A rainha - Atarah

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   O primeiro homem que gostei havia me dito uma coisa, nós tínhamos idades muito distantes uma da outra, mas acreditava que ele me amava, acreditei que nosso amor poderia ser mais forte do que a opinião popular, que a negação dos meus pais. Claro, eu não passava de uma menina de quinze anos solitária e ele um homem de trinta e seis que estava entediado. Lorde Arden Pérseus podia ser mais velho, mas era cruelmente belo, uma beleza assustadora, cansada e morta, seus gostos por arte e literatura se assemelhavam muito aos meus, ele usou disso como conexão, sua aparência era admirada por mim pelas referências literárias dos vilões tão sedutores das histórias. Queria ser única, queria me sentir feminina e frágil, queria ser digna de ser tola pelo menos uma vez na vida.

   Nosso relacionamento era secreto, afinal, como princesa tinha uma obrigação de sangrar na primeira vez com o meu marido. Arden me ensinou como resolver esse problema futuro. Mesmo sendo um homem viúvo de dois casamentos, não possuía filhos, era solitário e herdeiro de muitas terras e riquezas, sem contar com seu exército digno de ser comentado. Nós sempre trocávamos olhares, às vezes conversávamos em eventos sociais, pensei em debutar mais cedo por ele. Coisas infantis e ridículas que nos submetemos por amor, no caso, que pensamos arduamente em fazer. Desejava ser dele, ao mesmo tempo, não queria que meu país fosse seu. Não era tola como desejava ser, me forçava a crer que seus sentimentos eram reais, assim como me obrigava a fingir que os meus também eram... Quem sabe, nós dois estivéssemos entediados e que ambos gostávamos daquele jogo.

   Certa noite havia fugido do meu quarto durante a madrugada, sempre com a ajuda dos servos leais dele. Fora do castelo podia ser quem desejasse ser, não era nada mais do que uma menina apaixonada, podia ser apenas a amante dele, nada mais do que uma em um milhão, podia frequentar festas completamente secretas e devassas sem ser reconhecida, podia ir às apresentações de poesia de tavernas no centro. Eu era apenas mais uma menina... Era bom, pois era errado e uma mentira, sabia que quando o sol nascesse voltaria a ser Atarah Kalliste, a princesa herdeira do Norte, uma menina que ainda era ingênua de mais para muitas coisas, que não tinha amigos e passava seus dias estudando. Deitada nos braços de Lorde Pérseus depois de uma noite de orgias e erva da sonegação, que era uma iguaria do Leste que te deixava completamente relaxado e um tanto lento, mas tudo se tornava muito divertido após fumá-la. Aquela era a minha outra vida, escutei certa vez que a luxúria e a devassidão eram as verdadeiras marcas da melhor e mais pura aristocracia, na época, aquilo me ofendeu, mas era verdade, todos os nobres tinham seus secretos, sem segredos... Qual seria a graça de viver?

   Seu corpo era muito definido para um homem da sua idade, isso era algo que me atraia nele, sua pele era mais acinzentada que o normal, seus cabelos loiros, já opacos pela idade, eram ondulados e sempre arrumados de um jeito fino e despojado, completamente único. Seu cheiro de charuto e vinho era ótimo de ser sentido de vez em quando. Arden fazia com que me sentisse adulta, não apenas isso, desejada e... Perigosa. Não por mim, ele não sabia do meu poço, isso provavelmente iria ferir seu ego como o de todos os nobres, me sentia perigosa por ele ser um homem perigoso. Hoje em dia percebo que era tolice minha acreditar que ele moveria um dedo por mim se não tivesse nada a ganhar ou caso não fosse descoberto.

   Sua voz era rouca, por conta dos longos anos de fumo, enquanto acariciava o topo da minha cabeça enquanto a descansava em seu peito, ouvindo as batidas do seu coração. Ele me chamou, olhei para seus olhos tom de mel, completamente desprovidos de esperança, ouvia suas palavras como se ele fosse um dos Seis Grandes Sábios, me guiando pelo queixo, nos sentamos em sua enorme e bagunçada cama. Raramente nos olhávamos com tamanha profundidade, suas palavras se tornaram mais marcantes por conta disso.

   "Olhe para você, minha pequena coisa preciosa... Você sempre foi tão maravilhosamente obediente e educada, que centenas de vezes pensei em raptá-la e prendê-la em meu castelo e passar os dias nos seus braços, mas por mais tentador que seja, sequestra-la e mantê-la só para mim, seria um desperdício não dividi-la nunca mais". Aquilo havia soado romântico para a apaixonada Atarah, mas soava vazio, como todas as declarações de amor de Lorde Pérseus. "Só que isso já está indo longe demais. Não posso amá-la, não devia tê-la" Meu estômago tinha gelado, era como se ele estivesse passando uma adaga no castelo de vidro que era o meu coração. Não demonstrei nada, me mantive sentada em completo silêncio o encarando. "Irei te ensinar como sobreviver, foi o que fiz... É difícil, mas você é como eu, se tivesse aprendido isso com alguém sábio na sua idade, provavelmente minha vida teria sido mais gloriosa... Aprenda minha querida, quanto mais pessoas você amar, mais fraca você será".

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now