No outro dia, acordei mais cedo que o despertador. Aproveitei para tomar banho e lavar o cabelo.Sai do box com a toalha enrolada na cabeça, fui para o closet e passei hidratante no meu corpo, vesti uma calcinha de renda e uma legging preta, já que hoje era dia de educação física. Vesti o uniforme da escola, borrifei perfume. Coloquei meu colar com meu nome. Sai catando minha mochila e as coisas da aula de hoje. Calcei meu tênis e desci.
Tomei café em silêncio, não aguentava mais olhar pra cara de Soraia. Desci assim que o uber avisou que chegou.
O dia na escola passou arrastando.
Na hora da saída mandei mensagem pra papai avisando que ia pra casa de uma amiga fazer trabalho.
Dandin veio nos buscar.
Dandin: Fala cocotas! E ai, delícia. – deu um selinho na Nanda.
Jade: Margente...Lore: Já tão assim eles.
Dandin: Recalque é pecado, cês vão pro inferno.
Nanda: Logo você falando de pecado? – riu.
Dandin: Ihhh, qual foi, sou trabalhador, pô.
Lore: Vendedor, né?! – gargalhei.
Dandin: Nem tão ligadas e tão nessa.Fomos o caminho todo rindo das besteiras que Dandin falava.
...
Montamos nossa maquete de química e aproveitamos para fazer o trabalho de biologia.
Quando anoiteceu Lore disse que ia nos levar até o pé do morro para pegarmos um táxi porque estava tendo blitz na pista.
Descemos o morro a pé.
Eu já estava morta de tanta escada, vielas, morro, becos...
Jade: Viado, cê não cansa dessas escadarias todas não? – disse um pouco ofegante.
Lore: Acostumei. – ela riu.Um menino chutou a bola errado e a bola veio em nossa direção. Nanda dominou a bola e devolveu.
Lore: Olha essa bola, Pierre.
Pierre: Foi mal, tia, valeu ai! – ela assentiu. Ele chutou a bola voltando a brincar.
Continuamos a descer.
Eu estava "admirada" com a favela. Diferente do que passa na televisão, aqui não tem só tiro. As ruas são movimentadas, as crianças ficam na rua e tem muitos comércios por aqui.
Algumas pessoas até pareciam ser simpáticas, outras olhavam torto.
Lore era bem "popular" por aqui, quase todo mundo a cumprimentava. Acho que é por causa do Malvadão, o irmão dela.
Ao chegar no pé do morro, pegamos o primeiro táxi que apareceu.
Cheguei em casa e tava quieta demais. Subi direto pro meu quarto pra tomar um banho.
...
Sai do banho enrolada e fui para o closet.
Passei hidratante no corpo, vesti uma calcinha, um short de pano molinho e uma regata rosa bebê. Fiz um coque no cabelo e comecei limpar meu rosto com água micelar.
Matilda: Jadoca?
Jade: Tô aqui! – gritei do closet. Terminei de limpar o rosto.
Matilda: Nem te vi chegar.
Jade: Pensei que nem estava mais aqui. – sorri. Ela suspirou e abaixou o olhar. – O que foi, Matilda?
Matilda: Menina, seu pai sofreu um infarto hoje a tarde.Jade: O que? – me espantei. – E onde ele está? Ele está bem? – perguntei preocupada.
Matilda: Ele no hospital... – me troquei rapidamente enquanto ela me passava o endereço.Coloquei um macacão midi florido, calcei minha melissa sandal salina. Soltei o cabelo jogando pro lado; catei uma bolsa colocando os documentos e meu celular.
Chamei um uber e parti pro hospital que papai estava.
Cheguei na recepção do hospital e estava com pouca gente.
Jade: Boa noite. Queria informações do paciente George Beckshauser. – ela assentiu e verificou no computador.
Recepcionista: Ele está no quarto 408.Jade: Posso vê-lo?
Recepcionista: Desculpa, mas ele já tem uma acompanhante no quarto.
Jade: Por favor! Ele é meu pai! – choraminguei. Ela suspirou. Olhou pros lados, pegou um adesivo e me deu.
Recepcionista: Se perguntarem, você só saiu para comer alguma coisa. – sorri pra ela e assenti.Fui até o elevador e apertei o andar do quarto de papai.
...
Adentrei o quarto. Papai estava deitado cochilando e Soraia mexendo no ipad dela.
Jade: Esperava no mínimo uma ligação avisando! – disse seca. Fechei a porta e fui até papai. Soraia me olhou e deu um sorriso sínico.
Soraia: Descarregou! – mostrou o celular. Lancei um olhar mortal pra ela.
George: Minha menina! – disse um pouco fraco. Desviei o olhar pra ele.
Jade: Papai! – sorri. – O que aconteceu, hein?
George: Nada demais, estou pronto pra outra.
Jade: Outra nada. Para com isso! – abracei ele. Escutamos um pigarro. Era o médico.
Doutor: Boa noite. Desculpa atrapalhar. – sorriu simpático.George: Que nada! – me afastei e papai se ajeitou.
Jade: Então, Doutor, como ele está?George: Novinho em folha, fala pra ela. – o médico riu.
Doutor: Bom, não tão novinho assim.George: Que isso, rapaz! – tossiu.
Doutor: Desculpa, Senhor George! – sorriu. – O senhor já está numa idade avançada para emoções, o coração não é como antes. Por isso, vou te receitar um remédio de pressão. – disse fazendo anotações. Soraia levantou vindo até nós. O médico estendeu a receita.
Soraia: Vou passar na farmácia pra comprar hoje mesmo. – pegou a receita da mão do médico.
Jade: Me dá isso aqui! – a olhei brava e peguei a receita da mão dela. – Eu hien, abusada! – comecei a ler a receita. Não tava entendendo nada de nada. Fiz uma careta e escutei o riso do médico.George: Linda minha filha, né, doutor? – olhei pra papai e depois pro médico que me encarava.
Doutor: Isso eu não posso negar!
George: Puxou a mãe, tanto na beleza, quanto no gênero, explosiva, mandona... – dizia com um sorriso bobo ao lembrar de mamãe.Doutor: Não acho ela parecida com a mãe. – se referiu a Soraia. – Parece mais com o senhor.
Jade: Deus me livre essa bruxa paleolítica ser minha mãe. – o médico ficou surpreso e prendeu o riso.
Soraia: Olha só, menina...
George: Parem vocês duas. – tossiu.
Doutor: Então, meninas, como eu disse: o senhor George não pode ficar se estressando à toa. Preciso que ele tome esse remédio e faça exames rotineiramente de 3 em 3 meses. Quero acompanha-lo nessa caminhada. – assenti.
O doutor gatão deu mais uma série de recomendações e disse que na manhã seguinte papai seria liberado.
Tive que discutir com Soraia mais uma vez pra ela me deixar dormir com papai aqui. Por fim ela foi embora bufando.
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Coração sem vergonha.
Narrativa generaleA gente passa a vida querendo o muito, quando só o pouco nos faz feliz. E o pouco na maioria das vezes é o muito. O pouco. O pequeno. O minúsculo. Normalmente, nossas vidas sempre mudam drasticamente por causa de pequenos detalhes.