25°- capítulo.

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Estou há tanto tempo encarando o teto dessa barraca, somente esperando desesperadamente que o sono venha e que eu consiga finalmente dormir. Já perdi a noção de tempo. Parece que estou uma eternidade aqui. Nem é pelos mosquitos, o repelente ajudou muito nesse caso mas a verdade é que eu também não sei porque não consigo dormir. Talvez seja porque estou em um lugar diferente, estranho e não me sinto tão segura e confortável como no meu quarto e na minha cama.

Mary já está no seu décimo sono. E agradeço por ela não roncar, na verdade ela dorme igual a um anjo, de cabelos tingidos em cinza. Uma das coisas que admiro nela é sua autoconfiança e coragem. Eu não teria coragem em pintar meus cabelos, simplesmente porque gosto da cor deles e porque como todos sabem não sou corajosa nem para isso. Uma mudança dessa exige coragem, confiança e certeza do que está fazendo, mas eu, bem, eu não tenho coragem e também não sou nada confiante no que faço, independente do que seja.

Meus cabelos são castanhos claros, lisos mas tem dias que eles ficam levemente ondulados. Nesses dias, Mary passa o dia dizendo como ama eles e em como os queria para ela, e sei que ela diz isso só porque quer me deixar bem comigo mesma. Todos os dias aliais ela faz isso, tanto ela como meus pais, tentam me " animar" dizendo que estou bonita, que sou uma garota incrível, e blá blá blá. Eu admiro suas tentativas, sei que fazem isso porque me amam e querem me ver bem comigo mesma.

Mas a verdade é que independente disso, eu não consigo acreditar nem na metade do que eles falam, por ser tão visivelmente forçado, só pra me fazer bem. Tem dias que quando eu me olho no espelho, tenho vontade de chorar, se é que não choro mesmo. Não é só minha aparência, mas o meu jeito nunca me agradou, e se eu pudesse ser outra pessoa, eu seria.

Não consigo ser essas pessoas que não tão nem aí para o que os outros pensam porque na verdade, eu ligo muito para o elas acham e acho que é isso a grande questão. Mas definitivamente, não me agrado com o que eu vejo todos os dias. Meus sorrisos, a maiorias são falsos, como aqueles que eu dou para minha mãe de manhã quando ela pergunta se estou bem ou como aqueles que dou a vendedoras de alguma loja quando vou comprar roupas novas. São todos totalmente forçados.

Eu acho que aprendi a esconder meu sentimentos e fazer com que esses sorrisos forçados torne-sem sinceros para as pessoas, já é até natural pra mim. Um sorriso sincero meu, é quase raro mas quando conseguem arrancar de mim, essa pessoa tem que ser mesmo boa no que faz e no que diz para mim fazer isso.

Sem sono, me sento e suspiro, passando as mãos no rosto. Acho muito difícil alguém estar acordado essa hora. Eles devem estar exaustos pelo tanto de tempo que passaram naquele rio, nadando, brincando um com os outros, rindo, e enfim se divertindo. Eu sei o quanto isso deve cansar e ser mais fácil de adormecer. Bem, eu não fiz nada demais então esse deve ser um dos motivos do sono não chegar tão cedo pra mim.

Ainda com as mãos no rosto e o tédio no meu limite, ouço um sussurro baixo, chamado meu nome, me assustando no mesmo momento. Minha mente patética e boa parte influenciada pelas sérias e filmes de terror que eu vejo, logo leve a opção de algo sobrenatural, que me faz ficar como a medrosa que sou, mais encolhida.

Quando mais uma vez ouço o sussurro, agora um pouco mais alto e claro, imediatamente reconheço a voz do "ser" que estava me chamando. Engatinho silenciosamente até a saída da barraca, para não acordar Mary, mesmo que ela tenha o sono muito pesado.

Quando termino de abrir a barraca, dou de cara com Harry, agachado na frente da barraca com as feições perdidas e levemente angustiadas, que logo foram tomadas por um sorriso largo e alívio brilhando em seus olhos esverdeados.

- Graças a Deus, Bella. Pensei que ia me ignorar.

- O que você quer comigo? Está tarde, Harry.

Simply Happens [H.S] Onde as histórias ganham vida. Descobre agora