O preço - Adenna

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Assim que acordei recebi a notícia de que Atarah reabriria a arena que há tantos não era usada. Ela faria a demonstração de seu poder e do que aconteceria com todos aqueles que a subestimassem. Exatamente o que meu pai disse que faria. Queria poder não ir, mas por algum motivo sei que devo comparecer, sei que a princesa conta com isso. Sei que tudo que acontecer lá... Ela colocará a culpa em mim, mas não tenho culpa alguma em sua tirania e total falta de sanidade.

Coloquei um vestido simples, preto fosco sem armação e bem leve. O dia está bem mais frio e cinza do que de costume, o Norte é quente, sempre foi. Então coloquei uma capa por cima. E também, pois não será fácil entrar na arena sem chamar atenção. Atarah tem uma imagem muito mais... Preservada do que eu. Ela é a escolhida pelos deuses, a princesa Atarah. Desde o dia em que nasceu todos sabiam seu nome e mais ou menos como era, mas pouquíssimos a viram. Ninguém realmente a conhece.

Enquanto eu. Surgi do nada, então precisei fazer o meu rosto. Precisei ajudar as pessoas, precisei conversar, precisei criar algo que a princesa tinha sem nem mesmo saber. Hoje se você ouvir o meu nome, sabe quem sou, se me vir tem grandes chances de me reconhecer, pois estou sempre entre as pessoas, mas a princesa não.

Atarah provavelmente será reconhecida não pelo seu rosto, mas pelos seus vestidos, seus guardas, sua postura, seu linguajar. Será percebida de uma forma completamente diferente. Hoje em geral, Melione conhecerá o rosto de sua soberana, mas o resto das terras não fará a menor idéia. O que é bom e ruim ao mesmo tempo. O que mais escuto de Atarah são sobre seus olhos, os olhos de uma deusa. São realmente lindos, mas deve haver outras pessoas com o olhar parecido. Escuto muito sobre seu cabelo cor de lua, mas os cabelos da princesa não são brancos. São de um loiro absurdamente claro, e com fios dourados prateados, mas não é branco.

Parece um detalhe insignificante, mas boa parte das vezes é assim que monarcas se safam. Que conseguem fugir desde a morte até de suas responsabilidades. Quanto menos conhecido o rosto for, mais fácil é de se esconder. Não que Atarah pense em fugir, por que faria tal coisa? Acho que ela preferiria morrer a desertar seu pais, deixar sua coroa.

Assim que sai o quarto já coloquei a touca, estava frio dentro da casa, algo que eu jamais havia vivenciado acontecer, quando sinto alguém puxar minha capa por trás, uma forma de chamar a atenção. Assim que me virei vi Balderik. Ele foi meu primeiro amigo depois de deixar o castelo. Seus pais lideram o movimento rebelde também.

– Aonde vai, Eirian?

Desde os meus doze anos, ou melhor, desde o dia que descobriu meu sobrenome, Balderik me chama por ele. Como se fosse um apelido. Eu odeio, mas é por esse motivo que sempre me chama assim. Enquanto me virava, revirava os olhos. Isso fez com que ele sorrisse.

– Estava indo para a arena.

– Vamos todos juntos.

– Vai como um passarinho ou como um cão?

Meu amigo é um Bruxo de transfiguração, pode se transformar em animais e transformar ou outros. Nada de elementar ele consegue fazer. E nenhuma ilusão. Desta vez quem revirou os olhos foi Balderik. São absurdamente lindos, amarelos e se contrastam contra sua pele negra. É bonito, mas não como Alastair, que parece um deus, mesmo assim, ninguém pode falar que meu amigo é feio, pois todos, inclusive ele, sabem que é mentira.

– Pensei em ir como gato, já que já sou um mesmo não transformado...

– Quer me vender um pouco da sua alto-estima? Acho que você está com muita.

Balderik se aproximou e jogou seu braço sobre mim. E me fez dar a volta no corredor, para seguirmos por aonde ele veio. Rimos um pouco por conta de meu comentário. O Bruxo não é muito mais alto do que eu, no máximo um palmo. E nem é muito forte, mas não é por falta de tentativa.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now