Um novo início - Atarah

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Após a minha coroação deixei Sorin com uma missão simples, conseguir informações com Blyana, minha dama. Caminhei só para o único lugar que me sentia em paz nesse castelo. Preciso de silêncio, preciso parar por alguns segundos. Então fui para o ateliê, o meu ateliê. Ele muda conforme o meu humor. É uma sala bem interessante. Bem grande também.

Assim que entrei, caminhei até a tela branca, puxei um banquinho de madeira completamente manchado por diversas tintas. Peguei uma palheta e coloquei diversos tons. A sala estava fria e bem iluminada. Não sabia o que iria pintar, mas quando encostei o pincel na tela e comecei a fazer uma floresta coberta por neve, corvos começaram a surgir em meu ateliê, mas nunca chegavam perto de mim. Continuei pintando mesmo com o barulho dos pássaros, a cada detalhe que adicionava a tela mais agitados os corvos ficavam e maior ficava o número deles.

Fiquei horas lá, cada pinheiro, cada lobo escondido entre eles, estava completamente detalhado, e a garota... Eu. A preza, estava no centro da tela. Agachada, derrotada. Me afastei da pintura para vez o que havia feito. Derrubei a palheta e os corvos começaram a granar mais alto. Agora eles me irritavam e voavam mais próximos de mim.

Quando um passou perto do meu ombro foi à gota d’água, abri as duas mãos e isso foi o suficiente para eu congelá-los, todos os animais caíram congelados no chão, alguns quebraram, mas de qualquer forma, estavam mortos. Eu caí de joelhos e chorei, não apenas pela vida desses animais. Que eu nem sei dizer se são reais. E que diferença faz? Sou uma assassina do mesmo jeito, sou um monstro. Chorei, pois realmente não sei o que fazer, estou só. É uma questão de tempo até eu me destruir. Não sou tão forte quanto finjo ser. Acho que me perdi no personagem há um tempo, mas agora “Atarah, a garota que tinha sangue frio como gelo e um coração de pedra” está morta, junto com seus pais, junto com seus sonhos, com suas ambições, junto de sua esperança.

Não tive tempo de me recompor, não tive nem tempo de escutar a porta sendo aberta. Será que eu estava gritando enquanto chorava? Alastair entrou no ateliê com os olhos arregalados e com a mão no cabo da espada. Não é todo dia que se vê vários corvos mortos entorno de uma rainha, ainda mais uma que está no chão chorando. Respirei fundo e limpei o rosto, me levantei sozinha. O guarda nem tentou se aproximar de mim. E realmente foi melhor assim, mesmo eu cobiçando tanto um contado físico neste momento. Será que ele é real? É óbvio que ele é real, abriu a porta.

– Vossa Alteza... – Tentou começar ele baixinho, mas se interrompeu enquanto eu passava.

Caminhei sem rumo pelos corredores, preciso ficar só, preciso fugir. Não quero que ninguém me veja assim. Não quero parecer fraca. Não quero que o guarda me veja assim.

  Alastair deve ter entrado no ateliê, pois apareceu atrás de mim apenas depois. E eu já estava um pouco melhor. Não estava mais vermelha e inchada. Escutei o guarda me chamar, não uma vez, mas várias. Desde pelo meu nome até pelo meu título. Parei apenas quando não sabia mais para onde correr.

  Parei em uma sacada, uma que dava a mais pela vista da cidade, que já estava completamente escura, mas brilhava pelas luzes de diversas casas e comércios. Pensei em me jogar apenas para evitar uma conversa, realmente pensei, mas não acho que seria capaz de tal ato.

– Atarah! Pare de fugir.

– Pare de me dar ordens! – Não chore. Pelos deuses não chore.

– Vamos conversar. Direito. Dentro do castelo. Em um lugar mais privado. Um lugar onde as paredes não tenham ouvidos. Por favor.

Passei as mãos nos braços, o ar da varanda estava realmente muito frio. Concordei com a cabeça e entrei novamente, passamos pelos corredores, eu o segui. Estava indo para o escritório. Maldição. Odeio aquele lugar.  Mesmo assim entrei quando Alastair me deu espaço para passar na sua frente. Me sentei no chão perto da lareira que jamais vi apagada. Escutei o guarda fechar a porta e escutei seus passos, ele se sentou ao meu lado, a uma distância respeitosa. Ficamos em silêncio por um longo tempo, apreciando as chamas, vermelhas e amarelas, que aqueciam o ambiente. O Bruxo parecia muito concentrado nelas, mas então começou.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum