Sangue e família - Atarah

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Enquanto tiravam o corpo de Blyana, que estava fraca de mais para andar, trouxeram meu primo, Sorin. Ele parecia bem confiante. Se sentou na cadeira onde minha dama estava, que agora estava ensopada de sangue, o garoto ainda só não teve a audácia de sorrir para mim, mas realmente não duvido que faça. Deixei a barra de obsidiana em seu colo então me afastei para pegar a poção da verdade. Preciso fazer as perguntas certas. Ele será como um Elfo, só poderá dizer a verdade, mas pode fugir do assunto, pode desviar.

Como pedi que atassem suas mãos tive que virar o líquido em sua boca, leva alguns minutos para fazer efeito, enquanto esperávamos olhava para o público, evitava olhar para o meu guarda, parecia decepcionado com a minha atitude, mas quem é ele para me julgar? Após uma longa procura a vi, de touca e num canto. Adenna viria, sabia que viria. Sinto-me satisfeita por estar certa. Ela está tão perto... E está segurando a mão de um rapaz, mais um tonto apaixonado. Será que ele será torturado em nome dela também?

Fiquei andando de um lado para o outro, não vou encostar um dedo nele, ele pode ser culpado, pode ter tentado me matar, mas mesmo assim continua sendo meu primo, e um príncipe herdeiro. Continua sendo uma pedra no meu sapato, isso sim.

– Certo Sorin Melantha, primo. Vamos ver se você diz a verdade.

– Precisava ser tudo tão público, prima? – Ele abaixou a cabeça e riu, estou sendo o mais transparente possível com o meu povo. – Está agindo como se isso evitasse guerras, acho que está apostando errado.

Preciso mudar de assunto, preciso ver se a poção já está dando efeito.

– Acredita no amor?

– Eu?

– Eu acho que tenho outras prioridades, como cuidar do meu reinado, não passar fome, coisas do gênero. E você, Sorin?

– Acredito no alívio de necessidades naturais, necessidades carnais.

– Você é realmente repugnante.

Meu primo deu de ombros, as pessoas gritavam, não sei bem o que, mas espero que não concordem com Sorin, espero mesmo que ele tenha algo haver com os rebeldes, o mundo será um lugar melhor com menos pessoas como o príncipe das Terras do Leste.

– Já fui chamado de coisas piores, por você inclusive. Vamos logo para o que interessa Atarah, pergunte.

– Sorin, você tem algum envolvimento na morte de meus pais?

– Não, Atarah, eu não tenho envolvimento algum no assassinato de meus tios. Os reis do Norte.

– Gostaria de ter tido? Gostaria que eu tivesse morrido ontem? Gostaria de ser o rei do Norte?

Perguntas perigosas, perguntas que eu no fundo temo a resposta.

– Eu não gostaria de estar envolvido. E, por mais surpreendente que pareça para você. Não gostaria que você tivesse morrido, eu lhe respeito prima, pode achar muitas coisas de mim, mas respeito à família, é sangue, e não se traí o sangue do seu sangue. E sim, eu adoraria ser o rei do Norte, mas não as custas da sua morte.

– Tudo que disse noite passada é verdade? Ou foi apenas para manter a sua cabeça no lugar? – Escolha de palavras péssimas que tomei.

– Foi tudo verdade, e se me autoriza... Eu abdico minha linhagem ao trono do Norte, e abdico meu trono do Leste, e peço então, que, Atarah. Daria a mim a honra de ser membro da sua corte, mas ainda mais, do seu círculo íntimo?

Silêncio como em nenhum outro momento tomou a arena. Apenas escutei minha tia que estava numa das entradas, dizer com muita dor na voz, “não”, e por algum motivo me senti absurdamente bem com isso. Esse é o poder que eu tenho agora. Tirei o único herdeiro de Leste, e agora ele quer se jurar a minha corte. Um juramento para o meu círculo íntimo, um juramento mágico, o que promete o maior nível de lealdade, não serei tola em negar.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now