68°- capítulo.

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Após uma semana, com noites sem dormir, praticamente trocando a noite pelo dia, um nível de fadiga imenso, e todos os sintomas de um resfriado fortíssimo, finalmente voltei ao trabalho.

E nunca fiquei mais agradecida por isso. Obviamente, ficar doente não é legal, mas pior ainda, é quando o momento pedia, implorava, ou até mesmo suplicava por distração. Sentia como se minha cabeça estivesse prestes a explodir, tanto por causa da dor causada pelo resfriado, quanto por causa dos pensamentos correndo. Foi realmente um inferno.

Posso dizer que foi um dos piores resfriados que eu já peguei, e é claro que o momento cooperou bastante para que as coisas piorassem mas, independente do quanto desgastante foram os últimos dias, eu realmente não queria ficar me dramatizando, não queria deixar a situação mais difícil e melancólica do que já era, então apenas pensei em ultrapassar isso, referindo-me tanto ao resfriado, quanto aos problemas comigo mesma.

Eu estava disposta a melhorar,  procurar ajuda, e resolver isso, depois de anos me escondendo e me encolhendo, quando eu mesma pensava na hipótese disso. A palavra " ajuda " dita ou pensada me assustava tanto quanto me desesperava, e os sentimentos eram confusos quando se tratavam dela. Não pensava que precisava mas ao mesmo tempo sentia a necessidade dela. Eu realmente não sabia como dizer que precisava de ajuda, porque para mim, eu não precisava. Para mim, pensava que conseguiria passar por tudo sozinha, sem ajuda, sem ninguém, mas a cada dia que se passava, isso foi ficando mais e mais instável na minha cabeça. Eu já não sabia se conseguiria, e isso quase me trouxe a opção de desistir. Desistir de tudo.

Mas isso não deveria ser uma opção, deveria?

Admitir que precisamos de ajuda não é tão fácil como se pensa. As pessoas em geral costumam se esconder dos problemas, como se fosse a melhor saída ou até mesmo a única, e eu não era diferente delas, porque não fazia realmente nada para mudar isso.

Ainda me culpava por tudo que acontecia, mas também não fazia algo para muda-lo. Apenas esperava que algo acontecesse, alguém me visse e me ajudasse. Eu estava pedindo ajuda silenciosamente, mas ninguém notava e isso me fazia desistir de mim cada vez mais. Até que algo, algo entre perder a presença da minha família, perder as altas risadas trocadas com Mary e as meninas, a nova amizade com Adam, minha velha amizade com Edwin, uma nova temporada das minhas séries favoritas, livros e filmes que eu adoraria ver/ler, e principalmente, o cara mais incrível que eu já conheci, me fizeram parar e refletir, se eu realmente queria deixar tudo isso para trás.

Eu não queria.

E isso foi o suficiente para que no dia seguinte da conversa reveladora e extremamente exaustiva com Harry, eu sentasse à frente do meu computador e pesquisasse, com um grande nó atado na garganta e o estômago palpitante, uma verdadeira ajuda.

Acabei descobrindo que há diversos consultórios psiquiátricos ao redor de Londres e os preços das consultas oscilam muito para um bolso tão pequeno como o meu. No fundo da minha mente, a ideia de pedir a colaboração dos meus pais surgiu repentinamente, mas sabia que não seria a melhor hora para falar com eles sobre isso. A verdade era que eu também não sabia se haveria hora melhor e o medo era grande o suficiente para que eu não quisesse descobrir no momento.

Uma conversa séria e delicada como esta pedia mais do que eu tinha, além do fato que minhas energias foram praticamente todas gastas quando decidi abrir o jogo com Mary. Não sentamos na cama, uma de frente para a outra unicamente para falarmos sobre Harry e sobre todo o acontecido envolvendo ele nos últimos dias, apesar que o começo tenha sido praticamente envolta disso, mas também aproveitei aquele momento, e a coragem repentina em mim para falar sobre tudo. Realmente tudo.

Simply Happens [H.S] Where stories live. Discover now