60°- capítulo.

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As primeiras quatro semanas foram uma verdadeira tortura. Diferentemente do que eu pensava, e honestamente queria, a dor não diminuiu com o tempo. Não houve um dia sequer que eu não sentisse o incansável arder nos olhos e o aperto no peito.

Mas no entanto, tentei ser positiva. Juro que tentei. Naquela sexta feira, o dia em que Harry foi embora sem qualquer mínimo último contato comigo, o que foi preciso mesmo que doa admitir, me forcei a ser forte, mesmo que não devesse. Mary estava comigo, assegurando que eu podia contar com ela e se eu ainda quisesse chorar, eu podia, mas fui mais orgulhosa que isso. Ou talvez eu realmente ainda não conseguia admitir o fato para eu mesma.

Admitir que ele estava realmente indo embora, admitir que não o veria mais, admitir que acabou.

Passei aquela tarde angustiada, rezando para que as horas passassem logo, para que eu pudesse finalmente ir para o quarto, trancar a porta e chorar mais uma vez, até que não houvessem mais lágrimas. Mas tinha Mary, ela fez tudo que pôde para me distrair, usando todas as coisas que eu amo em complô.

Por exemplo, ela deixou que eu escolhesse os meus filmes favoritos para assistirmos, mesmo que eu não tivesse a mínima vontade, fez chocolate quente com marshmallow e comprou exageradamente Cupcakes e cookies, afirmando que a melhor coisa a se fazer naquelas horas, era comer como se não houvesse amanhã.

Eu podia sentir seus olhos em mim a maioria do tempo, principalmente nas cenas extremamente românticas dos filmes, que consequentemente me faziam relembrar de tudo, em tortura.

No final do dia, quando acabou a maratona de filmes e meus pais chegaram do seus trabalhos, apenas tentei sorrir para eles antes de dizer que não tinha fome e que iria subir para o quarto. Alegando que comi cupcakes demais, e talvez eles não tivessem me feito bem. O que era um desculpa esfarrapada já que eu mal cheguei perto dos Cupcakes.

Mary pareceu entender, e seu suspiro sentido foi audível para todos na sala. Quando fechei a porta do quarto, juro que não queria, mas foi inevitável escorregar pela porta e desabar em lágrimas. Sentada sobre o piso frio, soltava soluços contidos, mesmo que eu quisesse gritar e tirar tudo aquilo de mim.

Aquela sexta-feira foi um dia assombrado, mas não foi o único problema porque nada mudou durante esse tempo, ou melhor dizendo, piorou. Não parei de sentir a dor cruel e a falta que ele me fazia durante todo o primeiro mês. Não consegui esquecê-lo em nem sequer um minuto, e o pior de tudo era que minha ansiedade estava aflorada.

Sentia os problemas se duplicando dentro de mim. Minha capacidade de expressar meus sentimentos praticamente desapareceram. Mal falava com meus pais, até minha interação com Mary diminuiu com o tempo, por mais que seja por ela ter estado ocupada ultimamente, com o curso e sua vida que era, obviamente, muito mais movimentado do que a minha, mas ainda sim, eu sabia que a culpa pelo nosso afastamento era mais minha do que dela.

Me sentia inquieta e depressiva na maioria do tempo, e isso apenas foi se intensificando conforme os dias passavam. Mal conseguia dormir, mesmo que me mantinha, do jeito que pude, ocupada. Lendo compulsivamente, estudando compulsivamente, ou fazendo qualquer coisa que me mantinha ocupada, para tentar bloqueiar os pensamentos que provavelmente iriam me fazer sofrer mais ainda.

Não fiquei chorando pelos cantos como pensava, mas sofri como o inferno. As noites foram péssimas. O sono simplesmente não vinha e sabia que era porque minha mente ficava correndo, eu não conseguia relaxar, e parar de pensar na grande bola de neve que se tornou minha vida.

Mas na manhã de uma quarta-feira, acordei cedo, determinada a acompanhar minha mãe até a loja e ajudá-la. Não era algo habitual mas já estava começando, ou melhor, já estava mesmo pirando dentro de casa. Os pensamentos sombrios me absorvendo, como se eu quase pudesse começar a pensar na hipótese do suicídio, mesmo que seja besteira para alguns.

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