O círculo

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*

Melina uniu as mãos sobre o colo. Alguns fios do cabelo grisalho soltaram-se do coque, graças ao vento que invadiu o salão através da enorme abertura no teto e, junto com ele, pássaros vieram.

— Que tal começar nos explicando como ele foi fechado? — Perguntou.

Narrou, rápida e superficialmente, sua conversa com Maxine. Encarava Virnan ainda incomodada com a nova aparência, era como se estivesse olhando para uma estranha, contudo o sorriso dela abrandava essas impressões e lhe trazia a costumeira calmaria.

— Isso é verdade? — Fantin indagou, sem esconder um riso cético. — Existem outros mundos?!

Mestra Tamar, por sua vez, não duvidava. Era uma estudiosa e estava sempre aberta a novas teorias e descobertas. Foi logo perguntando sobre o que lhe atiçava a curiosidade:

— Você já esteve nas Terras Imortais?

A guardiã endireitou-se sobre o banco que ocupava, deixando um riso divertido escapar. Tamar nunca a decepcionava.

— Sim, Mestra, já estive em Inamia, este é o verdadeiro nome das Terras Imortais. Mas confesso que não gostava muito de lá.

— Por quê?

— A paz que impera naquele lugar, sempre me pareceu um pouco artificial. Talvez me incomodasse porque ainda não era o meu momento de "passar" por lá. — Deu de ombros, coçando o queixo. — Inamia pertence aos espíritos naturais. Para nossas almas, a permanência lá é curta. — Reparou na surpresa que a frase gerou. — Sim, isso implica que há outros lugares para ir através do mundo espiritual ou mesmo dentro dele, mas não vamos nos aprofundar neste assunto. Não temos tempo e, também, possuo um conhecimento limitado à respeito, mesmo sendo uma Castir.

Marie sentou ao seu lado e, por um instante, concentrou-se no calor do corpo dela a roçar no seu braço. Saber que a mestra não tinha ficado chateada com o que fez, foi um grande alívio. Ela lhe confessou seus medos das consequências, assim como na noite em que se casaram, mas deixou claro que não iria se privar daquela felicidade, como tinha feito ao longo dos doze anos que passou com ela na Ordem. Estava disposta a lutar para livrar aquele mundo de Érion e, sobretudo, para estar ao seu lado.

Limpou a garganta, retornando a atenção para Tamar.

— Enagia também não era o meu lugar preferido. Se um dia houve paz entre os Enaens, não cheguei a conhecê-la durante as minhas visitas. É importante que entendam que este lugar é a terça parte de um todo e o poder de caminhar entre esses mundos traz uma grande responsabilidade.

Lyla sentou na borda da fonte, mergulhando uma das mãos na água, sem importar-se com o fato de que o líquido que transbordava e corria em direção aos veios no chão, encharcava suas vestes. O spectu disse:

Quando os portões foram erguidos, um frágil equilíbrio se instaurou entre os três mundos, mas assim como sangramos quando algo nos fere, o todo também sangrou e coisas ruins nasceram disso. Chamem de demônios, se preferirem, mas entre o nosso povo eles são conhecidos como sombras. E assim como os Castir, eles podiam caminhar entre os mundos, contudo só podiam fazê-lo com os portões abertos.

Fitava as águas enquanto falava.

O que Érion deseja é a queda dos Portões de Cazz.

A grã-mestra batia as pontas dos dedos indicadores uma na outra, pensativa. Como tinha previsto durante sua conversa com Maxine, aquelas duas estavam lhe dando muito em que pensar.

A Ordem: O Círculo das ArmasNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ