71°- capítulo.

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- Então... Como se sente nessa segunda consulta? Menos nervosa?

- Um pouco... Ainda me sinto patética por estar precisando disso para ser honesta, mas acho que com o tempo vou me acostumar.

- Você não tem que se acostumar, querida, tem que aceitar. Para isso dar certo, precisa saber que tudo depende de você. A aceitação de como você é, e de tudo que aconteceu ou acontece na sua vida. Você precisa se conhecer e, principalmente se aceitar, do jeitinho que é. - Dra. Collins sorriu amavelmente, com seu olhar atencioso sobre mim.

Os portas retratos ainda se destacavam em sua estante, com diferentes rostos que pareciam ser importantes para ela, os quadros exóticos também mantiveram seus lugares nas paredes da sala, como na última vez que estive aqui, e a janela estava entreaberta, deixando o ar fresco adentrar a sala. Ainda não me sentia completamente confortável aqui, mas já era um pouquinho mais familiar do que a primeira vez.

A imagem da mulher modesta, sentada em uma cadeira giratória, com um caderno sobre o colo e uma caneta entre os dedos já não era tão intimidante como a primeira vez.

Mesmo que isso mudasse toda a vez em que ela colocava os olhos em mim e me encarava tão intensamente que me fazia suspeitar que ela já soubesse o que eu iria dizer antes mesmo que dissesse. Ela era de fato perfeita para o cargo que exercia, pois de uma forma ou outra, sentia que só poderia dizer a verdade.

- Eu sei. E eu estou tentando, eu juro.

- Sei disso, querida. - sorriu. - Estou mesmo contente em tê-la de volta aqui. Fico feliz em ver que não mudou de ideia e que pensamentos negativos não te fizeram desistir. Esse é um grande passo, tão corajoso quanto ter a iniciativa de buscar ajuda. Sinta-se orgulhosa.

- Estou me sentindo, acredite.

- Ok. Então podemos começar agora. Como tem sido essas últimas semanas? Como tem se sentindo?

- Hm... Eu não sei muito bem... Não acho que teve muita mudança.

- É? E por que acha isso?

- Não sei... Eu não sinto que melhorei, porque meus problemas ainda estão aqui, sabe. Tem vezes que os pensamentos negativos me absorvem, as crises surgem e vão ficando cada vez mais cansativas. - suspirei, sentindo como se carregasse o peso do mundo em meus ombros. - Eu ainda tenho dificuldade em me comunicar, e em qualquer coisa que peça mais de mim. Ainda continuo me escondendo. - minha voz soou baixa e desanimada.

- Olha, tudo bem se sentir assim, ok? Esta é recém a sua segunda consulta. Problemas como os seus são difíceis de serem superados mesmo, mas isso não quer dizer que você não consegue. Você consegue, basta querer.

- Eu sei, e eu quero. Quero muito, mas... - engoli em seco, tentando ignorar a vergonha aguda que sentia por falar sobre como me sinto para uma mulher que eu vi somente uma vez na vida. - Mas é difícil, sabe... É exaustivo para mim precisar disso porque parece que nada vai mudar, independente do que eu faça. Parece que os problemas me seguem, que eu estou destinada a ser um fardo e... Eu estou cansada.

Me encolhi ainda mais no pequeno sofá escuro, evitando o olhar incansável da mulher sobre mim.

- Escute, por favor, eu entendo você. Não é a primeira e provavelmente não será a última a entrar aqui desacreditada de que estar aqui irá mudar alguma coisa. Eu sei disso, mas tente confiar em mim. Se abra, deixe-me te conhecer. Prometo dar-lhe resultados mas para isso, você precisa acreditar.

Eu sabia disso, sabia que eu não deveria desistir agora mas eu apenas estava sobrecarregada. Pensei que se eu deixasse isso de lado, tudo de lado eu pudesse melhorar sozinha, tentar algo com menos pressão, mas isso não era verdade. Eu quem mais me pressionava do que qualquer outra pessoa, e se eu realmente quisesse que isso funcionasse, precisava ajudá-la a me ajudar.

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