Viva - Merle

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Faolan e eu compramos uma pequena casa no campo, era possível caminhar até a praia dela. Enterramos o corpo de Keir ao lado do de Ywa. No alto de um morro, lá sempre tem sol e é cercado por flores. É um bom local para se descansar.

Depois de tudo estar pronto fomos para Verity, lá eu finalmente conheci a pessoa a qual Keir mais falava. Ela era tão parecida comigo, os cabelos ruivos, mas seus olhos eram azulados, os meus eram verdes e dos de Alastair eram prata, não faz o menor sentido. A mestiça controlava o fogo, e não era queimada por ele, meio Bruxa e meia Filha da Noite.

Me agachei e esperei que ela se aproximasse. As Fadas a incentivaram, o Elfo ficou ali atrás parado sem dizer uma palavra. E quando a menina finalmente veio, eu a abracei.

– Astrid... – A afastei para ver seu rosto, passei a mão por ele, ela é tão pequena. – Seu nome é Astrid. E eu sou a sua mãe. Merle... Me desculpe pela demora.

A abracei de novo, e a partir daquele dia ninguém nunca mais me chamaria de Keres. Meu nome é Merle. E eu tenho que seguir em frente, pois eu ainda tenho uma vida toda.

Assim então voltamos para as Terras de Luz, uma família estranha, mas... Feliz. Sorin fez contato há um tempo atrás, ele não sabia de nada, mas éramos seus amigos, ainda somos. Nem se quer sabia que eu e Keir tínhamos casado, então de presente de casamento ele deu o suficiente para que eu e Faolan nunca tivéssemos que trabalhar um mísero dia de nossas vidas. E junto ao dinheiro o rei enviou vinte e cinco garrafas de vinho, achei que o Elfo choraria de alegria, pois os vinhos daqui nem se comparam com os do Norte.

Todos os anos, no mesmo dia, eu e Faolan íamos a praia reler a carta que Keir havia deixado para mim, e para ele.

“Querida Keres, meu doce veneno. Se estiver lendo isso é porque algo deu muito errado, então, me desculpe.

Espero que saiba que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, sim, acho que isso não é grande coisa para você ou para Faolan, mesmo assim. Você foi o meu amor épico. E espero ter sido o seu. Nunca fui bom com palavras, deve ser por isso que era um ladrão. Só que no final, foi você que roubou meu coração. Nossa que merda de cantada.

Sempre quis ser pai, e eu realmente adoraria que você fosse à mãe dos meus filhos, mesmo comigo temendo que você os atirasse aos lobos para ver se eram dignos de viver. Eu amo esse seu jeito casca dura, mas vamos ser realistas... Ia dizer que você é mole como pudim, mas você é dura como rocha.

Eu amo você, sempre digo isso, mas nunca tenho uma resposta, espero que antes que eu morra você diga essas malditas palavras. Se não eu juro que retorno do início de tudo só para assombrá-la. Um dia perguntei o que eu era seu. E você disse que eu era seu amigo, fiquei tão feliz. E a cada dia que se passou sentia que era realmente mais seu amigo.

Não tivemos nem metade do tempo que esperava que tivéssemos se você está lendo isso, mas amizade e amor não se trata de tempo, se trata de quem veio e nunca mais foi embora, de quem estava no seu lado independente do que teriam que enfrentar. E em tão pouco tempo enfrentamos tantas coisas. Que loucura, não acha?

Nunca disse que me amava, mas sempre estava lá, acho que esse é o seu jeito estranho de mostrar que me ama, me dava suas armas, me deixava dormir na sua cama, me contava coisas pessoais, coisas que só eu sei. E acho isso o máximo. E acima de tudo, me deu a chance de ver que a vida era mais do que Melione, me aturou. Confiou em mim. E eu jamais esquecerei disso.

Mas já que estou morto deixo aqui minha lista de desejos, compre uma casa em um lugar calmo, gosto de mar, o som me acalma, se lembre que eu nasci em Epione, se quiser, explode aquela cidade de merda. Quero que você vá atrás de Astrid, nossa filha. Mesmo que eu jamais a conheça diga a ela que a amo de uma forma incondicional, e que ela é linda. Pois acho que é impossível que algo que você faça ser feio... Além das suas chacinas, isso é realmente horrível, mas muito incrível, e nojento. Odeio o cheiro de sangue, me dá enjoo, acredito já ter lhe contado isso.

Voltando ao assunto...

Mostre a ela que Filhos da Noite têm sim direito a felicidade, ensine ela a ser boa, gentil e amorosa... Melhor eu pedir para Faolan monitorar essas etapas. E meu último pedido, esposa, quero que viva, que seja feliz. E quando chegar a hora saiba que estarei te esperando.

Com todo o amor e carinho possível de se botar em um papel.

Seu marido/cara mais bonito por dentro e por fora que Alastair.”.

Viva.

Juro que a cada dia acho que estou melhorando, sinceramente não sei bem como vou explicar para Astrid que seus dois pais morreram na mesma noite. Ou melhor. Como vou explicar que Faolan não é seu pai.

Somos apenas amigos. Amigos que já foram amantes, inimigos e membros de diversas coisas... Pensando bem, eu e Faolan já vivemos de mais, acho que está na hora de parar um pouco. Quantas pessoas têm essa chance? Só que os deuses ainda não terminaram. Minha vida nunca fica entediante, já disse isso tantas vezes a mim mesma, mas continua a me surpreender.

Enquanto cortava a carne minha filha desenhava, o Feérico havia saído para ir ao centro da cidade. Uma vez por semana ele ia lá buscar, em maioria, os vinhos que Sorin enviada para ele. Só que desta vez foi diferente. Obviamente trazia consigo as garrafas de vinho, mas também uma carta, a qual ele já lia.

– O que é isso? – Disse arrancando o papel de sua mão.

– Adenna morreu. E Sorin está formando um parlamento. Está nos convidado para participar, haverá representantes de todas as raças, parece...

– Não. Se quiser é livre para partir, mas...

Faolan me segurou pelos cotovelos, para me fazer olhar para ele.

– Merle, ele pediu para que você vivesse. Então vamos viver. Quem melhor para estar em um conselho como aquele do que nós? E o Norte é a nossa casa. E você sabe disso.

– O Norte é... Não sei Faolan. Astrid é feliz aqui, eu sou... Satisfeita aqui.

– Desde quando você começou a se conformar com o que apenas te satisfaz? – Não respondi. – Vamos lá. Quem sabe não por Keir, mas pela Astrid, para que ela viva em um mundo melhor do que o que nós vivemos.

– Achei que diria por Ywa.

– Pensei, mas pela Astrid tinha mais efeito.

– Somos absurdamente desequilibrados para sermos parte de um parlamento, já viu nossas fixas? Somos assassinos, se lembra? – Faolan continuou com sua cara de pedinte. Respirei fundo e fechei os olhos por alguns segundos. – Vou pensar no seu caso.

Seis anos depois finalmente voltamos para Melione, Sorin nos convidou para morar com ele.

  Com um sorriso no rosto o Elfo se afastou já falando alto para que minha filha escutasse.

– Carmim. Vá fazer suas malas. Vamos nos mudar para um lugar mais legal.

Cruzei os braços e o encarei.

– O que tem de legal para uma criança no Norte?

– Não faço a menor ideia, mas lá tem comida e vinhos bons, por mim só por isso lá é muito mais legal.

Ficamos anos no parlamento, achávamos que tentaríamos matar a todos, mas por algum milagre não aconteceu. Uma academia havia sido aberta, ou melhor, reaberta, apenas para Bruxos, mas agora uma vampira assumiria, e ela pensava grande, queria uma escola para que qualquer criatura mágica pudesse entrar. Isso deixou o conselho louco. Por diversos motivos, mas estamos dando início a uma nova era, o que é bom, entretanto, coisas assim levam tempo.

E eu e Faolan não temos paciência o suficiente para discutir, as pessoas costumavam fazer o que mandávamos sem questionar nada, e de questionadora a Astrid já é o suficiente, não precisamos de mais ninguém fazendo perguntas. Sorin discutia, e nós votávamos. Faolan sempre apoiando Sorin... Mereço.

No fim, ficamos em Melione. A cidade é perfeita de todas as formas agora. E é lá onde quero que a minha filha viva, um lugar bom e feliz. Um lugar seguro. Uma casa. E lá é onde eu, Faolan, e Sorin podemos oferecer uma família para Astrid. E por um futuro melhor para a minha Cabelos de Fogo eu viverei e aturarei um conselho com várias opiniões contrárias as minhas para que ela viva em um mundo melhor. Em um mundo onde os Filhos da Noite podem sim encontrar a felicidade. Onde ela possa ter sua família, onde minha filha não tenha que se submeter ao medo e a vergonha de ser o que é.

Estou vivendo. E do melhor jeito possível.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now