Pequeno lumaréu - Adenna

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Eu senti minha pele queimar, tudo voltar contra mim, sem controle, sem espaço. Tinha certeza que estava morrendo, mas a morte não doeria tanto. Morrer seria melhor que aquilo, qualquer coisa seria melhor do que aquele poder. Aquele maldito poder.

Quando acordei estava em uma cela, estava novamente em Melione, estava completamente presa. Quanto tempo dormi? Balderik estava preso também, mas as correntes dele eram diferentes, principalmente por ele estar atado em uma cama de pedra.

Já eu estava de pé, e incapaz de encostar os pés no chão, meus braços doíam tanto, minhas pernas, tudo. Era como se tivesse sido espancada. Meu amigo olhava para mim, mas quando tentei falar ardia tanto, era... Era como se estivesse queimada por dentro. O ar do local era úmido e de péssimo odor, mas fresco, e eu estava com tanto calor.

- Quatro, você está a quatro dias apagada. - Ele parecia verdadeiramente irritado.

- Pelos deuses! Ela finalmente acordou. Pensei que estivesse morta. - Era uma voz feminina.

Acho que minha dúvida ficou clara, pois logo em seguida Balderik decidiu me apresentar para a moça que estava ao meu lado, seus cabelos estavam ralos e com enormes falhas, havia diversas cicatrizes ao longo de seus braços, pernas e rosto, mas seus olhos...

- Quem não pensaria. Essa é a Blyana.

Tentei falar, juro que tentei, mas não havia como, mesmo assim, não era preciso palavras, minha expressão dizia o suficiente. O que fizeram com você?

- Fique tranquila, já estive bem pior... Queriam informações e...

- O desgraçado do Sorin fez isso com ela.

- Não. Ele não impediu, é um desprezível, mas... Mas mesmo assim não encostou um dedo em mim, foram os outros, o herdeiro abdicado só assistia.

- Pare de defende-lo! Olha o que ele deixou que fizessem com você. O que ele mandou que fizessem.

A conversa deles acabou, escutei os saltos e passos atrás, risadas. Logo em seguida Atarah surgiu, e junto dela Keres. Quando viraram amigas? Ambas entraram na cela onde estava Balderik, quando minha antiga amiga olho para mim fingiu surpresa.

- Nossa! Que bom que acordou, poderá assistir o nosso teste. Alastair! Você leva a Adenna. Eu, Keir, Faolan e Keres levamos esse aqui. - Então ela olhou para Blyana. - E você eu busco depois.

Atarah não parecia bem, mas não estava mal. Mais guardas apareceram e nos tiraram das masmorras, fomos mais para o fundo, aquele castelo parecia nunca ter fim. A sala era de pedra, mas o teto era bem mais alto e a sala bem maior. Me prenderam novamente em uma parede e a antiga dama da princesa também. Todos ficaram quietos. Sobre uma mesa havia diversas facas e meu amigo estava preso sobre outra pedra, que parecia uma cama, novamente.

- Keres. - Disse Atarah com um sorriso felino.

- Sim, minha rainha.

As duas sorriam... Aquilo é um Elfo? O que eu perdi?

- Qual era aquela sua dúvida? Aquela que disse enquanto fazia um quadro com minha corte.

- Sempre me perguntei o que acontecia se esfolasse um bruxo de transfiguração vivo. Será que as suas formas animais também não terão pele?

- Acho que podemos descobrir. - Respondeu à rainha.

Não conseguia me mover, ardia, era como se minha pele ainda estivesse queimada, Balderik também entrou em desespero, pelos deuses. Blyana foi à única que teve coragem de falar algo. A corte de Atarah concorda com esse tipo de atitude? Onde está Sorin? Por que estou preocupada com ele?

- Você é uma sádica!

- Sério? - Começou a rainha sorrindo. - É uma das minhas melhores qualidades.

Ambas pegaram uma faca e eu assisti meu amigo ter sua pele arrancada, o escutei gritar, eu causei aquilo. Tudo para ser a rainha do Norte. O que custará? O que já custou? Eu não comia há quatro dias, então não havia o que vomitar, não tinha líquido no meu corpo, então nem capaz de chorar fui. Não falei nada. Blyana gritou sozinha. E todos os outros apenas assistiram. Alastair de vez em quando olhava para mim.

"Essa é a rainha do Norte, essa é Atarah, Alastair." Era isso que meu olhar dizia, "Olhe o que você está deixando ela fazer". Observe o que eu estou deixando acontecer...

Eu matarei Atarah, eu tirarei tudo dela. A farei gritar como ela está fazendo Balderik... A rainha nem estava tentando extrair alguma informação, aquela sádica queria apenas ver alguém que é importante para mim sofrendo.

Em algum momento meu amigo parou de gritar, no início achei que ele estava morto, esperava que estivesse, mas havia penas desmaiado, durante esses cinco minutos sem gritos Atarah os usou para falar comigo, parou na minha frente.

- Você tem que colocar nessa sua cabeça vazia, Adenna, que se eu não fosse à rainha, tudo isso já teria sido tomado por outro reino, ou simplesmente, por outro. O meu povo já estaria escravizado. Tudo teria acabado. Você não tem estômago e nem força para evitar isso. Não é metade do que eu sou.

Eu falei, precisava falar... A sensação foi de jogar sal em uma ferida.

- Qualquer rainha que precisa dizer "eu sou a rainha"... É por que não é uma rainha de verdade.

Eu jurava que era ali que Atarah me mataria, mas ela sabe que prefiro isso, para a minha surpresa, ao invés de fazer qualquer coisa, de me bater, de me ameaçar. Ela apenas voltou para a mesa e encarou o corpo ensanguentado de meu amigo e disse numa calma assustadora.

- Sei que não sou uma rainha de verdade. Rainhas têm reis, filhos. Sua voz calada em reuniões... Rainhas são boas. Eu não sou, sei que não sou. Sei que sou um... Um monstro, mas sabe qual é o pequeno detalhe. Eu realmente não me importo, sou o que sou, e lido com isso. Meus dias estão contados, mas se eu cair. - Rindo Atarah olhou para mim. - Eu levo o Norte junto comigo.

Quando Balderik acordou novamente a rainha apenas revirou os olhos e saiu, Alastair foi logo atrás. O Elfo simplesmente começou a dar ordens, e pediu para me tirarem, e a Blyana também. Levou muito tempo para levarem meu amigo novamente às masmorras, e quando o devolveram sua pele estava um pouco melhor, mas apenas o suficiente para que ele não morresse.

- Onde você estava? O que fizeram com você? Balderik! - A antiga dama tinha um tom de desespero, medo, ela temia pela vida de meu amigo, e eu também.

- Eu... Eu tive que me transformar... Para Keres. Ela ainda não estava satisfeita... Eu fico sem pele...

Blyana xingou, mas não falamos mais nada, meu amigo estava destruído, fisicamente e psicologicamente, e realmente não sei se terá alguma forma de fazê-lo esquecer o que aconteceu aqui.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now