Capítulo 25

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"A credulidade é uma forma de evitar o desespero, a desilusão - de evitar o medo da morte." -Eco, Umberto.

[Fernanda]

Foram necessárias exatamente vinte e quatro horas para a constatação do óbvio.

Mas eu ainda me recusava a acreditar.

*

Tive que me afastar de Rafael depois que ele foi internado na UTI em estado estável, mas com um alto risco de... partir a qualquer momento, se seu corpo não começasse a reagir aos tratamentos.

 Aquele idiota estava em coma em induzido por hora, mas de tempos em tempos as drogas seriam diminuídas do seu organismo para a verificação do progresso clínico do paciente.

Quem diria... que um dia o paciente em minha mesa de cirurgia seria meu amigo e companheiro de profissão, Rafael. Era meio surreal para mim.

-Você vai se atrasar para o início do seu turno. -Mariana avisou parando ao meu lado e encarou assim como eu através da janela de vidro que separava a unidade de tratamento intensivo dos outros setores de menos risco.

-O Rafael é tão... -eu deixei a frase morrer no meio do caminho.

-Idiota? Isso todo mundo sabe. Certamente ele estaria fazendo uma piada muito sem graça numa hora como essa. -ela comentou.

Nós rimos, porque era verdade.

Do outro lado do vidro, deitado em um leito hospitalar estava Rafael, cheios de fios, tubos, talas e maquinas apitando ritmicamente ao seu redor sem que ele o percebesse.

Rafael estava tão pálido quanto os lençóis de cama e seu rosto, grande motivo de sua vaidade, agora trazia hematomas arroxeados, cortes profundos e superficiais suturados, mas que exibiam cores entre o rosa pálido ao vermelho vivo. Ele estava muito ferido. Eu queria saber se ele sentiu muita dor ou se já estava desmaiado quando a maioria dos machucados externos foram feitos. O que será que ele pensou quando tudo aconteceu? Ele teve tempo para pensar em algo? Essas e outras perguntas inundavam minha mente como a maré do mar quando estava alta. 

 Se eu sentia uma coisa estranha, uma sensação sufocando meu coração só de olhar para a situação crítica em que estava, imagino o que ele estaria também sentindo. Se é que ele estava sentindo alguma coisa, devido tamanho estado de entorpecimento devido as drogas em seu organismo.

Era uma droga estar aqui fora sem ele. Rafa era a parte do diabinho arteiro do nosso grupo. Ele estava sempre atiçando e provocando a tudo e a todos, e é óbvio, constantemente era o alvo de depreciações por parte de Cristina e Isabel.

-Eu já vou indo. Qualquer notícia sobre o bobão, manda uma mensagem, ok? -Mariana se afastou da janela e me fitou de forma preocupada com seus grandes olhos castanhos.

-Eu aviso. -acenei com a cabeça em concordância e logo após ela se retirou me deixando sozinha.

-Vamos Rafa, reaja. -eu murmurei uma prece silenciosa ao olhar para Rafael e me afastei seguindo a passos pesados pelo corredor de azulejos brancos da ala médica.

Ao término de um procedimento cirúrgico de grande risco em uma paciente grávida em seu sétimo mês de gestação, passo pelas portas automáticas da sala de cirurgia e jogo no lixo meu avental, luvas e máscara descartáveis.

-E aí, como o Rafael está? Ainda não tive tempo de subir para vê-lo. -Lucas perguntou ao sair logo em seguida da mesma sala de cirurgia que dividimos pelas dez horas anteriores e me acompanhando pelo caminho.

Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]Where stories live. Discover now