto. E para arrematar, foi como se um punhal tivesse sido cravado em meu peito, o repelir que ela teve ao meu toque quando tentei ajuda-la  depois da queda. Eu preferiria muito mais, ter tomado um chute na boca do estômago a ter recebido essa atitude vinda dela. 

-Droga! -bato a mão com força no volante extravasando minha frustração.

Eu não queria ter perdido a cabeça. -penso fechando os olhos com força.

Resignado e sem ter o que fazer, giro a chave na ignição fazendo o carro ligar e dirijo rumo ao hospital. Eu não tinha ânimo para aturar mais ninguém essa noite, então mando uma mensagem pelo celular enquanto o semáforo está fechado, avisando meu pai que iria dar uma passada no hospital.

Estaciono em uma vaga mais afastada no estacionamento e sigo direto para o elevador. Ignoro os olhares curiosos que alguns funcionários dirigem a mim e aperto o número do andar para qual vou.

Ao sair pelas portas metálicas, sigo para minha sala sem destinar um cumprimento aos seres humanos corajosos que ignorando minha careta de desgosto, fizeram o mesmo.

Finalmente quando chego ao meu destino, entro e bato a porta com força ao passar por ela. Me jogo em minha poltrona de couro e deixo minha cabeça pender no braço da mesma. Puxo minhas pernas para cima e como sou alto o suficiente, o lugar fica pequeno para mim e meus pés tocam o chão. 

Com um braço sobre a cabeça, fecho os olhos e continuo a me martirizar. Fico dessa maneira por um bom tempo até que duas leves batidas sobre a porta me despertam do transe.

-Estou ocupado, volte outra hora. -respondo alto o suficiente para que a pessoa ouça.

Novamente mais duas batidas se repetem.

-Eu já disse para ir embora! -grito irritado por estar sendo perturbado.

Contudo, claramente seja lá quem quer que fosse, não percebia que eu não queria ser incomodado, pois voltou a bater de maneira insistente.

-Mas que droga. Entre! -cedi por fim, para que eu pudesse aplicar um sermão no ser incompetente que não me deixava em paz.

A porta se abriu revelando primeiramente a cabeça, logo em seguida do corpo que entrou totalmente para dentro da sala. Viviana, a médica novata, me olhou com os olhos ligeiramente arregalados, enquanto segurava nas mãos uma caixa média e branca que eu já sabia o que era.

-Eu não pedi por isso. -apontei para o objeto.  -Agora já pode ir. -eu disse fazendo soar mais ríspido do que pretendia.

-Eu... -ela começou incerta.

-Olha, agradeço que tenha se preocupado comigo, mas eu não sou uma boa companhia essa noite, para ninguém. 

-Eu não ligo. -ela deu de ombros se aproximando ainda mais de mim.

Ela puxou a cadeira que estava atrás da mesa e se sentou de frente para mim.

-É melhor você sair daqui. -a aconselhei esfregando minhas têmporas com o polegar e o indicador.

-Eu sei que nós não somos amigos e nem nada do tipo, mas... se quiser conversar sobre. -ela deu um sorriso de lado sem graça.

Ainda de olhos fechados, soltei um suspiro sentindo todo o meu corpo exausto. 

-Mas se não quiser, a gente pode só ficar aqui em silêncio. Eu limpo esse corte no seu rosto e tudo fica bem. Eu quero te ajudar de alguma maneira, mas você é quem sabe como. -ela disse com uma pontada de desapontamento na voz. 

Eu realmente tinha tirado o dia para magoar as pessoa a minha volta.

-Nada vai ficar bem, eu acho. -desabafei em voz baixa.

Entendendo isso como um incentivo, ela retirou alguns utensílios da caixa e começou a tratar dos ferimentos do meu rosto.

*

No final Viviana havia cuidado dos meus machucados físicos, mas não parou por aí. Não sei como e nem que começou primeiro, mas, de alguma maneira engatamos em uma conversa amena e daí fomos progredindo até cairmos em assuntos mais pessoais.

Não me lembro quanto tempo ficamos conversando, e nem o momento em que ela deixou seu acento e se jogou ao meu lado na poltrona, só sei que os assuntos que tínhamos em comum pareciam não ter fim.

-Eu acredito em você. -ela disse depois de um tempo com sua mão repousando sobre a minha, que estava largada de modo displicente sobre o estofado marrom de couro da poltrona.

Nessa hora a porta da sala foi aberta de súbito e antes mesmo que eu pudesse dizer ou fazer algo a respeito, perspicazes olhos azuis, fitaram de maneira acusadora nossas mãos naquela posição.

-Ei Vicente, atrapalho? -ela perguntou com a voz escorrendo sarcasmo e a sobrancelha esquerda erguida em um desafio silencioso.

• • • 

Hi, people! Saudações terráqueos, tudo bem por aí? O que estão achando? Não esqueça de deixar sua estrelinha e seu comentário, tá bem? É muito importante. Então é isso. Que a força esteja com você ;)

Beijos borrocados de batom 😘😘

Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora