O círculo do fogo

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*

— É inútil. — Emya baixou a machadinha que pertencia a irmã mais velha.

Embora pequena, a arma era tão pesada que parecia ser feita de chumbo e isso a fez se sentir fraca. Contudo, era bem ciente do quanto estava cansada e machucada. Naquela altura, até uma pluma lhe pareceria custosa de erguer.

Fitou a pedra no centro da sala, diante da qual se encontrava. Tinha cor âmbar e emitia um brilho suave sempre que a princesa tentava quebrá-la.

Assim que a viu, Emya compreendeu o motivo de Érion não a ter levado consigo para Flyn. O amuleto, — ela se perguntava se poderia realmente ser chamado assim — mais parecia uma coluna preciosa que conectava o chão e o teto da sala. Partes dele se espalhavam pelo lugar como se fossem raízes e ramos petrificados.

Era, ao mesmo tempo, uma visão magnífica e assustadora, ante a sua verdadeira natureza.

— Seria glorioso se pudéssemos destruir esta coisa, Alteza. — Disse o soldado que a acompanhava, após investir contra o amuleto também; a espada dele mostrou-se tão inútil quanto a machadinha. — Entretanto, ao que tudo indica, não é nosso destino...

Ela bufou.

— Eu odeio essa coisa de "destino"! — Declarou. — Eu acreditei que o "destino" era imutável por muito tempo... Acreditei em muitas coisas. Fui tola em relação a maioria delas. Pensei que não havia como salvar a minha irmã do sacrifício para o qual foi eleita e veja onde estamos agora.

Enfiou os dedos nos cabelos bagunçados.

— Nós fazemos nosso destino! — Disse alterada. — E enquanto eu estiver respirando, vou continuar tentando.

Ela voltou a golpear a pedra, tentando não pensar no que poderia estar acontecendo com a irmã no salão ao lado. Obviamente, não acreditou nas palavras de Voltruf, mas compreendia seu intento, assim como entendeu a gama de sentimentos que enxergou nos olhos de Marie. Então, agarrou-se àquela missão como meio honrá-la e ao esposo que sofria andares abaixo daquele piso.

Tinha bastante consciência das suas limitações. Contudo, implorou para todas as forças divinas que lhe dessem a força necessária para continuar.

Quanto mais atacava a pedra, mais conseguia sentir o poder que a arma florinae emanava, contudo, tinha a impressão de que a tucsiana vibrava, destoando da usuária.

Ainda assim, insistiu.

À medida que a certeza da incapacidade de quebrar a pedra se assentou, sua determinação cresceu até se tornar sólida como a rocha que tentava destruir.

Talvez fosse apenas a imaginação de Emya, talvez fosse apenas a força do desejo de proteger sua família e povo, mas em determinado momento ela começou a perceber que a cada novo golpe, a tucsiana tornava-se mais leve e brilhante.

Era como se almejassem a mesma coisa e estivessem se unindo para alcançá-la.

Provavelmente, Emya nunca tentaria encontrar a resposta para o que aconteceu naquela sala. Não por temê-la e, sim, porque naquele breve instante em que a tucsiana brilhou tão forte que quase a cegou, ela finalmente compreendeu o peso do poder e das responsabilidades da irmã e amigas.

Então, a lâmina da machadinha penetrou a pedra.

Não era mais que um arranhão, mas foi o suficiente para que o poder do amuleto jorrasse e Emya foi atirada contra a parede oposta. A sala foi iluminada por uma forte luz vermelha e enquanto tentava ficar de pé, ela esqueceu como respirar, ou melhor, respirar doía tanto que tentou não fazê-lo.

A Ordem: O Círculo das ArmasWhere stories live. Discover now