Adeus

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Um raio caiu próximo ao rio, ao longe, e o vento soprou mais forte. Zarif tentou se afastar, mas a pressão da mão de Virnan aumentou.

— Então?! — Ela indagou.

O spectu emitiu um rosnado baixo, estreitando os olhos. Sentir o toque dela o abalava ao ponto de fazê-lo perder a pose desafiadora brevemente.

— Você não pode, certo? — A guardiã afirmou mais do que perguntou. — Nós nos pertencemos.

Nossa união foi quebrada! — Ele rosnou.

Virnan chegou mais perto dele. O rosto sujo de lama e sangue, exibia uma expressão quase feroz.

— Uma união Castir é eterna!

Ela o soltou, para em seguida juntar as mãos na túnica dele, fazendo-o chegar mais perto e inclinar-se. Sequer sabia de onde tirava forças para manter-se de pé, mas enquanto ele estivesse à sua frente, usaria até a última gota da magia armazenada nas tatuagens para confrontá-lo.

— Você sabe disso! — Continuou. — Não interessa quanto tempo tenha se passado, nem o trato que fez com Érion. Você é meu spectu e eu sou sua mestra! E está chegando a hora de voltar para mim!

Zarif pousou as mãos sobre as dela, encantado com a sua fúria. Era verdade, ainda havia algo unindo-os. Fosse mágico ou apenas sentimental, mesmo que os séculos passassem e ele tivesse uma infinidade de outros mestres, sempre pertenceria àquela mulher.

Endireitou-se, oferecendo a ela um sorriso, no qual se empenhou para demonstrar algum desprezo.

Ao que parece não poderei cumprir as Ordens do meu "mestre". Afinal, ele foi claro ao dizer que só deveria levá-la, quando seus enviados acabassem com você. Visto que o contrário aconteceu, minha missão fracassou. — Retirou as mãos dela da sua túnica e deu de ombros, deslizando o olhar para Voltruf e Bórian, que se aproximavam devagar.

Os dois espíritos aparentavam estar tão desgastados quanto a guardiã e, também, tão feridos quanto. Metros atrás, a ponte levadiça da fortaleza foi baixada e Melina passou sobre ela correndo com a desenvoltura de uma criança. Sobre a muralha, os homens encaravam o grupo envoltos em um silêncio assustador.

— Quem diria que um dia você retornaria para o lado daqueles que a aprisionaram. Já faz algum tempo, Vasti e Haniel.

Recuou alguns passos, enquanto os olhos dos dois espíritos castir, brilhavam com a manifestação dos spectus fundidos a eles.

Esperava não ter que vê-los nunca mais. Nosso último encontro foi bastante desagradável. — Fez uma careta, recordando o dia em que eles fizeram um círculo de armas e o aprisionara junto com Érion por séculos.

Adoraria passar a eternidade sem ter que ver você novamente, Dragão! — Bórian falou, causando surpresa entre as ordenadas.

A voz dele soou ligeiramente feminina, assim como seus traços se tornaram andróginos por alguns instantes, passando a impressão de que era duas pessoas ao mesmo tempo.

— Sinto decepcioná-lo, Lobo. — Zarif provocou, fazendo referência a forma original do spectu de Bórian.

Ele mirou Voltruf intensamente, antes de falar:

— Ao que parece, os spectus têm tanta dificuldade de manter suas promessas quanto seus mestres castir. — Deslizou o olhar para Virnan. — Não foi você, Haniel, quem jurou jamais deixar sua mestra voltar a se aproximar dela?

A Ordem: O Círculo das ArmasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora