Sangue sobre o mármore - Adenna

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   Assim que a rainha Brylee Everleigh partiu por seu portal, aquela combinação magica com cheiro de natureza e vida, deixando a nós, meros mortais confusos e impotentes diante ao seu poder e beleza. Todos direcionaram seus olhares a princesa Atarah, as dúvidas eram infinitas. Quando tinha nascido, ela tinha sido a única nobre Bruxa a receber um presente das Terras Férteis, em seu aniversário de maior idade recebeu a presença da fêmea mais importante e relevante da história, uma lenda. O que Atarah tinha de diferente para ser capaz de ter tamanho poder e influência? Não poderia ser apenas ela ter um lugar de direito escolhido pelos deuses, todos os monarcas diziam isso.

   Aproveitei da comoção, que tirou boa parte das atenções da princesa, e caminhei rapidamente até ela. A cada segundo que se passava, era um segundo perdido... Deveria ter usado do momento em que nos encontramos no segundo andar, mas me vi tão impotente naquele momento, tão fraca... Não podia fraquejar, perder outra oportunidade. Precisava que Atarah me apoiasse, que aceitasse minha proposta, que possibilitasse que o plano "B" fosse completamente descartado... Ou quem sabe, no futuro, não houvesse mais um castelo branco para que a rainha das Terras Feéricas pudesse visitar. Igual não haveria reino para que Atarah regesse.

   Quando a princesa se virou, quando todas as atenções se voltaram novamente para o que acontecia no salão, poderia dizer que Atarah estava confusa, até um tanto preocupada, mas seu desdém logo se sobrepôs a qualquer outro sentimento que expressava. Sua arrogância era uma mascara que era destinada apenas a mim e a qualquer um que ela não considerasse de real utilidade para ela. Só que nós tínhamos um passado, uma história, uma traição e um ego ferido... Tínhamos mágoas. A nossa distância de cerca de dez passos ainda se assimilavam a um abismo, mesmo assim, a sensação de nada me atingiu. Não havia magia... Aquilo parecia impossível, teria reparado antes... Só que... Atarah tinha magia, uma avassaladora, uma que fazia todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Não fazia sentido não sentir aquilo, não existir... Realmente não significava nada para ela, ao ponto de nem me dignar a me assustar com seu poder.

   Fiz uma reverência bonita, indicando minha intenção com ela. Dançar com a alguém que me detestava não soava a ideia mais inteligente de todas, só que estava segura. Sim, eu estava segura, até que os rebeldes agissem, então ninguém mais estaria seguro. Todos estaríamos indubitavelmente condenados... Tentei manter a cabeça erguida enquanto caminhava até ela, era difícil não desistir, não fugir, só que não podia fraquejar, não! Eu era forte... Do meu modo, era capaz!

   Atarah tinha o desejo de apagar a minha chama, a minha vontade, a vontade do povo, a nossa causa, mas mostraria para ela que, se necessário, também conseguia ser mais do que um simples rosto, que também tinha o desejo de um Norte próspero, que estaria disposta a sacrificar o meu ego para evitar uma guerra... Sim... Guerra... Foi a primeira coisa que pensei ao receber o convite do aniversário da princesa. Não sabia dizer se era uma piada ou, de fato, uma tentativa de uma oferta de paz, mas não existiria paz... Não, paz era uma ilusão, eles queriam apenas nos calar, queriam apenas agradar os poderosos de todas as áreas e manter o povo marginalizado em silêncio. Só que isso resultaria em guerra, o convite feito foi mais uma afronta e uma ofensa do que um pedido de paz. Enquanto meu pai não assumisse o estado, ele não estaria satisfeito, enquanto o rei não convencesse a todos a seguirem, sem questionar, as suas ordens, também haveria guerra. Ela soava inevitável e Atarah não se unisse a mim, nossos pais não entrariam em um acordo jamais, mas nós podíamos ser diferentes, nós éramos diferentes. Como aliadas, seriamos imbatíveis... Como já tínhamos sido um dia...


   Nossa casa estava lotada, como sempre, eram cerca de uma da manhã, mesmo assim, o clima parecia de que a noite havia apenas começado. Todos estavam animados. Balderik estava ao meu lado, nós riamos de algo bobo, enquanto observávamos Blyana e Alastair do lado oposto da sala, os dois estavam em uma conversa discreta enquanto observavam as pessoas da casa. Alastair era sempre daquele jeito, podia não se envolver ativamente, mas sempre soube de tudo, sempre esteve ali, escutando, ignorando e dando sutis sugestões. A mansão em que vivíamos estava na parte mais afastada da cidade, tínhamos reformado ela por completo, a primeira vez que entramos, não passavam de ruínas, entretanto, junto com os demais revolucionários, reerguemos aquela deslumbrante casa das cinzas. Por não ter sido um trabalho pago, feito apenas por união e identificação, nossa casa sempre teve as portas abertas a todos aqueles que desejassem entrar. Isso a fazia nunca estar vazia, o que adorava. Sempre adorei estar rodeada de pessoas, de histórias e de barulho. Aquilo era o que me trazia a sensação de casa, de acolhimento.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora