Capítulo 33

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"Levante. Ande, siga em frente. Vire a página, ou melhor, comece um novo livro." -Desconhecido.


[Fernanda]

Eu tinha acabado de sair de uma pequena cirurgia e estava tão faminta que nem ao menos pensei em fazer uma troca de roupa antes de me dirigir diretamente para o refeitório, afim de alimentar as lombrigas que dançavam ragatanga em meu estômago. 

-E aí, paspalho? Estava fazendo o que para matar o tempo? -perguntei lançando um braço ao redor do pescoço de Rafael enquanto nos dirigíamos para uma mesa afastada onde Cristina e Mariana estavam sentadas.

Mariana tagarelava sem filtro sem perceber que nos aproximávamos e Cristina mantinha os olhos voltados para a tela do celular fitando algo sem muito interesse. Provavelmente era só uma velha tática para ignorar o falatório da outra a sua frente.

-Ah, você sabe. O de sempre. -ele deu de ombros com um sorriso debochado desenhando o rosto.  -Matando alguns residentes aqui, mutilando outros internos ali... -ele completou jogando-se no acento ao lado de Cristina.

-Olha aquilo ali. -Mariana apontou com a cabeça para uma mesa mais afastada de nós. 

Eu e Rafael nos viramos para olhar o que ela indicava, porém Cristina continuou do mesmo modo, sem dar a mínima para a conversa a sua volta.

-O que que tem? -Rafael pescou uma batatinha no prato da mesma.

-Vocês não ficam nem um pouco comovidos com a solidão da garota? Desde que começou a trabalhar para o sargento, ela sempre tem feito suas refeições sozinha. -Mari respondeu.

-E daí? -Cristina resmungou ainda grudada ao aparelho que estava em suas mãos.

-Ela até que é bonitinha, hein? Qual o nome dela mesmo? -Rafael indagou agora com sua atenção voltada para a garota a que se referiam. 

-Larissa. Ela é a secretária do Vicente. -fui eu que respondi dessa vez.

-Hum... Acho que vou chama-la para sair um dia desses. -ele comentou de maneira displicente. 

-Nem pensar, garotão. -Cristina se intrometeu.

-Por que não? Acha que sou muita areia para o caminhãozinho dela? Não faz mal, eu não ligo. -ele disse sorrindo arrogantemente.

-Não, idiota. -ela bufou. -Você deve ter batido forte com a cabeça ou se esqueceu do fato de desgostamos de Vicente Salazar, vulgo sargento do inferno. Ele foi um pé no saco com a gente esses anos todos e ainda é. Até a Fernanda o odeia, afinal ele é ex dela, e essa é uma das funções de um ex, ser odiado pelo outro ex. 

-Eu não o odeio. -argumentei estupefata.

-Enfim, como eu dizia. -ignorando meu protesto ela continuou a falar. -Ela é território proibido, vai caçar em outro terreiro Rafael. Porque secretária de cobra, cobra é. E se nós a odiamos, você também tem que odiar.

-Coitada, ela não tem culpa de nada. -eu murmurei negando com um gesto de cabeça.

-Como não? Se você trabalha para o filhote do mal, isso não te torna uma cria maligna do mesmo? -Cristina comentou cáustica.

-Ah, tenha dó, Cristina. Você não está muito longe de ser a mesma coisa. Acho até que no fundo, no fundo, queria ser igualzinha a ele quando crescesse. -Mariana rebateu impaciente. 

-Meninas, meninas. Isso é bem excitante, mas vamos parar com isso. Eu não aguento mais ouvir vocês discutindo sem motivo por minutos a fio. Deem um pouco de sossego a meus ouvidos, por Deus! -Rafael grunhiu insatisfeito com o rumo que a conversa havia tomado.

Subordinados -Os Bertottis #2 [Completo]Where stories live. Discover now