Coração sem vergonha.

#5

Uns meses depois...

Depois daquele episódio, papai melhorou muito, porém está tomando remédio pra controlar a pressão e o doutor Ricardo disse que agora ele terá que tomar para sempre.

Minhas brigas com Soraia se tornaram mais frequentes, eu até procuro evitar, mas essa mulher... Parece o capeta! Às vezes eu saio até de casa pra não meter a mão na cara dela, pra mim isso não seria um problema, mas papai não pode ficar se estressando.

Hoje é sábado e eu estou na casa da Lore desde ontem. Ontem a gente foi num pagofunk e hoje tem baile.

Eu disse pra papai que eu estou passando o final de semana na casa de praia de uma amiga, como a Nanda também meteu essa pra tia dela, nem dá pra desconfiar.

Estavamos terminando de nos maquiar.

Eu estava com cropped rosê ciganinha canelado e um short jeans de cós alto preto com zíper transparente atrás.

Passei um batom matte escuro terminando minha make. Calcei minha sandália meia pata de salto grosso cor caramelo. Coloquei minha argola e uma gargantilha. Me perfumei mais um pouco.

Lore: Nossa, assim tu para o baile.
Jade: Como diz a Ericka: hoje eu vou dar meu nome! - elas gargalharam.

Nanda estava com um short colado de tecido florido, um cropped preto de frente única e uma melissa Peace VI preta; Lore estava com um vestido de veludo preto frente única e trançado atrás e um salto tratorado preto.

Malvadão: Bora, caralho, vou deixar vocês de pista! - gritou.
Lore: Bora logo que hoje ele tá estressadinho. - revirou os olhos. Catei meu celular e fomos.

Malvadão não tirava os olhos de mim, mas também não trocamos nenhuma palavra. Ontem ele estava todo drogado e ignorante, ainda me chamou de piranha só porque estava dançando com um dos vapores do morro. Eu não vi nada demais nisso, e mesmo que fosse, quem ele acha que é pra falar alguma coisa? Eu hein, me poupe!

Ao chegarmos na quadra, descemos do carro e entramos junto com Malvadão. Algumas pessoas olhavam e cumprimentavam o Malvadão e a Lore, outras só olhavam.

Chegamos na "área" vip dos meninos do tráfico e encontramos com Preta e Ericka.

Ericka: Nossa, que delícia esse baile tá uma uva! - cantarolou alto chamando nossa atenção e fomos na sua direção.
Preta: Demora do cacete, hein!
Nanda: Ih, filhas, requer tempo manter essa belezura aqui. - jogou o cabelo.
Ericka: Ih olha ela! - fez cara de nojo. Nanda mandou língua e riu.
Lore: Bora beber, manas. Tô na sede.
Jade: Quando não tá, né?! - ri.

Fomos até uma barraquinha e pedimos nossa bebida.

...

"O Malvadão do Complexo sabota elas porque elas são piranha, deixa elas doidona de balinha e de maconha e que elas entrar na onda bota pra brincar na anaconda..."

O dj sempre mudava as montagem pro nome do Malvadão que dançava colocando a arma pro alto.

As meninas e eu dançávamos no ritmo da música. Nesse momento eu já tinha feito um coque no cabelo por já está suada de tanto dançar.

"Uma vez piranha, sempre piranha. Nasceu piranha e vai morrer piranha!"

Ericka cantarolou enquanto olhava pra Karolen, que estava de braços cruzados olhando com cara de bunda.

Ihhh, longa história... Nesse tempo que passou, eu passei a frequentar cada vez mais o morro e já tô adepta aos barracos. Ericka e Dudu tem um caso mal resolvido, mas agora eles estão se assumindo aos poucos. Karolen é a "amante" de Dudu, motivo das brigas deles, já que ela não sai de cima do Dudu.

Lore: Eu quero ver sangue! - gargalhou.
Dandin: Cês são muito barraqueiras, rapá! - disse abraçando a Nanda por trás. Nanda e Dandin estão ficando sérissimo.
Nanda: Afronta mesmo, amiga. Se fosse eu já tava rolando no chão.
Dandin: A Japa é a patricinha mais favelada que eu conheço.
Nanda: Patricinha é o seu cu, meu anjo. - as meninas e eu gargalhamos.
Dandin: Ô rapá, respeita o cu de sujeito homem! - deu um pedala nela. Ela revirou os olhos.
Preta: Quero saber cadê o meu macho! - falou olhando em volta. - Deixa ele vi de graça, quem vai fazer barraco aqui sou eu.
Kikito: Ê faladeira! - soprou a fumaça e jogou a ponta do baseado no chão.
Preta: Onde tu tava? - colocou a mão na cintura.
Kikito: Te olhando ali do canto.
Preta: Erick, Erick...
Kikito: Ananda, Ananda... - debochou. Ela jogou o cabelo e virou o rosto empinando o nariz.

"Ohhh novinha hoje vai ser diferente, tu vai foder com os cara inteligente, que no helipe os cara até te dá moral, mas no Rio de Janeiro tu só ganha pau!"

Coloquei a mão no joelho e joguei a bunda descendo até o chão junto com a Lore.

Tikão e Malvadão se aproximaram.

Tikão: Se tu pagar calcinha eu te levo arrastada pra casa. - disse olhando pra Lore que continuou dançando como se nem fosse com ela.

O dj soltou a tabacada acelerada no ritmo da macumbinha e Kikito e Tikão começaram se desafiar na rodinha. Logo, já tinha formado uma rodinha no meio do baile e toda hora um entrava na roda e saia pra outro entrar. Criança, menina e menino. Eu estava amando aquilo!