O Guerreiro dos Mares

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O comandante Brenun lançou um sorriso vitorioso para Loyer e voltou-se para o horizonte, onde um navio cruzava o mar, circundando a costa. Seu sorriso aumentou ao perceber o ódio que dava forma as feições do outro.

— Lá estão eles. — Apontou Brenun.

O companheiro se empertigou, apertando firme o corrimão da amurada, mais por ansiedade do que pela raiva de dividir aquela vitória.

Quando Lorde Axen ordenou a captura da princesa de Midiane, enviou dois dos comandantes em que mais confiava. Loyer seguiu por terra, a fim de emboscar Verne e seus homens e assumir seus lugares para chegarem à Ilha Vitta, onde a Ordem havia construído seu lar. Brenun seguiu por mar, e deveria se encarregar do transporte da princesa, diante da certeza absoluta de que sairiam vitoriosos naquela investida.

O navio do comandante ancorou em Machur, uma cidade comercial, que atraía mercadores de todos os reinos do mundo conhecido. Um lugar onde um navio de guerra axeano não pareceria estranho, já que aquele tipo de embarcação costumava transportar parte do minério que Axen produzia, entre outras coisas.

Machur ficava a meio dia de viagem da Ilha Vitta e, quando Loyer retornou com seus homens, a noite se erguia preguiçosa no firmamento. Brenun não conseguiu esconder a surpresa e a alegria que o tomava pela derrota do outro. Riu e fez piadas, que Loyer obrigou-se a aguentar em silêncio, já que não poderia matar o próprio irmão, embora desejasse muito, naquele momento.

— Eu disse que conseguiríamos! — Brenun cruzou os braços, satisfeito.

— Tire esse sorriso do rosto. Ainda não os alcançamos. — Retrucou Loyer.

Formulavam planos para uma nova investida contra a Ordem, quando um mensageiro, um dos homens que Loyer deixou vigiando a movimentação dos ordenados, trouxe novidades que os fizeram traçar nova rota. A princesa havia deixado a ilha em um navio que seguia para Bévis.

— Engana-se, irmão. A princesa já é nossa. — Garantiu Brenun. — Depois que a pegarmos, retornaremos para Ilha Vitta e pegaremos a joia do coração. Só deixaremos aquele lugar, quando ele não passar de cinzas.


**


O Guerreiro dos Mares contornava o continente navegando em águas tranquilas, não muito longe da costa. Como em muitas coisas na Ordem, Virnan achava o nome do navio irônico.

Ela se mantinha de pé, na popa da embarcação capaz de transportar pouco mais de meia centena de ordenados. O navio ficava ancorado ao lado de outros dois, no lado leste da ilha, de onde poderia zarpar direto para águas profundas e longe dos recifes que circundavam aquele pedaço da costa.

A guardiã fitava o horizonte com um vinco no meio da testa a denunciar seu desconforto. A noite se aproximava rápido e já tinham entrado nas águas do reino de Bévis, o que exigia extrema cautela para avançarem.

Era o terceiro dia da viagem e a tensão que se instalou entre os ordenados e os midianos era quase palpável. Embora se tratassem com cordialidade e respeito, era inegável que todos andavam pisando em ovos. E a guardiã, cuja língua costumava ser tão afiada quanto a lâmina de uma espada, buscou o isolamento para evitar discussões desnecessárias. Ato que Melina apreciou imensamente, já que Lorde Verne havia sido categórico em rechaçar a presença dela naquele grupo, após ela o ter insultado e declarado seu desagrado por sua presença e os motivos que o levaram até a ilha.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now