59°- capítulo.

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Meus olhos estavam fechados, minhas costas estavam contra o colchão da cama. A respiração não estava saindo facilmente como deveria e a música tocava em meus ouvidos, explicando tudo que eu sentia.

As lágrimas grossas pararam de cair há alguns minutos, depois de muito tempo caindo e molhando minhas bochechas sem piedade. Senti que só não estavam caindo mais porque já derrubei tudo que pudia.

Era tão deprimente o que eu sentia. Era ainda mais deprimente agora.

Antes dele, antes de tudo isso eu vivia me lamentando por não conseguir ser uma adolescente normal e ver problema em tudo. Vivia encolhida no meu canto para não ter que falar com ninguém, não era nem um pouco comunicativa, até mesmo com meus pais. Me lamentava por ser um peso para minha família, uma garota problemática que eles tem que aguentar e agradar para não sentirem que era culpa deles quando a culpa por eu ser desse jeito era somente minha.

Depois que conheci Harry, foi como se eu pudesse ser eu mesma e me mostrar sem medo ou vergonha. Foi como se eu não tivesse mais receio e pudesse ser realmente boa, uma pessoa agradável que as pessoas querem ter por perto, mas no entanto, agora eu vejo que foi apenas um momento, um momento onde meus problemas paranóicos afastaram-se apenas para voltar mais fortes agora, um momento onde criei a ilusão que eu poderia ser feliz sendo eu mesma e que talvez, eu não era assim tão ruim. Foi apenas um momento, um momento que mascarou a realidade e me iludiu.

Vejo agora que nada mudou nesse tempo. Eu ainda era problemática, ainda era covarde, ainda era desinteressante, ainda era eu e isso ainda não era bom. Era a garota tímida, com dificuldades em se comunicar e dizer o que pensa. Era deprimente e isso, independente dos acontecimentos, não podia mudar. A culpa não era dele pelo nosso relacionamento não dar certo e sim minha, por ser desse jeito.

Harry não merece uma pessoa tão complicada como eu, não merece ter que repensar nas coisas antes de falar ou apenas para me agradar, não merece uma pessoa tão deprimente e instável como eu e era exatamente por isso que tomei a minha decisão.

Independente da dor no meu peito, independente do quanto eu o ame, estou disposta a fazer isso e sofrer todas as consequências. No fim, eu sabia que isso iria acontecer mas apenas não queria admitir. Não era boa para ele, e comecei a duvidar se era para alguém.

Tinha consciência de que meus pais e Mary já estavam em casa mas não liguei realmente muito para isso. Já era tarde, e eu ainda não falei com nenhum deles. Não sai do quarto a tarde inteira. Apenas fiquei escutando músicas deprimentes que explicavam exatamente o que eu sentia e chorei durante tudo isso, até as lágrimas secarem em minhas bochechas.

Parece exagerado mas a dor é real e cruel.

Com um suspiro, resolvi tomar um banho para tentar relaxar e melhorar minha aparência obviamente péssima, mesmo que isso seja falho. Peguei roupas limpas no guarda roupa e fui rapidamente para o banheiro silenciosamente. Mantive os meus olhos fechados enquanto relaxava embaixo d'água. Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali, mas foi um tempo muito longo e que me fez, minimamente, me sentir melhor.

Assim que meu cabelo estava penteado e eu vestida, sai para encontrar Mary escorada na minha porta, obviamente me esperando.

- Nós pagamos conta d'água só para te lembrar. - suas sombrancelhas estavam levemente arqueadas enquanto ela me repreendia com certo deboche, algo comum dela.

Terminei de fechar a porta e encarei-a. Se tivesse forças e vontade, reviraria os olhos para ela ou mostrava-lhe infantilmente a língua como resposta, mas evidentemente, não tenho vontade e muito menos forças. Me sinto três vezes mais pesada e lenta.

Simply Happens [H.S] Where stories live. Discover now