Nesses últimos dias minha vida deu uma reviravolta. Papai não estava reagindo aos remédios e estava muito fraco. Soraia me culpava a todo tempo e eu nem rebatia, só chorava. As meninas vieram visitar papai quando trouxeram as matérias da escola pra mim.
Eu fico o dia todo com papai, às vezes, quando Soraia está de boa vontade de vir aqui, eu vou pra escola. Mas é da escola pro hospital. Soraia quase não fica aqui e eu só estou observando a voltinha que o pé dela está dando. Sempre soube que essa bruxa não prestava e só queria o dinheiro de papai, além de morrer de inveja da minha mãe.
Eu estava fazendo carinho em papai, quando ele abriu os olhos e me olhou. Ele deu um sorriso fraco e eu sorri de volta.
Jade: Melhora logo, papai.
George: Sua mãe te amava. Ela não te rejeitou. Acontece que sua mãe era independente, passarinho que gostava de voar e eu não a impedia. Ela é artista plástica e vivia a fazer suas exposições. Só que teve uma vez que eu vacilei e quando ela chegou me pegou na cama com Soraia. Sua mãe não me perdoou e foi embora. Ela queria te levar, mas nós dois sabíamos que a rotina incerta dela não era boa pra você. – tossiu. As lágrimas já desciam inconstantes.
Jade: Por que você nunca me contou isso? – falei com a voz falha.
George: Eu não queria que você sentisse ódio de mim. – suspirei.
Jade: Eu nunca vou sentir ódio de você, papai. – ele sorriu.
George: Que bom! – tossiu e adormeceu.
Jade: Papai? – ele não respondeu. – Pai? – falei mais alto. O desespero começou a bater. O rosto dele caiu. – Pai! – gritei quando o aparelho começou a apitar. – ALGUÉM ME AJUDA!!! – gritei chorando. Sai do quarto gritando por ajuda. Logo vieram as enfermeiras e o doutor Ricardo.
Sentei no chão do corredor e chorei de soluçar. Liguei pra Nanda, mas não consegui falar, eu só chorava.
Doutor Ricardo saiu do quarto. Olhei pra ele esperançosa, mas ele abaixou o olhar e fez uma cara de pêsames.
Ai que eu abri o berreiro mesmo. Meu Deus, o meu pai. A única pessoa que eu tinha na vida! Por que isso tá acontecendo comigo?
Nanda logo chegou e veio até a mim me abraçando forte. Eu não conseguia nem sair do chão de tão arrasada que eu estava. E agora? O que vai ser de mim?
...
Graças a Deus eu tenho amigas maravilhosas que agiram tudo pra mim. Velório, enterro. Tudo. Papai tinha plano que cobria essas coisas, o que ajudou muito.
Soraia sequer foi no velório ou no enterro.
Saindo do enterro, eu fui direto pra casa, eu só queria me dopar e dormir muito.
Quando cheguei em casa, me deparei com um monte de malas na sala. A bruxa vai embora? Ufa!
Soraia desceu me olhando vitoriosa. Eu nem iria discutir, não tinha pique. Ela parou no pé da escada e ficou me olhando. Fui até lá.
Jade: Me dá licença?
Soraia: Pra onde você pensa que vai?
Jade: Soraia, por favor. Eu só quero ir pro meu quarto e dormir. – ela sorriu fria.
Soraia: Seu quarto? – debochou. – Essa casa é minha. Não tem nada seu aqui! – encarei sem expressão. Eu estava tão abalada que nem estava raciocinando direito. – Anda, sai da minha casa!
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Coração sem vergonha.
General FictionA gente passa a vida querendo o muito, quando só o pouco nos faz feliz. E o pouco na maioria das vezes é o muito. O pouco. O pequeno. O minúsculo. Normalmente, nossas vidas sempre mudam drasticamente por causa de pequenos detalhes.