O renascer - Merle

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(Anos atrás – Terra de Ninguém)

Estava escuro e eu estava obviamente sozinha, havia conseguido roubar mais uma faca de um corpo do beco. Essa era maior, e vi alguns homens falando que aquilo era uma adaga, por mim o nome é insignificante, desde que me mantenha viva. As noites nunca são fáceis, mas tenho doze anos de experiência com isso. Não será hoje que vou morrer. Certo, tenho doze anos de vida e quatro de experiência. Já que minha monstruosa mãe morreu. No fim ela e nada deu no mesmo.

Precisava passar pelo centro, preciso de comida. Coloquei minha touca e andei evitando olhar para os outros que passavam. Enxergava apena as luzes das chamas que queimavam, sempre tem algo pegando fogo aqui, às vezes até sou eu que começo os incêndios, mas não dá para resistir, as chamas são tão lindas, tão hipnotizantes, tão tentadoras.

Escutei uma mulher gritando, três homens estavam levando-a a um beco, parei para olhar. Era uma Bruxa. Dei de ombros e segui meu caminho. Esse não é o lugar dela. As pessoas se roubavam, e a cada vinte passos um novo corpo morto no caminho. Isso é o centro. A guerra que nós travamos contra nós mesmos. Não é muito inteligente, mas...

Dei de ombros, não me importo.
Estou com sede também, o problema de se viver em terras desérticas é que água não é lá a coisa mais simples de se conseguir. Sou uma Filha da Noite, quando meu povo surgiu nem água existia nas terras, não vou morrer. É um incomodo, mas não morremos disso.

Senti alguém me segurar por trás, colocando uma mão em minha boca e uma faca em meu pescoço, não dava para correr, e correr para onde? Não tenho para onde ir. E não existe ninguém me esperando retornar para casa. Tomará que ele me mate, pois em lugares como esse a morte as vezes pode ser uma benção.

– Olá garotinha. Está perdida? Sei de um lugar muito legal para você passar a noite, estará segura lá.

Revirei os olhos e com cuidado peguei minha faca, que chamam de adaga, e rapidamente virei para acertá-la em seu fígado. Assim que o perfurei, o homem me apertou com mais força e xingou, mas eu não apenas o furei, o rasguei. Assim que a arma entrou a puxei para o lado esquerdo com toda a força que possuía com aquela posição completamente desvantajosa.

Quando ele me soltou e colocou a mão no ferimento tentei manter a maior distância possível, apenas para pensar no que faria. Esse homem não sairia vivo de mim. Sou uma Filha do Caos, remorso por matar um desgraçado como ele? Tenho certeza que não sentirei. E estou de saco cheio dessas pessoas me agarrando pelas ruas. Estou cansada de sempre ser a vítima. De ser o bezerro fugindo dos lobos. Eu não os temo, pois posso ser pior que eles, posso ser um melhor terrivelmente pior que todos eles juntos. E eu serei. Algum dia eu serei...

Enquanto o velho, que nem era tão velho, analisava o ferimento, eu agi. A arma era bem mais afiada do que todas as outras que já havia tido. Corri para longe dele e da parede, e então voltei. Não sou alta, e nem muito forte, mas eu sei sobreviver. E vou provar isso. Assim que peguei impulso corri em direção a parede novamente, e dela coloquei os pés e me atirei contra o homem. Saltei para cima de seus ombros, atravessando seu rosto e parando em seus ombros, não sabia se daria certo, mas deu. Fiquei um pouco tonta. Pelo salto de espaço.

Mesmo assim, rapidamente prendi minhas pernas embaixo de seus braços, ele parou de se mover, deveria estar tentando entender o que estava acontecendo, coloquei a faca, chamada adaga, em seu pescoço e pressionei para cima para que pudesse falar mais perto de seu ouvido, já que a Terra de Ninguém é um lugar realmente muito barulhento.

– Não sou uma garotinha indefesa que precisa de um lugar para passar a noite, sou Merle, e nenhum lugar aqui é seguro.

Antes que ele tentasse me tirar de cima de si, cortei sua garganta, ninguém parou, ninguém nem sequer notou, todos têm problemas maiores que os dos outros. Primeiro o homem caiu de joelhos e depois caiu de verdade, quando seu corpo atingiu o chão eu parei de pé. O sangue dele sujou minhas botas, pelo menos elas são pretas e não vai aparecer tanto, mas a areia irá grudar. Maldição.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora