58°- capítulo.

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Estou encarando o teto do meu quarto, tentando entender porque sinto como se meu coração tivesse sido pisoteado e retirado para fora do meu peito.

Fazia tempo, fazia muito tempo que eu não sentia isso. Sentia como era estar magoada, como é cruel estar. Mas no entanto, eu sei que é diferente de antes. É muito mais cruel e esmagadora, porque foi causada por uma pessoa que eu ganhou minha confiança e consequentemente meu amor. Uma pessoa que me fazia sentir especial, uma pessoa que parecia estar aqui para mim e que nunca iria me julgar e jogar as coisas na minha cara. Mas no entanto, foi isso que aconteceu e talvez seja por isso que é cem vezes mais doloroso.

É tão doloroso, como se eu tivesse uma flecha no meio do meu peito e a medida que eu lembro, ela é recolocada, me machucando mais.

Sinto como se tivesse perdido a essência disso. De tudo isso. Sinto como se eu tivesse acordado, de um longo e encantado conto de fadas, onde eu encontrava a pessoa perfeita que me fazia sentir desejada, como se eu realmente fosse boa para aquilo.

Fiquei pensando, relembrando tudo, de todos os momentos, para chegar a conclusão de que, ele está certo. Harry está certo em dizer que sou egoísta, que só penso em mim mesma. Ele está certo e os porquês são evidentes.

Nunca parei para pensar nele, e em como ele se sentia. Era apenas, eu, eu, eu. Em tudo. Eu sempre fui desconfiada dele e sempre o julguei pelo o que eu via, não pelo o que ele era. Eu, mais uma vez, jogava os meus problemas paranóicos encima dele, para ouvi-lo dizendo que não tinha nada errado comigo quando evidentemente tinha. Mais uma vez, eu sou problemática e a culpa disso é minha por não ver o lado dele, não ver ele. Eu não o via, não percebia-o e não dei a atenção merecida à ele. No fim, eu sou o problema, novamente.

Harry merece alguém que o entenda, que o mereça, que seja fácil de entender, que seja tão encantadora quanto ele é, que o faça feliz, e que seja normal. Ele merece mais, ele merece o melhor e não sou o melhor para ele.

É difícil acreditar em como as coisas mudam, de uma hora para outra. De repente, o que parecia ser incansável se torna exaustivo. De repente, o que parecia ser eterno, e honestamente, eu queria que fosse, na verdade sempre foi instável. Eu apenas fechava os olhos e tentava acreditar que esse dia nunca chegaria, como se faz quando se ama uma pessoa e não quer perda-la.

Mas isso uma hora ou outra iria chegar, como eu mesmo sabia, como eu mesmo o disse aquela vez, no dia em que sentamos na varanda e senti-me encantada com aquele rapaz, mesmo não admitindo. Disse a ele que nada era eterno e que não me imaginaria em um relacionamento como esses de conto de fadas. Ele me fez morder a língua porque foi exatamente isso que eu vivi, mas por outro lado, estava certa em dizer que não essas coisas não duram muito tempo.

O fim sempre chega.

Tivemos momentos incríveis, que eu jamais, mesmo se quisesse, conseguiria esquecer mas isso agora, acabou. A minha gratidão por ter tido algo tão maravilhoso é grande e eu estou ciente da minha decisão. O que não quer dizer que eu não possa sofrer porque, merda, eu o amo. Eu o amo tanto que chega a doer e é por isso que estou o livrando de toda esse problema que eu sou. Para que ele possa encontrar uma pessoa melhor e que seja feliz, do jeito que não será comigo e com as complicações que vem junto.

Convenci-me que o que estou fazendo é por ele e que mesmo que posso estar criando uma cratera no meu peito, sei que posso, -- espero -- conseguir viver com isso.

A noite foi terrivelmente desconfortável. Tirei pequenos e inúmeros cochilos durante toda ela e de manhã, acordei ainda mais cansada, como se não tivesse dormido nada.

Não falei com ninguém ontem, nem desci para jantar e convenci surpreendentemente Mary dizendo que eu estava com uma cólica horrível. Meus pais devem ter acreditado nela porque não vieram me chamar mas mesmo eu afirmando que não tinha fome, Mary me trouxe uma sopa, me forçando a comer. Ela insistiu perguntando se tinha acontecido alguma coisa mas continuei dizendo que era apenas indisposição.

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