A rainha está morta - Atarah

53 8 2
                                    

Aparentemente os dias aqui são em geral cinzentos e tristes, ninguém foi me acordar, mas não tinha problema, costumo acordar sozinha mesmo, e cedo. Assim que me levantei tive que colocar o vestido que usei no dia em que eu “morri”, soa estranho eu me considerar morta?

Sentei-me em frente de uma bela mesinha de madeira escura, havia um espelho redondo preso a ela, e nas quatro gavetas que ficavam em baixo tinham diversos tipos de grampos de cabelo. Fiz um belo penteado e espirrei quatro borrifadas de perfume antes de descer.

Assim que cheguei ao primeiro andar não havia ninguém, comecei em tão a desbravar as salas da casa. Não eram tantas e nem tão grandes como as do castelo branco, mas isso não é um castelo. Quando encontrei uma sala onde só havia um piano, entrei. Não fechei a porta.

O instrumento era lindo, nunca tinha visto um piano tão empoeirado, era como se ninguém o tocasse há anos, e nem o limpasse. Passei a mão no banco antes de sentar. E abri o piano, observei cada uma das teclas. Impecáveis.

Toquei algumas notas para ver se estava afinado e para conferir que ninguém apareceria. Então comecei a tocar, uma música a qual meu pai havia me ensinado. Tocava desde os meus doze anos. Eu piano e Adenna violino. Comecei tranquila, mas acabei me deixando levar. A tal ponto que estava cantando. Sou muito bem afinada, só que não costumo fazer isso.

Devo ter passado no mínimo trinta minutos ali, de música em música, umas tristes e melancólicas outras felizes e animadas, fiquei surpresa por ainda ter tanta habilidade com o piano, não tocava nada desde o falecimento de meus pais... É estranho pensar que isso não foi nem há nove meses, mas parece que já se passou uma eternidade.

Devo admitir que levei um susto quando Meira apareceu, nem olhou para mim, simplesmente começou a dançar na sala, não sei dizer a quanto tempo ela estava ali, mas sua leveza nos passos era surpreendente. Keir a adoraria por isso, e por ser só uma garotinha. Acabei parando de tocar e de cantar quando a reparei.

– Por que parou, Vi? – Perguntou ela chateada.

Seus cabelos marrons escuro estava metade presos e trançados, o resto, que dava quase em sua cintura estava solto. Era liso e muito bem cuidado.

– Meira. Você me assustou, e eu não gosto que me escutem tocar. Muito menos que não me avisem que entraram.

Acho que fui um pouco grossa com a menina, agora ela parecia estar com medo de mim, mas acho que já estou acostumada em causar isso nas pessoas. Respirei fundo, mas antes que eu pudesse me perdoar com a criança ela começou a falar cabisbaixa.

– Ninguém toca nada nessa casa desde que meu pai faleceu... E você toca tão bem quanto ele... Me desculpe.

– Não tem problema. – Sentei mais para a borda do banco, para dar espaço para Meira sentar. Assim que ela se sentou comecei a tocar outra música. – Eu também perdi meu pai, ele era uma pessoa incrível. Gostava de caçar, de música e de livros. – A lembrança de meu pai na biblioteca debruçado sobre um livro me veio à mente. – Ele amava livros. E teatros. Arte em geral, pois sem arte um povo não tem cultura. E sem cultura um povo some. Era isso que ele me dizia.

Toquei duas músicas em silêncio a menina apenas escutou, saboreava cada nota como se fosse ser a última que escutaria na vida. Assim que terminei olhei para ela.

– Você não sabe tocar? Seu pai não lhe ensinou?

– Papai era... Era um homem ocupado, não tinha tempo para me ensinar, estava sempre cuidando dos cavalos. Segundo ele precisávamos de dinheiro. Então quando expandiu o negócio, de cavalos para cavalos, ovelhas e vacas... Ele acabou falecendo. E hoje em dia é minha mãe que cuida, já que meu irmão é...

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora