Capítulo 28

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"O dia que eu te conheci
Você me disse que nunca iria se apaixonar
Agora que eu te entendo
Eu sei que era medo na verdade
Agora estamos aqui, tão perto
Contudo tão longe, não passei no teste?
Quando você perceberá
Amor, eu não sou como o resto"

Give Your Heart a Break (traduzida) -Demi Lovato

[Fernanda]

Não tem sido nada confortável essas semanas que se passaram. Vicente e eu não temos nos falado ou até mesmo nos visto ultimamente. Raramente trocamos um olhar estranho quando nos esbarramos, que não dura mais do que meros segundos, antes de um de nós desviar para longe. É ruim convivermos assim, se é que isso pode ser chamado de conviver. Eu não esperava que um dia fossemos terminar daquela forma, porém depois de tudo que aconteceu e a poeira baixou, pensei que poderíamos nos comportamos como amigos ou que pelo menos como bons colegas de trabalho. 

Ledo engano.

A vida no hospital tem sido uma prova de fogo. Vicente tem feito de tudo para infernizar a vida de cada ser humano que trabalha aqui e está sob a mira direta do seu poder. É de enlouquecer, sério. Ele tem sido tão ácido, mandão e algumas vezes até rude no modo de agir e falar com seus subordinados.

Sei que ele tem toneladas de problemas para resolver, tá até aí tudo bem, uma burocracia do caramba para gerenciar e centenas de funcionários para conduzir a plena organização e máxima eficiência da prestação de serviços que o hospital oferece. Eu sei disso, todo mundo que trabalha no Hospital da Graça tem consciência disso. Mas realmente é necessária a maneira que ele o faz? Seus métodos, suas palavras, sua linguagem corporal e seu semblante endurecido eram realmente parte do ofício? Era o que eu e a maioria das pessoas pensavam nesse momento.

Muitas das vezes o maior problema em um relacionamento entre duas ou mais pessoas, está no fato de que não importa o que você fala e sim a maneira que você fala. Uma mensagem rígida dita com palavras dóceis, pode muitas das vezes abrandar o furor do ouvinte.

Vicente tem passado por muita coisa, esses meses não têm sido fácil para ele. Antes de nos... separamos muita coisa já havia rolado e o rompimento foi só o estopim de tudo. Há dois meses atrás ele assumiu a grande responsabilidade de administrar o Hospital da Graça e todos os problemas que com ele vinha. É uma carga muito pesada para se carregar sozinho, muitas noites mal dormidas, diversas cobranças, uma série de processos em cima do hospital, a falta de tempo para simples atividades como almoçar e jantar, não ter um momento no dia para namorar e muito menos para si próprio. E para piorar ainda mais a situação, há dois meses Sofia, a irmã de Vicente, saiu de casa deixando todos em sua casa loucos de preocupação.

É claro que ela não sumiu do mapa nem nada assim. Ela ainda está na cidade e mantém contato com seus pais, algumas vezes com Itan e comigo. Principalmente comigo.  Nós temos nos aproximado muito nesse tempo desde que comecei a namorar com Vicente, isso é, antes de nós terminarmos, e ainda nos falamos com bastante frequência. Pode-se dizer até que tornamos amigas ou algo do gênero. Eu sei onde ela está morando, ela me confessou depois de eu te-la pressionada e tive uma baita surpresa quando soube. Bom, talvez nem tão surpresa por ela está onde estar e sim com quem está. Tipo... é tão estranho. Contudo não me preocupo que algo possa acontecer a ela, sei que está segura e bem cuidada aonde está. 

Sofia me pediu que guardasse segredo, pois sabia que alguém poderia ir até onde estava e tentar persuadi-la a voltar atrás, só que ela não pretendia fazer isso. Então com uma sensação de aperto no coração não contei nada a Vicente na época. Eu tinha concordado com seu pedido e manteria minha promessa até o fim. Eu não via  com maus olhos o que ela estava fazendo, Sofia era uma mulher crescida, mas ainda continuava uma garota perdida em corpo de adulto. Ela precisa crescer, abrir as asas, levantar voo do conforto do ninho e achar seu caminho na vida. E se isso fosse ajudar em sua trajetória eu daria o meu total e incondicional apoio, independente se as pessoa a sua volta concordavam ou não. Eu seria sua amiga e estaria ao seu lado.

-Ei, quer fazer o favor de prestar a atenção! -Cristina jogou uma torrada em minha testa.

Estávamos eu, Cristina e Mariana na lanchonete do hospital ao redor de uma pequena mesa de plástico fazendo uma pausa para o lanche, junto de um grupinho de enfermeiras fofoqueiras que não paravam de tagarelar enquanto minha mente divagava longe em outros assuntos.

-Sua língua venenosa não se cansa, não? -retribuí o ataque com uma bolinha de guardanapo.

Lógico, eu é que não iria desperdiçar comida.

-Cala boca e escuta. -resmungou se debruçando sobre a mesa para escutar melhor o que uma senhora magra e de tranças escuras presas no alto da cabeça, uma das mais antigas enfermeiras do hospital, dizia.

-...aí a amante do paciente do 215 pegou ele na cama com atual esposa, de quem ele estava se separando, saiu furiosa da casa e ficou esperando o tempo todo do lado de fora. Quando o coitado saiu, a miserável  avançou com  carro para cima dele. -suas colegas riram e nós as acompanhamos.

Eu até tentei segurar o riso porque o cara acabou ferido no final da história, mas era bem cômico o fato de que o marido sem vergonha tenha levado a pior ao invés da esposa traída. Porque muitas das vezes, já ouvi casos de que as amantes enlouquecem e partem para cima da pessoa que nada tem haver com a confusão.

-Eu acho que de coitado ele não tem nada. Ele é um safado. Não que isso justifique a ação da amante, é óbvio. O que ela fez foi crime. E o que aconteceu com ela no final das contas? -Mariana indagou curiosa.

-Ela foi presa, claro. Acho que por tentativa de homicídio ou sei lá o que já que ela fugiu do local, mas foi pega alguns horas depois em um bairro do outro lado da cidade. O cara chegou aqui com fraturas nas pernas, na pélvis e uma concussão na cabeça. Mas​ ele vai ficar bem. -a senhora meneou a cabeça como se não ligasse muito para aquilo ou já estivesse acostumada com esse tipo de coisa.

Nessa hora meu celular vibrou sobre a mesa e eu o desbloqueei para conferir a nova notificação. Uma entrada na emergência. Eu era médica do trauma, estavam me chamando.  Peguei meu jaleco do encosto da cadeira e o vesti ao me levantar. Deixei as meninas conversando para trás e segui correndo por entre as pessoas . Empurrei um e outro para abrir caminho até chegar a emergência. Antes mesmo de colocar as luvas, me aproximei da maca que era empurrada pelos paramédicos na entrada e assim que meus olhos pousaram sobre o paciente meu coração perdeu uma batida. Senti o sangue latejar em meus ouvidos e as vozes das pessoas se perderem em minha volta. Eu não conseguia compreender nada do que me diziam. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo!

-Vovó...- eu chamei com a voz fraca ao notar a pele pálida de seu rosto desacordado.

✿✿✿  

Hi, people! Saudações terráqueos, tudo bem por aí? Então tá bem. Não esqueça de deixar sua estrelinha e seu comentário, tá bem? Então é isso. Que a força esteja com você ;)

Beijos borrocados de batom 😘😘

Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]Where stories live. Discover now