Gelo e fogo - Atarah

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   A noite não tinha sido fácil, dormir não tinha sido algo que desejava, mas meu corpo estava cansado demais para lidar com o que me cercava. Queria parar de pensar, queria não raciocinar nada, infelizmente em meio às lágrimas pensava em meus próximos passos, em como teria que eliminar qualquer um que pudesse tentar reivindicar a minha coroa pelo sangue Kalliste em suas veias. Qualquer um deles seria uma ameaça... Assim que Lorde Arden Pérseus chegasse a capital poderia pensar com mais clareza no assunto, pois se o conseguisse como um aliado, ninguém no Norte poderia conspirar contra mim... Além daquele que já tinham deixado declarado seu desagrado em meu aniversário.

   Assim que adormeci, me vi novamente na minha infância. Presa em uma memória que seria capaz de oferecer metade das riquezas do Norte para esquecer. Mesmo sendo uma memória feliz, de uma época dourada, repleta de amor, esperança e felicidade... Eu corria pelos corredores secretos do castelo, seguindo minha melhor amiga, Adenna. Riamos baixinho enquanto cuidávamos para não cairmos nos estreitos e desnivelados corredores ocultos, naquele dia em especifico minhas aulas de magia haviam acabado mais cedo, não era possível ensinar muitas coisas a uma criança que ainda não tinha demonstrado um único sinal de magia, mesmo possuindo um poço enorme, ele parecia vazio... Adormecido era a melhor palavra. Minha mãe tentava me tranquilizar dizendo que era comum levar mais tempo para "o despertar", que ele costumava ocorrer apenas após o primeiro sangramento... Só que eu era a única criança da minha idade que ainda não tinha despertado a própria magia... Eu era a princesa herdeira! Não podia ser a última, não podia me dar ao luxo de nunca despertar, não podia ser defeituosa.

   Estávamos muito animadas naquela semana, afinal, nossos pais tinham planejado nos levar em sua caçada. Já tinha caçado com meus pais outras vezes, em eventos esportivos, mas eram em territórios pertencentes a algum nobre do país, nunca em uma floresta, jamais na grande e enorme Floresta do Norte. Aquele era um evento que estava sendo discutido e organizado há muito tempo, já que não era um lugar propicio para falhas. O que não faltava naquela floresta eram lendas, dizia-se que Rionach, uma das duas criaturas do folclore nortenho, que era um urso muito maior que a maioria, totalmente imune ao fogo, responsável por proteger as criaturas mágicas da floresta, com a capacidade magica capaz de incendiar grandes áreas, causando incêndios florestais enormes, caso se sentisse ameaçado. As pessoas popularmente falavam aos seus animais, como elogio, que eles eram tão espertos quanto Rionach, tão corajoso quanto, tão forte ou tão introvertido... Nenhum homem havia cruzado com a criatura das lendas, o que era tanto um alívio quanto um desapontamento. Não se sabia se ele era real ao não, já que ele era conhecido por se manter distante de humanos.

   Meu pai havia me feito à promessa que, após eu me casar, quando já fosse uma caçadora de mão cheia e uma Bruxa de excelência, iríamos juntos novamente para a floresta do Norte para caçar Rionach e, caso fossemos capazes de mata-lo, faríamos uma bela capa para mim, eu havia incentivado que deveríamos ir ao Leste, que era um lugar frio, apenas para mostrar aos Melantha o poder da família Kalliste, mostrar ao meu primo que eu havia sido capaz de matar uma criatura mística, uma lenda, um presente dos deuses as terras... Infelizmente isso jamais aconteceria, já que agora meu pai estava morto.

   Minhas mãos eram pequenas, meus cabelos longos, mesmo amarrados em um rabo-de-cavalo alto. Não vestia um dos meus típicos e luxuosos vestidos rodados, o que não me entristecia, adorava usar calças, mesmo não sendo algo muito bem visto pelas demais sociedades. Em caçadas, principalmente no Norte, era comum entre a alta sociedade, era o momento em que as mulheres com maridos e famílias mais poderosas e liberais demonstravam suas habilidades. Minha mãe tinha incentivado as mulheres, pois mesmo elas possuindo a oportunidade, elas não utilizavam do benefício. No Leste os nobres, principalmente as esposas, desejavam ser o mais inúteis possível, já que a arte de não fazer nada era apenas destinada a aqueles que podiam pagar por ela... E não havia muitas pessoas no Leste que podiam fazer isso.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now