Aislinn - Atarah

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Assim que cheguei, em menos de segundos, nas Terras Férteis foi como um soco no estômago, não só pela beleza da capital, ela era repleta de enormes construções de pedra branca, com tanto verde de plantas que se esgueiravam nas coisas, e de um céu esplendidamente azul. Mas também pela viagem que havia me deixado muito tonta. Os guardas caminhavam para frente, parti da ideia que deveria segui-los. Lá era como um labirinto encantado, lindo, só que muito simples de se perder.

Havia diversos Elfos na cidade, e algumas Fadas. Todos se curvavam ao me ver, recebi diversos sorrisos e retribui todos. Enquanto caminhávamos pelas ruas de paralelepípedos perfeitos, olhava para as enormes estátuas, reis do passado? Deuses? Não sabia quem eram, mas eram enormes e lindas.

Logo a nossa frente havia um abismo, não tinha reparado no pequeno córrego que passava entre as divisas das pedras do chão, a água seguia até o abismo, era tanta que no final pareciam cachoeiras, e preso de alguma forma, havia um enorme palácio de cristal e vidro. A única coisa que unia a enorme construção com o resto eram quatro pontes.

Apenas agora percebia que o enorme abismo era em círculo. Aquelas pontes eram as únicas formas de acesso a ilha do palácio. O cheiro era algo tão diferente, uma mistura de floresta e magia e uma pitada de canela. O chão da ponte principal, que foi a que passamos, possuía o chão de vidro, dando assim para ver a queda. Uma que parecia infinita, era tão enorme que não era possível ver o fim, engoli em seco. Não tenho medo de altura, mas, e se essas estruturas não forem o suficiente para aguentar a construção?

Um rapaz que estava parado nas enormes portas riu como se escutasse minha dúvida. Ele era lindo, seus cabelos de um preto azulado e seus olhos de um roxo vivo. Estava de braços cruzados a minha espera.

- Fique tranquila, rainha Atarah. O palácio não despencará. - Os guardas pararam de andar, o Elfo moreno seguiu andando para dentro, entendi que deveria segui-lo. - Essa ilha é segurada com a vida da magia de mais de vinte mil Bruxos... Antigos escravos.

Historicamente os Feéricos já haviam dominado todas as Terras, mas as perderam para os Bruxos, então houve a divisão de território, nenhum Elfo mais poderia viver em Terras agora Bruxas. E nem nós nas deles. Quem estivesse em seu território estaria por conta própria. Ao invés de darem tempo de seus antigos escravos saírem, eles optaram em matar a todos, assim sua magia permaneceria no local, já que o sangue de seus familiares não estaria ali para libertá-los da terra. Para o caminho de sangue os tirarem do limbo.

- Do jeito que você fala até parece que vocês também não fizeram coisas terríveis.

- Saia da minha cabeça.

- Erga seus muros então. Está sobre meu território, posso fazer o que bem entender com você, Bruxinha.

Paramos em um enorme salão redondo, no piso de mármore claro estava gravado o desenho de uma enorme rosa dos ventos. Caminhei até ficar de frente para o Elfo. Ele possuía um sorriso malicioso nos lábios.

- Não acho uma ideia muito inteligente me ameaçar. Ando um pouco estressada, e minha paciência anda bem curta. E como convidada imagino que deveria estar sendo mais... Atencioso comigo, pois se eu o convidasse sem dúvida seria.

Seu rosto se tornou um mistério para mim, mas então a atenção de nós dois se voltou a Brylee, seus cabelos brancos enormes estavam soltos e uma coroa feita de prata em formato de estrelas era a única coisa que enfeitava sua cabeça. Seu vestido era comprido e leve, nem um pouco armado, bem justo em seu corpo, era branco coberto de brilho, do lado esquerdo possuía um rasgado que ia até o início de sua cocha. Era deslumbrante, mas também absurdamente escandaloso, exatamente como eu adoro.

Ela sorria enquanto se aproximava. O Feérico ao meu lado a cobiçava com os olhos, e assim que a rainha parou em nossa frente ele fez seu último comentário.

- Coisa cruel e linda. Acho que está na minha hora, tenho duas reuniões. - Ele olhou para mim. - Encontrarei ambas para o jantar.

E assim o lindo Elfo partiu. Assistimos juntas sua saída, assim que as grandes portas do salão se fecharam perguntei.

- Marido?

Brylee riu com isso.

- Não, apenas amante, mas me casaria com ele. O problema é que existe outro. E não me vejo escolhendo um. - A rainha fez uma curta pausa. - Fico feliz por ter aceitado meu convite. Agora venha, vamos trocar essas roupas. Mandei preparar alguns modelos para você.

A Feérica havia mandado preparar um quarto para mim também, quanto tempo ela espera que eu passe aqui? Os vestidos que a rainha havia mandado serem feitos eram lindos, de um azul gelo todos cobertos de pedras. Nenhum tinha saias volumosas, como eu gosto, mas nenhum era reto. Me sentia um pouco exposta com eles, mas o quanto estava me sentindo linda superava a vergonha.

Acabou que fiquei quatro noites dormindo naquele quarto. Brylee era engraçada e gentil, me apresentou sua capital inteira e a alguns súditos, mas sentia que havia algo mais, algo que ela estava me preparando.

Os jantares eram com seus dois amantes, o de cabelos azul escuro era bem humorado e agora se mostrava outra pessoa, era alguém diferente do que a que eu havia conhecido, segundo ele é uma mascara para afastar aqueles que o soam ameaça. Ele é um Feérico poderoso que nasceu em Gadina, uma cidade importante, seus pais eram os nobres da cidade.

Já seu outro amante tinha os cabelos iguais o da rainha, seus olhos eram verdes como a floresta que cerca Aislinn, e tinha uma tatuagem gigantesca que cobria metade de seu corpo, possuía um escrito na antiga língua Feérica, uma que apenas os mais nobres ou os mais velhos conheciam. Óbvio que nos de nossa espécie também temos uma, a língua Bruxa. Algo que pelo que percebi os Elfos não conseguem ler, aparentemente foi feita para isso mesmo. Os pedidos se socorro, os planos para o fim da escravidão, tudo era feito nessa antiga linguagem. A atual eles entendem. Ele não é tão bem humorado, mas tem ótimas histórias, e é visível que é perdidamente apaixonado por Brylee.

Agora entendia o porquê ela foi incapaz de escolher, eu também não saberia. Então a rainha me disse algo. Qual é o problema de amar os dois?

E essa era a verdade. Qual é o problema? Em um passeio ela disse que os três possuem quase a mesma idade. E isso me deixa bem deslocada, já que todos têm mais de setecentos anos, e eu tenho vinte. Se a vida deles não fosse tão comprida Brylee disse que teria casado com o dos olhos roxos, pois ela o conheceu primeiro, ele é engraçado, entenderia a escolha dela, mas acho que deixaria o outro de coração partido.

Na quarta noite acabei não conseguindo pegar no sono na velocidade de costume e escutei alguns murmurinhos no corredor, sei que era errado escutar a conversa dos outros, mas a citação de meu nome me intrigou. Então me levantei da cama e caminhei sem emitir um único ruído, o piso de mármore ajudou nesse quesito.

- Precisa contar a ela, Brylee. Sei que gosta da menina, mas é o destino dela... Foi à função que deixaram a você. - Não sabia quem dizia.

- Ela não estará segura no Norte, não sei se posso... Ter deixado Atarah ficar esses dias... Foi um erro.

- Amanhã a levará, a menina precisa saber do destino dela, o que ela é.

E com isso os passos começaram a ficar mais altos, mas nenhum foi em direção ao meu quarto, cada um seguiu um caminho diferente. Tentei entender, tentei juntar as peças, mas juntar com o que? Assim que me deitei comecei a mergulhar em meu poço, pois se eu precisasse de magia no próximo dia estaria pronta.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now